A primeira
referência ao Chafariz dos Canos data de 1322, quando o
mosteiro de Santa Maria de Alcobaça doou uma soma de
dinheiro a um homem para a construção dos
‘canos da agoa que vem pera a villa’ de Torres
Vedras. A sua construção deve-se ao
patrocínio do rei D. Dinis (1279-1325), como parecem atestar
os representantes da vila e termo de Torres Vedras, Fernam
d’Alvarez e João Gil, no pedido que dirigem, anos
mais tarde, a D. Afonso V, nas Cortes de Lisboa de 1459, registados nos
capítulos especiais: «…Senhor, em esta
vila há edificios de canos por que vem água a um
chafariz que está na dita vila, que os reis que Deus tem,
com ajuda dos moradores dela fizeram». Nesta altura,
já o chafariz dos canos se encontrava em ruínas,
a necessitar de reparação, porque a
água já não chegava à vila
“por bem dos canos que ham mester grande repairo”.
No século XVI, a fonte e os canos conheceriam novo restauro,
de iniciativa da Infante D. Maria, filha de D. Manuel e Senhora de
Torres Vedras, em 1561. Para além da
inscrição, com a referida data, D. Maria
não deixou de exibir o poder que tinha, mandando colocar as
suas armas em cada uma das ameias chanfradas que elevariam, nesta
intervenção, o chafariz.
Mas para a boa conservação do edifício
contribuíam as regulares operações de
limpeza e de pedreiro dos canos e chafariz. Desde pelo menos finais do
século XVI, era notória essa
preocupação da Câmara Municipal,
registada em vereação, permitindo-nos compreender
o seu nome – ‘Chafariz dos Canos’ -,
quando em 6 de Setembro de 1597, ordenaram ‘halimpar os canos
da agoa (o aqueduto) da fonte he chafaris dela, a António
Fernandes, sapateiro, morador na vila, ‘começando
da madre da fonte the o chafaris’, como se diria mais tarde.
Outras obras o chafariz sofreria ao longo dos séculos,
muitas das vezes encoberto pelas obras do aqueduto, das quais aquele
não se poderia individualizar, uma vez que ambos fazem parte
de um só edifício. A primeira
referência ao aqueduto é de 1561, porém
como obra antiga, desconhecendo-se a data da sua
construção, assim como se o chafariz foi
alimentado nos primeiros séculos pela mesma fonte. Em 1680,
o aqueduto encontrava-se em grande ruína, tendo
caído ‘ao chão pelos
alicerces’, no vale do Sisandro, exigindo a sua
reconstrução um recrutamento de braços
excepcional.
Nos séculos XVIII e XIX, o chafariz dos canos foi alvo de
novas obras, passando a ter dois tanques: o superior, onde a
água corria por duas bicas, para uso das pessoas, e o
inferior, onde a água caía, pela boca de dois
golfinhos esculpidos em pedra, para uso dos animais. Este tanque foi
feito de novo em 1831, por mandado do então Corregedor da
Comarca Inácio Pedro Quintela Emaús, tendo em
volta um conjunto de marcos de cantaria de modo a impedirem a
aproximação de carros. Em 2012, foi restaurado
pelo município, sendo-lhe devolvida a dignidade de outrora.
Texto de Carlos Guardado da Silva

O chafariz dos canos, situado
no largo Infante D. Henrique, é monumento nacional desde 16
de Junho de 1910. No passado este chafariz era alimentado pelas
águas conduzidas pelo aqueduto de Torres Vedras. Monumento
de características góticas, embora conserve os
merlões chanfrados do século XVI e as bicas em
cano do século XVIII. O seu aspecto é um
pavilhão semicircular de cinco faces, separadas por colunas
adossadas na caixa da muraria e com as armas de Portugal. O interior
é de abóbada de cruzaria, com grossas nervuras
que assentam sobre mísulas cónicas.
Ainda no princípio do século existia um tanque de
água em frente ao chafariz, feito em 1831, “onde
pela boca de dois golfinhos esculpidos em bôa pedra
cáe a agua para uso de animais“