Eram sete horas da manhã. Almirante Rickover, de seu nome Hyman George Rickover ou simplesmente Ric que era como lhe chamavam os mais próximos, tinha acordado como todos os dias: cedo, no seu aconchegante quarto e com aquela sistemática pergunta que não lhe saía da cabeça. Para que é que era aquilo tudo? Para que é que estava ali a testar mais uma vez o submarino que sobreviveu a 5000 ataques simulados em exercícios? Só para os EUA dizerem que tinham um que conseguia atravessar as calotes polares do Ártico? Por vezes o objectivo da operação na qual estava inserido, a Operação Sunshine, causava-lhe uma mistura de sensações que era incapaz de processar correctamente.
A verdade é que ia de qualquer forma na direção norte, ao largo de Portugal, e a caminho do Polo. Neste contexto da Guerra Fria, onde parte do mundo estava envolto no clima de tensão entre batalhas terrestres e marítimas, gostava de ocupar a sua cabeça com coisas mais agradáveis. Ah, como era bom recordar da época da sua juventude, em que devorava com o olhar o seu livro de Júlio Verne preferido: Vinte Mil Léguas Submarinas. Acompanhava de perto todas as aventuras e desventuras do Capitão Nemo e o seu submarino Nautilus. Isto tudo sem suspeitar que anos mais tarde iria ter o privilégio de comandar um. Desta vez robusto e com a tecnologia mais inovadora até ali inventada, pois a energia necessária para o seu movimento e lançamento de torpedos era devido à propulsão nuclear. E logo hoje, após consultar o calendário, constatou que fazia exatamente três anos, seis meses e doze dias desde que foi exclamada a célebre frase: "Underway on Nuclear Power".
Devido à derrota das forças de Hitler, a Segunda Guerra Mundial tinha acabado, sentia-se agora mais seguro. Já não havia U-Boots nas águas do Atlântico prontos a atacar, já não havia bombardeiros a sobrevoar aquela zona. Siegfried Gall, o intrometido desprezível como os americanos gostavam de lhe chamar, tinha morrido um ano depois de estragar os planos da ocupação dos Açores e fazer explodir com os seus comandos uma frota inteira de Aliados.
Enquanto Rickover cumpria a sua rotina e via se estava tudo em ordem, lá na Casa das Máquinas e depois supervisionar o radar que indicava a exata localização da cauda do Nautilus, foi abordado por dois engenheiros. Há meia hora atrás segundo estes, o submarino tinha interceptado uma estranha mensagem que acabava em - --- .--. ... . -.-. .-. . - e possuia um monte de letras desordenadas. Era o sinal que aguardava desde o dia anterior: olhou para o relógio, eram 8:15h, para o radar, estavam em N 41° 39.200 W 008° 50.253, e para o calendário. Correu para a zona do reator nuclear. Bem sabia que a maquineta da NSA, a Pollux, que levantara não tinha sido em vão.