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Elucidando I: Cortina da Cidade Multi-cache

Hidden : 6/22/2014
Difficulty:
2 out of 5
Terrain:
3 out of 5

Size: Size:   small (small)

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Geocache Description:


Tradução:

 

Esta é a primeira de uma série de geocaches que pretendo publicar, relacionadas com os temas do "Elucidário Madeirense" que considerei mais interessantes (e que, necessariamente, melhor se poderiam adaptar a este formidável hobbie denominado por geocaching).

Esta obra de cunho enciclopédico sobre o Arquipélago da Madeira, publicada em 1921, no âmbito das comemorações do quinto centenário do seu descobrimento, sob coordenação do padre Fernando Augusto da Silva (1863-1949), não obstante da sua antiguidade, permanece como uma referência essencial para o conhecimento do património material e imaterial madeirense.

Com estas geocaches, pretendo divulgar alguns factos históricos da Madeira e costumes da sua população. Tendo por objectivo, segundo o autor, "escrever um livro que não somente satisfizesse as necessidades das classes populares, para as quais era especialmente destinado, mas que também fosse de proveitosa consulta para as pessoas cultas", esta enciclopédia destaca-se pela peculiar linguagem utilizada, onde, intencionalmente ou não, e não raras vezes, o sarcasmo, a ironia e o humor se misturam, algo surpreendente numa compilação desta natureza, diga-se de passagem. Esta particularidade, conjugada com os relatos históricos propriamente ditos, proporcionam uma leitura simplesmente "deliciosa", na minha modesta opinião, claro!

O texto que se segue é uma reprodução integral do Elucidário.

CORTINA DA CIDADE

 

Assim se denominavam as muralhas que protegiam o Funchal contra qualquer assalto de inimigos, tanto pelo lado de terra como pelo do mar. Estas muralhas estendiam-se pelo lado de leste desde o Pelourinho até a Pena, seguindo a margem direita da Ribeira de João Gomes; pelo de oeste desde a foz da Ribeira de S. João (antiga Ribeira Grande) até a rocha do Pico dos Frias, seguindo a margem esquerda da mesma ribeira; e pelo do sul desde a foz da Ribeira de S. João e á fortaleza de S. Tiago.

A cortina da cidade começou, segundo parece, a ser construída no reinado de D. Sebastião, mas no regimento para as fortificações que este monarca deu á Madeira, não se fala nas muralhas para leste da Ribeira de João Gomes. Estas muralhas foram construídas durante o dominio castelhano, tendo Filipe III, por alvará expedido em 1618, aplicado a essa obra, que só ficou concluida em 1637, valiosos meios pecuniários.

Segundo uma inscrição que existe na praça e armas do Castelo de S. João, do Pico, e que o Dr. Azevedo transcreveu a pag. 625 das notas ás Saudades da Terra, quasi tôda a cortina que pega com o dito castelo foi construida pelo governador Luiz de Miranda Henriques, que esteve nesta ilha desde 1636 a 1640. Esta parte da cortina estava indicada, porém, no regimento de D. Sebastião, como necessaria para a defesa terrestre da cidade.

João da Costa e Brito, governador geral do arquipelago desde 1680 até 1684, parece que melhorou as muralhas da cidade, mas vê-se de uma inscrição que existia no portão, agora demolido dos Varadouros, e que o Dr. Azevedo também transcreveu a pag. 628 da referida obra, que as ditas muralhas só ficaram concluidas em 1689, nos tempos do governador D. Lourenço de Almeida.

Há uma carta do duque D. Manuel, datada de 21 de Junho de 1493, em que mandava fazer cêrca e muros na vila do Funchal, mas 9 de Janeiro de 1494 apareceu uma carta regia revogando aquela ordem e mandando se fizessem apenas alguns baluartes e tapassem alguns portais para a boa defesa e guarda da ilha. Depois disto, veio á Madeira Vicente Sodré, por ordem do mesmo duque, tratar da referida cêrca e muros, mas como diz o Dr. Azevedo, foram nulos os resultados desta comissão, pois que a ilha só teve fortificações depois que o poder monarquico nela se consolidou, pelas reformas manuelinas.

O forte de S. Filipe, o reduto de Santo Antonio da Alfandega, a fortaleza de S. Lourenço e a bataria das Fontes ficavam dentro do antigo recinto murado, tendo, porém, tôdas estas fortificações, á excepção da de S. Lourenço, sido levantadas depois da construção dos muros. “O reducto da Alfandega, diz o Dr. Azevedo, foi a primeira excrecencia na cinta de muralhas do Funchal; foi o primeiro golpe no sistema de circunvalação, e o primeiro passo intencional no de defeza maritima, firmado no alcance e cruzamento dos canhões”.

Em 1557 lançou o govêrno a contribuição de 7:000 cruzados sôbre as fazendas da capitania do Funchal, para as obras de fortificação; em 1576 a de 100 000 cruzados, também para as mesmas obras; e em 1617 exigiu o govêrno o pagamento da quantia que preciso fôsse, para os muros e mais obras militares de que necessitava a Madeira. Antes disso, em 1493, fôra imposta á ilha uma contribuição de guerra para a construção da cerca e muros da vila do Funchal, contribuição que ficou sem efeito por essa obra não ter sido executada, em virtude da carta regia de 9 de Janeiro de 1494, a que atrás nos referimos.

Da antiga cortina da cidade só estão de pé alguns restos mais ou menos ocultos pela casaria, tendo desaparecido também as portas ou portões que existiam na mesma cortina. O redente da entrada da cidade e as muralhas junto do actual Mercado de S. Pedro e entre a Fortaleza e o forte das Fontes, desapareceram em 1839; em 1888 desapareceu a bombardeira perto do antigo cemiterio britanico, ao largo do Ribeiro Real; em 20 de Setembro de 1897 começou a ser demolido o lanço da cortina da cidade contiguo ao forte de S. Pedro, ao norte da antiga Praça Academica; e finalmente em Maio de 1911 foi suprimida a parte da muralha que existia junto da capela dos Varadouros. Em virtude de representações dirigidas ao Govêrno em Agôsto de 1895 e Fevereiro de 1896, possue a Camara agora o lanço das antigas muralhas, que se vê junto do sitio onde desemboca a Avenida de João de Deus, e em 29 de Maio de 1914 resolveu a mesma corporação adquirir a parte da cortina da cidade necessaria ao prolongamento do Largo da Sé até á praia, visto estar para isso autorizada por uma nota do Ministerio da Guerra. A demolição desta parte da cortina da cidade começou em Março de 1920 para a abertura da Avenida Antonio José de Almeida. Em 15 de Outubro de 1896 mandou a Camara suspender a demolição da parte da cortina da cidade que margina a Rua Pimenta de Aguiar, por causa de uma reclamação do chefe da secção de engenharia nesta ilha, estando ainda hoje de pé essa muralha perfeitamente inutil, mas á qual o referido funcionario atribuíu segundo cremos, importancia militar.

Das antigas portas ou portões da cortina da cidade, só existem hoje dois, que são o da Alfandega e o que fica proximo á fortaleza de S. Tiago, mas, afora estes, houve ainda os seguintes, que foram demolidos para melhoramento da cidade: o de Nossa Senhora do Calhau, entre o forte de S. Pedro e o Pelourinho, quasi em frente da rua da Boa Viagem, que foi demolido em 1836, quando se começou a Praça Academica; o da rua do Sabão, demolido no mesmo ano; o da Saúde, perto da antiga Casa da Saúde ou da Associação Comercial, demolido em 1839; o de S. Lazaro, no ponto em que a antiga Rua dos Aranhas comunica com a Rua da Ponte de S. Lazaro, demolido em 1904; o de S. Paulo, junto á capela do mesmo nome, demolido em 1839; o da Carreira, junto da Rua Pimenta de Aguiar, e o do Pico, na Rua das Cruzes ou de João Joaquim de Freitas, ambos demolidos em 1865; e o dos Varadouros, demolido em 1911.

Este ultimo portão, que era antes de 1839 a entrada principal da cidade, recomendava-se pela elegancia da sua arquitectura, tendo as pedras de que era formado sido numeradas na ocasião da demolição, por ordem do engenheiro municipal sr. Anibal Augusto Trigo, a fim da obra poder ser facilmente reconstituída quando se trate um dia de criar um museu de antiguidades madeirenses.

No portão sôbre o qual se viam as armas da Camara, lia-se a inscriçao latina seguinte, a que atrás nos referimos: Perfecta haec varii praefecti moenia frustra “praeterito cupiunt tempore quisque suo “sed Domino Laurento ea est servata voluptas Dalmada qui istud fine coronat opus “anno“ 1689.

Apesar da cortina da cidade não ter de há muito importancia alguma militar, não foi sem dificuldade que a Camara obteve do Ministerio da Guerra a necessaria licença para demolir alguns lanços dela. Sem a intervenção de altas influencias politicas, talvez alguns melhoramentos que dependiam da supressão dessa cortina estivessem ainda por executar, tal era a importancia que ainda não há muitos anos se ligava naquele Ministerio á conservação de um sistema de fortificações, que só servia para atestar que a defesa e guarda da ilha não eram outrora, como são hoje, assunto descurado pelos governantes.

 


A MULTI-CACHE

 

Embora o tema do Elucidário atrás transcrito se debruce essencialmente sobre a muralha de protecção da cidade do Funchal, decidi incluir nesta multi-cache não só os (poucos) vestígios ainda existentes da mesma, bem como os fortes/fortalezas que ainda permanecem de pé, partes integrantes do sistema defensivo da capital madeirense, construído desde o século XVI e reforçado até ao início do século passado.

Tive a preocupação de colocar as stages em locais de acesso público permanente (24 horas por dia). No entanto, aconselho vivamente a visita aos sítios abertos ao público, designadamente a Fortaleza de São Tiago, o Forte de São José, a Fortaleza de São João Baptista do Pico, a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição e a Fortaleza-Palácio de São Lourenço.

Aconselho também que visite as stages pela ordem publicada.

No final da listing existe um geochecker, onde poderá confirmar a sua solução relativa à stage final. 

Ali, peço-lhe que seja discreto. E tenha o cuidado em deixar tudo como encontrou ou até melhor, se possível! Obrigado!

Nota: para compreender a localização do container é importante que leia a observação que se encontra dentro do mesmo.

 

Stage 1: Fortaleza de São João Baptista do Pico

 

A Fortaleza de São João Baptista do Pico (popularmente referida apenas como Fortaleza do Pico) foi erguida no contexto da Dinastia Filipina, em posição dominante sobre o Pico dos Frias, como parte integrante do sistema defensivo da cidade do Funchal contra os ataques de corsários e piratas, frequentes nesta região do oceano Atlântico à época.

Padrasto à cidade do Funchal e à própria Fortaleza de São Lourenço, o Pico dos Frias e a nascente de água que ali existia havia sido adquirido às freiras de Santa Clara pela Companhia de Jesus, que ali instalara uma pequena residência de recreio, para além de terem canalizado as águas da nascente para o seu Colégio no Funchal. Desde 1590 existia um projeto de Mateus Fernandes para uma fortificação no Pico, mas devido à resistência dos padres da Companhia, o mesmo não havia se materializado.

Os registos mais antigos acerca da sua construção datam de 1600, época em que Cristóvão Falcão de Sousa foi nomeado Governador para a Madeira. Em finais de 1601, enviou a Lisboa o Sargento-mor do Funchal, Roque Borges de Sousa, com uma planta da nova fortificação. Com o regresso do Sargento-mor ao Funchal tiveram início as obras, então somente em madeira, estando guarnecida já em inícios de 1602, do que muito se queixaram os Jesuítas então a Lisboa.

O "Elucidário Madeirense" refere que o seu primeiro Condestável foi Francisco de Sousa, nomeado em 1624, com o ordenado de 24$ anuais e duas pipas de vinho. Nos anos seguintes, a fortaleza foi sendo passada a pedra e cal, sob a orientação de Jerónimo Jorge. Sob a invocação de São Filipe, as suas obras estariam concluídas já em 1632, de acordo como uma inscrição epigráfica sobre o Portão de Armas. Os trabalhos prosseguiram até 1640, de acordo com outra inscrição, que transcreve:

"O Governador Luiz de Miranda Henriques Pinto fez o terço do baluarte [de] S. Paulo e quasi toda a cortina que pega ao baluarte [de] S. João e a cisterna com seus bocais e corpo da guarda rotos na rocha e o revelim da porta e as quatro casas dos armazéns da primeira praça, rotos na rocha e o princípio dos outros armazéns e terraplenos desta primeira praça."

A cisterna apresenta a data de 1639 no murete, datando também da gestão daquele governante.

Após a Restauração Portuguesa, em 1642 era tenente da fortaleza Francisco de Mesa, que posteriormente alcançaria o posto de Sargento-mor da Madeira. Ao final desse ano, o tenente recebeu para azeite e lenha da casa da guarda.

No contexto da Guerra da Restauração foram concluídos os baluartes, assim como a Capela de São João Baptista, que rebatizou a praça. Data deste período iconografia de autoria de Bartolomeu João, que a retrata em 1654 apenas com as muralhas e com as edificações interiores ainda em obras. Esta etapa construtiva terá sido a mais complexa, nomeadamente no ângulo dos baluartes de São Paulo e de São João, de altura monumental.

Ao longo do século XVIII foi objecto de outras alterações, tendo sido nomeado em 1751 como seu comandante o Capitão-cabo Rodrigo da Costa Almeida. Neste período, as suas dependências funcionaram como armazém de pólvora e como prisão. De acordo com o "Elucidário", em 1770 aqui foram recolhidos os rapazes vadios do Porto Santo para aprenderem ofícios nas oficinas da fortaleza, nas modalidades de latoaria, ferraria, folha-de-flandres, armaria e coronharia. A mesma fonte complementa que estas oficinas conheceram grande incremento em 1802, sob a fiscalização do sargento-mor, ali tendo sido confeccionadas três espingardas com coronhas de diferentes madeiras da ilha, para instrução de Suas Altezas Reais.

Quando do grande aluvião de 1803 todas as famílias desabrigadas foram recolhidas à Fortaleza do Pico, que se encheu de barracas de campanha, armadas nas esplanadas.

No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), em 1833 a fortaleza passou a denominar-se Forte de São Miguel. Com o final do conflito e a vitória dos Liberais, em 1834 retomou a sua antiga designação.

Aquando da visita de Carlos I de Portugal e sua esposa à Ilha da Madeira (1901), a antiga artilharia do forte salvou em sua homenagem, causando os tiros danos às vidraças das habitações entretanto construídas nas suas vizinhanças.

Em meados do século XX o antigo forte passou para a esfera da Marinha Portuguesa para ali ser instalado o Posto Rádio Telegráfico do Funchal, que posteriormente passou a se designar Estação Rádio Telegráfica Naval do Funchal. Com as inúmeras antenas então levantadas, a população passou a designá-la por "Pico Rádio".

Declarada Imóvel de Interesse Público em 1943, actualmente encontra-se guarnecida por militares da Armada Portuguesa, apresentando uma sala-museu que pode ser visitada diariamente.

O recinto da fortaleza, em forma de cidadela a uma altitude de 111 metros acima do nível do mar, ocupa uma área de 2.750 metros quadrados. Em seu interior destaca-se a grande cisterna escavada na rocha e em abóbada sobre a bateria principal, com as dimensões de 18 metros de comprimento, 6 metros de largura e 10 metros de altura até ao fecho.

Do alto dos seus muros, os visitantes podem desfrutar de um dos melhores panoramas da cidade e porto do Funchal.

Em 26 de Junho de 2014, o Governo da República decidiu ceder a fortaleza, a título definitivo, para a Região Autónoma da Madeira, deixando o imóvel de pertencer ao domínio público militar.

Stage 4: edifício na esquina da Rua dos Aranhas

 

De acordo com a planta de 1803 da cidade do Funchal, este edifício terá feito parte da sua muralha defensiva em princípios do século XVII.

No ano de 2010, a Câmara Municipal do Funchal deliberou atribuir o "Prémio Património – Recuperação" às obras de renovação deste imóvel.

Stage 5: Forte de São José

 

De acordo com a historiografia tradicional, foi no Oeste de uma extensa baía, onde existiam dois ilhéus, que João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, descobridores da Madeira (1419), procuraram abrigo antes de desembarcar na ilha coberta por densa vegetação. Por essa razão, teriam inicialmente desembarcado no menor dos ilhéus, onde ergueram um abrigo provisório, tendo para esse fim talhado na rocha alguns degraus, os quais subsistiram até aos nossos dias. Do mesmo modo, ainda pode ser observado, numa das extremidades da rocha, o triângulo destinado à amarração das suas embarcações. Alguns autores entendem, por essa razão, que este ilhéu constitui a mais antiga fortificação do arquipélago.

Com a colonização, o Funchal tornou-se o principal porto do arquipélago, movimentando as mercadorias essenciais à economia da ilha, tais como, por exemplo, o açúcar (séculos XV, XVI e XVII), o vinho (século XVIII) e, posteriormente, o carvão (séculos XIX e XX). Nesse contexto, a fortificação provisória deu lugar a outra, de carácter permanente, ampliada e reforçada ao longo dos séculos, complementando a defesa proporcionada pelo vizinho Forte de Nossa Senhora da Conceição.

O Forte de São José (também conhecido por Forte do Ilhéu, Forte da Pontinha ou Bateria da Pontinha) foi erguido no contexto das obras do porto do Funchal, em meados do século XVIII, com a chegada do engenheiro Francesco Tosi Colombina, responsável ainda pela construção de uma muralha de acostagem até aos arrifes abaixo do Forte da Penha de França.

Nova Provisão-Régia, esta datada de 1776, determinou a ligação do ilhéu à ilha. Concluída, recebeu o nome do monarca que determinou a sua execução. A partir dessa ligação, o primitivo Forte de São José passou a chamar-se também Forte ou Bateria da Pontinha, por estar situado na extremidade do porto. Esta ligação é visitável em nossos dias pelo Caminho Real, um dos mais antigos da ilha, preservados.

Em 1888 o governo decidiu prolongar o porto do Funchal até ao "Ilhéu Grande", onde se ergue o Forte de Nossa Senhora da Conceição, passando o Forte de São José, no ilhéu menor, a segundo plano.

As dependências do forte foram arrendadas por seis anos, em contrato assinado a 7 de março de 1889, à empresa Blandy Brother's, para a instalação, em seu terrapleno, de um guindaste a vapor, para a carga e descarga de mercadorias no porto do Funchal. Os restos da sua maquinaria encontram-se actualmente no fundo do mar.

Sem recursos, em Agosto de 1903, o governo colocou o forte à venda em hasta pública, para, com o dinheiro assim arrecadado, vir a concluir e recuperar, no "Ilhéu Grande", o Forte de Nossa Senhora da Conceição. O "Elucidário Madeirense" refere: "…por incúria dos madeirenses destruíram o Forte de São José para construir o Forte de Nossa Senhora da Conceição, deixando este forte completamente despedaçado e sem as suas paredes exteriores…". O forte foi arrematado, a 3 de Outubro do mesmo ano por um particular, Cândido Henriques de Freitas, pelo montante de 200$000 réis.

Posteriormente, em 1966, a empresa Blandy Brother's cedeu o terrapleno do forte para a instalação de um anúncio luminoso rotativo da GAZCIDLA com a respectiva chama, o maior do seu tipo na Europa, à época.

Em fins da década de 90 do século passado os seus proprietários colocaram o imóvel à venda em diversas imobiliárias, até que, em Outubro de 2000, o antigo forte foi adquirido pelo professor Renato Barros, que iniciou uma campanha para a pesquisa, recuperação, revalorização e requalificação do património representado pelo forte, inclusive a sua classificação pelas autoridades competentes, a nível municipal e nacional.

Em Setembro de 2010 foi noticiado que o actual proprietário solicitou ao Estado Português o reconhecimento daquele território como "Estado soberano e independente".

Considera que aquele auto-proclamado "Principado da Pontinha preenche todos os requisitos exigidos pelo Direito Internacional Público para ser reconhecido como um Estado soberano e independente", visto que possui "território, domínio sobre este, povo e a respectiva Carta Monárquica Constitucional". Invoca que o Direito Internacional Público e o Estado português reconhecem o "direito à autodeterminação dos povos".

Stage 6: Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição

 

A ideia para uma fortificação no "Ilhéu Grande" foi originalmente proposta por Diogo Cabral em 1553, em carta endereçada a João III de Portugal, expondo as repetidas investidas de corsários à Madeira, referindo: "Neste porto do Funchal está um ilhéu, de altura de trinta braças (60 metros) e mais. Nele se houvera de fazer a fortaleza, porque assegura o porto, sem se nele poder surtir. Com pouca despesa se fará. Dez homens a defenderiam a todo o poder do Turco. É de rocha talhada, sem ter mais de uma subida, e poucos a podem trepar. E de terra, [dista] quanto uma boa besta possa lançar uma seta. E ao pé, terá seis braças de fundo."

Face ao aumento do movimento no porto do Funchal em meados do século XVII, tornou-se patente a necessidade de reforço da sua fiscalização e segurança. As primeiras obras efectivas datam do contexto da Guerra da Restauração, conforme referida numa ordem do Governador, datada de 1642.

Após a construção do Reduto da Alfândega, os moradores da cidade, aproveitando a chegada do novo Governador, Bartolomeu Vasconcelos da Cunha (1651), solicitaram a construção efectiva de uma fortificação no denominado "Ilhéu Grande". O pedido foi formalizado a Lisboa através de cartas do Provedor da Fazenda, Francisco de Andrada, e do Governador, informando que as obras nada custariam à Fazenda Real, de vez que seriam executadas pela imposição aos moradores para reparação e conservação das fortificações. Desse modo, em 10 de Fevereiro de 1652 o soberano concedeu a autorização, com base na mão-de-obra "…da gente da terra, por companhias ou esquadras…", no fornecimento do material também por parte dos moradores ("…para a alvenaria os ditos moradores se ajustarião convosco, de sorte que acudirião à obra com as [suas] pessoas e fazendas…") e para a guarnição, com o pessoal da Fortaleza de São Lourenço, "…a outra fortaleza que hoje há (…) para se escusarem outros soldados e despesas". A sua traça era bastante diferente da actual, como desenhada por Bartolomeu João em 1654: a iconografia mostra uma fortificação com planta circular, artilhada com seis peças montadas em suas carretas. Ao centro do terrapleno ergue-se isolada a Casa da Guarda, também de planta circular. A comunicação com o exterior era feita por um largo Portão de Armas em cantaria trabalhada, encimado por arco de volta perfeita e com um nicho superior inscrito no arco. Adiante da porta desenvolvia-se um balcão e uma longa escadaria de três lanços estendia-se até ao mar.

O provedor descreveu, em carta de 21 de Abril de 1664, as dificuldades das obras, opinando que em breve a fortaleza estaria quase concluída e que o relativo atraso nas obras devia-se a ter-se dado "…por uma parte dela com quantidade de rocha rija", pelo que "os gastadores" estavam "desbastando sempre" e assim se iria "continuando a romper a dita pedra, até ficar capaz de se de poder obrar com pedra e cal". Prossegue opinando que em breve estaria apta a receber seis peças de artilharia, três de bronze e três de ferro e, quando pronta, "capaz de 12", salientando que as peças a ser instaladas "…haveriam de ser de alcance, e não como as que possui, que são meios-canhões". À época, a fortaleza encontrava-se guarnecida desde 1658, encontrando-se, como referido, artilhada.

A 23 de março de 1670, o provedor, também em carta, volta a informar sobre o andamento das obras: "A fortaleza do ilhéu se começou a fabricar há quatorze anos, pouco mais ou menos. E há doze anos que assistem nela soldados em casa que têm, com 6 peças de artilharia: 3 de bronze e 3 de ferro; com um mastro no meio dela, com um estandarte que dá sinal a esta cidade por que parte aparecem os navios". Na mesma missiva solicita que seja atribuída uma verba de para lenha e azeite para o corpo da guarda do ilhéu, sugerindo que se devia fazer como na de São Lourenço, vindo "um escrito" à Alfândega para que o almoxarife o pudesse pagar. A autorização chegou ainda nesse ano, com data de Agosto. Nesse mesmo ano, "os soldados do presídio da ilha da Madeira", em petição ao Príncipe-regente D. Pedro, solicitaram "que por sua devoção se hião instituindo em uma confraria de Nossa Senhora da Conceição, que serviam com muito zêlo na fortaleza do Ilhéu do Mar, onde metiam suas guardas e faziam vigias". Eram, portando, soldados da Fortaleza de São Lourenço, destacados para o serviço do ilhéu. Na petição narravam como tinham levantado um oratório, mas que este se encontrava "…com grande indecência, sem o devido ornato…". Tinham então intenção de fazer "uma ermida, em parte da mesma fortaleza que não fizesse dano, o que não podiam conseguir por serem pobres e não terem mais que o seu soldo", finalizando por pedir ao futuro soberano a construção da capela, comprometendo-se a arcar com as imagens, retábulo e os demais ornamentos necessários. O Príncipe-regente despachou favoravelmente a petição a 9 de Novembro de 1672, determinando medir o lugar e que "…com o mínimo de despesa possível", se fizesse a construção. Entretanto, a ordem só veio para o Funchal dez anos depois, expedida de Lisboa a 27 de Outubro de 1682 e registada no Funchal a 28 de Janeiro de 1683. Deve ter ficado pronta, com uma cisterna, em 1687, conforme inscrição epigráfica: "Esta igreja e cisterna fez o governador e capitão general Pedro de Lima no ano de 1687". Há notícia de que o seu primeiro capelão foi o padre Manuel de Andrade, com um ordenado de 18$ anuais.

Em 1698 foi nomeado o seu primeiro condestável, Simão Fernandes Forte, quando estava guarnecida por 12 artilheiros com um soldo de 30 réis por dia. Nessa época os pescadores eram obrigados à condução de víveres para o ilhéu sem remuneração alguma. Porém, em casos extremos, se o mar de todo o impedisse, era lançado um cabo a terra para acudir a guarnição isolada.

A fortaleza começou a trabalhar sem depender da de São Lourenço no último quartel do século XVII. Nesse período terá passado a exercer a função de Registo do porto, salvando os navios que entravam e assinalando para terra a sua proveniência. Até essa época, como se depreende dos pagamentos da fortificação de 1673, o movimento das despesas do ilhéu ia essencialmente para os batéis de Brás Moniz, que faziam os transportes de "serviço dos soldados". Com o aumento do movimento do porto, aumentaram as despesas da pólvora, em escalada contínua entre 1675 e 1689. Diante do esforço suplementar dos artilheiros do ilhéu, o soberano concedeu-lhes, em 1691, um suplemento de "meio tostão por dia, na forma como são os soldados pagos do dito castelo de São Lourenço". Em 1692, a fortaleza do ilhéu veio mesmo a ter capelão privativo, lugar em que foi provido o padre José de Andrada.

Em 1771, o sargento-mor Luís de Alincourt projectou a união dos dois ilhéus, o que só ocorreria, entretanto, um século mais tarde.

A fortificação deixou de ficar insulada quando da construção do molhe da Pontinha, que nela entesta. De acordo com o "Elucidário Madeirense", em 1921 contava com uma estação semafórica e um farolim.

Actualmente o forte encontra-se cedido a particulares, para fins de exploração comercial.

Stage 7: Fortaleza-Palácio de São Lourenço

 

Constitui-se num conjunto monumental, originalmente com a dupla função de fortificação e paço, considerado como o melhor e mais imponente exemplar de arquitectura civil e militar do Arquipélago da Madeira. Compreende a Fortaleza de São Lourenço, iniciada na primeira metade do século XVI e concluída à época da Dinastia Filipina, e o Palácio propriamente dito, incluindo os salões do pavimento nobre que datam do último quartel do século XVIII e os jardins interiores.

Na sequência do saque do Funchal de 1566, o novo mestre das Obras Reais na Madeira, Mateus Fernandes, procedeu a ampliação do antigo baluarte. A fortaleza passou a ser defendida por uma muralha de planta rectangular, a Sudeste do qual se erguia o torreão manuelino e a Noroeste um outro torreão junto ao qual teriam entrado os corsários franceses, no fatídico ano de 1566.

Em 1572 o projecto defensivo foi modificado, sendo aumentado para três baluartes. Determinou-se ainda a demolição das casas que lhe eram impedimento e que se cortassem os balcões da frontaria do Calhau, onde haviam de construir-se os muros da cidade rasgados por cinco portas (duas ao sul voltadas para o mar, uma a este e duas a oeste), correndo as muralhas entre as Ribeiras de João Gomes e de São Francisco (actual Ribeira de São João), a entestarem nos morros da Pena e do Pico dos Frias.

Acredita-se que por volta de 1580 estariam concluídos o baluarte Sudoeste, quadrangular, bem como dois baluartes pentagonais a Norte, em posição dominante, cobrindo a cidade.

À época da Dinastia Filipina (1580-1640), a administração do arquipélago da Madeira passa a ser exercida por Governadores Gerais, o primeiro dos quais foi o desembargador João Leitão.

A Fortaleza Velha passou a sediar a força castelhana permanente que guarneceu a ilha, passando o seu paço a abrigar o Governador Militar, D. Agostinho de Herrera, conde de Lanzarote, substituído em 1582 pelo Capitão Juan de Aranda. As obras da fortaleza foram concluídas neste período, sob a direcção do mestre-de-obras reais, Jerónimo Jorge, compreendendo a edificação do baluarte central Norte, semi-pentagonal, no início do século XVII, guarnecendo o Portão de Armas, sob a invocação de São Lourenço. Posteriormente, a imagem (com a data de 1636 (1639?) na sua base) seria colocada num nicho sobre o Portão de Armas -, passando a fortaleza a denominar-se "de São Lourenço" e o baluarte de "do Castanheiro", dada a árvore que veio a crescer na sua esplanada.

O seu perfil castrense foi suavizado com a construção do Palácio do Governador militar da ilha, edifício dotada de uma extensa fachada, objecto de extensa remodelação nos séculos subsequentes.

Após a Restauração da independência Portuguesa (1 de Dezembro de 1640), cuja notícia só foi conhecida oficialmente na Madeira em Janeiro de 1641, sendo formalizada pela aclamação e reconhecimento de D. João IV (1640-1656), foi extinto o presídio castelhano sediado na Fortaleza de São Lourenço, dispersando-se a sua guarnição.

O Palácio seguiu sendo utilizado como residência dos Governadores e Capitães Generais, e, com o advento do Governo Constitucional em 1834, dos Governadores Civis a partir de 1835.

Um incêndio em 1699 destruiu parcialmente a residência do Governador, o que conduziu a uma nova intervenção na área residencial da fortaleza. Acredita-se que date desta época o crescimento do corpo Sul em mais um pavimento, que veio a ser absorvido pela edificação dos salões do andar nobre, de elevado pé-direito, ao final do século XVIII. Foi nesta fase construtiva que a função residencial passou a predominar sobre a função defensiva do conjunto, particularmente com a campanha de obras sob o governo de D. Diogo Pereira Forjaz Coutinho, quando foram edificados os três salões principais, actualmente designados como Sala dos Capitães-Donatários, Salão Nobre ou de Baile e Sala Vermelha, e, posteriormente, a Sala Verde e a galeria que a delimita pelo lado Norte, sobre o jardim interior. O conjunto passou, por essa razão, a ser mais frequentemente denominado como "Palácio" do que como "Fortaleza".

Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, a nova ala edificada no prolongamento do andar nobre sacrificou o baluarte Sudoeste, sobre o qual foi erguida uma nova dependência, actualmente denominada como Sala do Baluarte. Datará da mesma época a formação do jardim interior, que contava com um tanque de água.

No contexto da Guerra Peninsular registaram-se as ocupações britânicas da Madeira:

- A primeira, pelas forças do Coronel William Henry Clinton, de 23 de Julho de 1801 a 27 de Janeiro de 1802, sem interferência directa na administração civil;

- A segunda, entre 1807 e 1814, tendo, a 24 de Dezembro de 1807, o Estado-Maior do Tenente-Governador William Carr Beresford se instalado no Palácio de São Lourenço, então residência do Governador Pedro Fagundes Bacelar d'Antas e Menezes onde, como em todas as fortalezas da ilha, foi hasteada a Bandeira do Reino Unido, sendo posteriormente publicada uma proclamação em que a população foi levada a reconhecer Jorge III do Reino Unido como seu legítimo soberano.

Esta situação manteve-se até à assinatura do Tratado de Restituição da Madeira (Londres, 16 de Março de 1808), cuja cópia chegou à Madeira em finais de Abril. O Palácio de São Lourenço foi então devolvido à administração civil, tendo Beresford seguido para Lisboa em Agosto do mesmo ano. Uma guarnição britânica permaneceu estacionada no arquipélago até Setembro de 1814, quando da assinatura do Tratado de Paz entre a Grã-Bretanha e a França naquele ano.

Aquando da gestão do Governador e Capitão-General Sebastião Xavier Botelho foram introduzidas diversas alterações na estrutura do Palácio, a mais relevante das quais o deslocamento da escadaria exterior de acesso ao andar nobre, até então situada a Sudoeste do pátio interior e dando para a capela ali existente, para o centro desse pátio, no mesmo local onde hoje se encontra a escadaria cuja balaustrada em pedra data da década de 1940.

Finda a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), com a assinatura da Convenção de Évora-Monte (1834), cessou a nomeação de Governadores e Capitães-generais para o arquipélago, sendo criado, inicialmente, o lugar de Prefeito e, em 1835, o de Governador Civil, a par de um Governador Militar.

A separação dos poderes no arquipélago determinou, no Palácio-Fortaleza, em 1836, a separação entre o Quartel do Governador das Armas, a Leste, e o Palácio, residência oficial do Governador Civil, a Oeste, compreendendo as Salas Nobres, os gabinetes, a área residencial, os jardins e os baluartes Sudoeste, Nordeste e Norte. Essa divisão, no essencial, corresponde na actualidade, ao Comando Operacional da Zona Militar da Madeira e à residência oficial do Ministro da República.

Das alterações introduzidas no conjunto no período, destacam-se o desaparecimento da Capela datada do início do século XVII, bem como o arranjo dos jardins do Palácio durante a gestão de José Silvestre Ribeiro.

O ajardinamento do baluarte Noroeste terá sido empreendido por iniciativa do mesmo Governador, estando referido no levantamento efectuado por António Pedro d'Azevedo em 1860, pelo qual se observa que o jardim do piso térreo se mantém com configuração similar à de 1805, com o respectivo tanque, o qual viria a ser tapado após nele ter se afogado um filho daquele Governador.

Nova intervenção no Palácio teve lugar a partir de 1878, quando se procedeu a uniformização do alçado Sul, segundo o modelo que havia norteado, no início do século, a edificação da sala sobre o Baluarte Sudoeste. Entretanto, por tal iniciativa não ter obtido a concordância do então Governador Militar, a parte do edifício que lhe estava afecta não foi modificada, assim se mantendo até ao final da década de 1930.

Com a proclamação da República em Portugal (5 de outubro de 1910), o conjunto entrou em progressiva decadência, que perdurou até ao final da década de 1930. Em 1931, no contexto da chamada Revolta da Madeira, a Junta Revolucionária constituída a 4 de Abril, chefiada pelo general Sousa Dias, instalou-se no Palácio de São Lourenço, que então serviu também como prisão, até à transferência para o Lazareto, a 27 de Abril, dos representantes da Ditadura. Como sede da Junta Revolucionária, foi no Palácio que se organizou a defesa da ilha contra as forças enviadas pelo Governo, até à rendição, a 1 de Maio.

No período compreendido entre 1938 e 1941 regista-se uma nova campanha de obras no Palácio-Fortaleza, sob a gestão do Governador José Nosolini Pinto Leão, reflectindo o conceito de monumentalidade subjacente à política cultural e patrimonial do Estado Novo, com os recursos de um subsídio extraordinário que lhe foi atribuído pelo Governo. À época, as áreas internas do palácio, os jardins fronteiros, certas cortinas e torreões defensivos foram objecto de obras de preservação e beneficiação, tendo sido unificada a aparência da fachada Sul do edifício e destinando-se as suas dependências a albergar as chefias militares da Madeira.

Em 18 de Agosto de 1943 obteve a classificação de Monumento Nacional (pelo Decreto n.º 32973).

Desde a instituição do sistema autonómico em 1976, o sector do Palácio é utilizado como residência oficial do Ministro da República para a Região Autónoma da Madeira.

Pela sua volumetria e extensão, impõe-se a fachada do Palácio de São Lourenço, ritmada pelas suas numerosas janelas e varandas. A porta principal é obra de aparato, sendo sobrepujada por uma escultura alusiva ao santo padroeiro.

O interior palaciano é majestoso, sendo de mencionar, das numerosas dependências, pelas suas ricas ornamentações galantes, as denominadas salas do "Dossel", "Boule", "Império" ou ainda a sala "Luís XVI". Grande dignidade artística apresenta um retrato de João VI de Portugal, obra realizada em 1819 pelo pintor Joaquim Leonardo da Rocha.

Na parte leste subsiste um torreão circular manuelino marcado pelo brasão de armas deste monarca, obra provavelmente realizada pelo mestre João de Cáceres, engenheiro militar real e responsável pelas defesas do Funchal a partir de 1513.

O Palácio de São Lourenço ainda hoje é "defendido" pelos seus poderosos baluartes filipinos, formados por amplas muralhas com esplanadas e canhoneiras protectoras.

À semelhança do já ocorrido no caso da Fortaleza de São João Baptista do Pico, há muito que o governo madeirense reivindica a posse desta infraestrutura, actualmente pertencente ao domínio público militar.

Stage 8: Portão do Reduto da Alfândega

 

No início do século XVII a Alfândega do Funchal teve francas dificuldades em conseguir encontrar rendimentos para pagar ao clero local e aos militares castelhanos aqui estacionados. Desta situação nasceram questões melindrosas, com o bispo do Funchal a excomungar os oficiais da pagadoria e os soldados a colocarem cerco ao provedor, não o deixando contactar ninguém, receber água ou comida, sem primeiro lhes pagar. Assim, assumindo o bispo D. Jerónimo Fernando, que excomungara os oficiais da Alfândega, o lugar de Governador, determinou a fortificação destas casas, muito provavelmente para obstar a situações como as decorrentes dos cercos dos soldados do presídio castelhano. Foi o próprio Bispo que declarou essas obras numa vereação geral camarária, em 1630, no sentido de tentar um financiamento da Câmara para as restantes obras de fortificação da cidade, intenção que não foi muito bem sucedida.

A situação financeira degradou-se significativamente a partir de 1620 e, principalmente, a partir de 1630, com um quase completo bloqueio naval dos países europeus aos portos filipinos. Disso ressentiu-se a Madeira, totalmente dependente do comércio internacional e, de modo muito específico, quanto ao reabastecimento de trigo.

Com a subida ao trono de Portugal de D. João, Duque de Bragança, ocorreram novamente na Alfândega do Funchal alguns tumultos, tendo então sido demitido o Provedor Manuel Vieira de Andrade. Um ano depois e para investigar os incidentes então ocorridos, deslocou-se ao Funchal o Corregedor Gaspar Mouzinho Barba e o Oficial de Diligências Amaro Godinho Borges. O novo Provedor e Corregedor vinham igualmente com o encargo de levantar o "donativo", importante quantia destinada a fazer face às guerras da aclamação de D. João IV, assim como proceder à sobrecarga da moeda. Para fazer face às despesas das guerras da Aclamação de D. João IV, foi determinada uma sobrecarga no dinheiro corrente em 1642. Para a Alfândega da Madeira vieram então 49 punções destinados a remarcar todo o dinheiro corrente. A desculpa era existir "demasiada bondade na prata", pelo que o dinheiro saía do reino. Assim, por exemplo, as patacas de 400 réis passaram a ser marcadas a 480 réis e as meias patacas de 200 réis, a 240 réis. No entanto, na Alfândega, só se pagavam pelas mesmas, à entrada, o valor inicial. O novo Corregedor, quando começou a trabalhar, constatou irregularidades várias nos impostos, pelo que tentou proceder à sua cobrança, vindo a ser assassinado na Câmara Municipal. Por detrás desta insurreição estava, igualmente, o descontentamento pela desvalorização da moeda.

O Rei enviou então novo Corregedor e Provedor, o Dr. Jorge de Castro Osório, Juiz Desembargador do Porto, que na ilha recebeu a colaboração do Oficial de Diligências Godinho Borges, então na função de Provedor. No entanto, a situação continuava bastante agitada e, a breve trecho, foram ambos envenenados, como refere a Portaria Régia para a viúva do Oficial de Diligências: "mortos com peçonha". O Rei tomou então outras medidas de fundo, enviando um Governador com fortes ligações familiares na ilha: Manuel de Sousa de Mascarenhas.

Em 1644, fazendo referência à necessidade de controlar o contrabando e defender o desembarcadouro das fazendas, o rei D. João IV determinou a construção de uma fortificação nas casas da Alfândega. A portaria determinava que "se fizesse um Reduto que servisse a praia, com respeito à distância que havia de uma a outra fortaleza [São Lourenço e São Filipe] e se abrisse uma porta para o embarque e desembarque das fazendas". O documento referia ainda que todos os embarques e desembarques só se deveriam fazer por essa porta e que, acabadas estas obras, as fazendas que o não fizessem "seriam perdidas para os proprietários". A fortaleza teria sido construída de imediato, conforme o Governador e Provedor mandaram exarar no portal virado à Rua da Alfândega: "Manuel de Sousa Mascarenhas, sendo Governador e Capitão General desta ilha, mandou fazer este Reduto e as portas dele, por ordem de Sua Majestade, no ano de 1644, sendo Provedor da Fazenda Manuel Vieira Cardoso".

Stage 9: Portão dos Varadouros

 

A Porta da Cidade localizada no Largo dos Varadouros é uma reposição da antiga Entrada da Cidade que encerrava a muralha defensiva do Funchal. Esta porta foi mandada construída em 1689 pelo, então, Governador D. Lourenço de Almada, e demolida em 1911.

Na reconstrução, que obedeceu a um estudo histórico, o pórtico foi construído em betão armado, com forras a cantaria da Região, e encimado pelas peças originais: coroa, armas reais e lápide, que se encontravam no Museu Quinta das Cruzes.

Stage 10: Forte de São Filipe

 

O “Forte de São Filipe”, também referido como “Fortaleza Nova da Praça” ou simplesmente “Fortaleza do Pelourinho” foi erguido para complemento da defesa proporcionada pela Fortaleza de São Lourenço e segurança do Porto do Funchal.

As primeiras notícias que envolvem a sua construção referem a tomada de casas para a construção de uma fortaleza já em 1574, junto à ponte de Nossa Senhora do Calhau (ainda existente, embora de maiores dimensões). Entretanto, alguns anos depois ainda não havia certeza de se efetivar a construção, dado que um certo António Álvares, apelidado de "o Nordeste", mandou lavrar testamento em 11 de junho de 1578 legando a sua esposa umas casas em que viviam, observando "(…) que se se desmancharem por causa da fortaleza, o Provedor, com o dinheiro delas, comprará outra propriedade".

As obras da nova fortaleza estavam concluídas e a mesma artilhada em Outubro de 1581. No Verão desse ano, Filipe II de Espanha (1556-1598) determinou ao conde de Lançarote, nas Canárias, que avançasse com cerca de duzentos milicianos, reforçados por artilheiros tudescos de Sevilha, para fazerem face à ameaça representada pelas armadas de António I de Portugal, baseadas no vizinho arquipélago dos Açores, e por entretanto haverem falecido de peste em Almeirim, o capitão do Funchal e seu herdeiro. Essas tropas foram aquarteladas na Fortaleza de São Lourenço e na Fortaleza Nova da Praça, passando esta última a ser comandada pelo capitão Juan de Léon Cabrera, da ilha de Maiorca.

O "Elucidário Madeirense" refere, por outro lado, que a fortificação terá sido erguida durante a Dinastia Filipina, por iniciativa do bispo governador D. Jerónimo Fernando (1619-1650), em 1628, no local onde existiu um grande til, cuja madeira foi empregada na construção de uma nau de guerra castelhana, o que poderá indicar uma remodelação à época.

Após a Restauração da Independência (1640), a Fortaleza Nova da Praça, como foi designada até aos finais do século XVII, foi sempre guarnecida por forças insulares da Madeira e era diante do seu Portão de Armas que se estabeleciam as vigias e as rondas do Funchal, daqui partindo para Santiago e para os Ilhéus, pontos extremos de observação.

Em 1754 era seu Condestável o capitão Roque João Acciaioly. No último quartel do século XIX, perdida a sua função militar, foi vendida pelo Ministério da Guerra, tendo dado lugar a um grande armazém.

De planta retangular, possuía uma bateria aberta pelo lado do mar e entestava pelo lado de terra com o largo do Pelourinho. Primitivamente, antes da guarnição espanhola, possuía quartel para de 15 a 20 homens. Do seu Portão de Armas acedia-se ao terrapleno por um túnel. Unia-se por um pano de muralha à Fortaleza de São Lourenço, pano esse do qual quase nada chegou aos nossos dias.

Recentemente, obras de intervenção nos troços terminais das ribeiras de João Gomes e de Santa Luzia revelaram o Forte de São Filipe. Estes achados arqueológicos serão preservados pelo promotor das mencionadas obras (o Governo Regional da Madeira), tornando-se assim mais uma atração cultural e turística da cidade do Funchal.

Para além da fortaleza, no local foi também encontrada uma estrutura que pertence à primeira muralha defensiva do Funchal, edificada após o ataque corsário francês em 1566 e que fechava toda a frente mar da cidade. 11 metros dessa muralha, retirados devido às obras, encontram-se repostos na zona da Praça da Autonomia (a poucos metros do Forte). A título de curiosidade, refira-se que a reconstrução da muralha encontra-se alinhada com as antigas ruínas localizadas “in situ”.

 

Stage 11: Fortaleza de São Tiago

 

De acordo com o "Elucidário Madeirense", a fortificação foi principiada sob a Dinastia Filipina e, de acordo com inscrição epigráfica sobre o primitivo Portão de Armas, estaria concluída em 1614. O seu primitivo projecto é atribuído a Mateus Fernandes, modificado por Jerónimo Jorge, fortificador régio que o substituiu a partir de 1595.

As suas obras estariam em progresso em 1611, bastante adiantadas em 1614, data que se inscreveu sobre o primitivo Portão de Armas.

As suas obras complementares estariam concluídas por volta de 1637. Conhece-se o seu aspecto inicial através de um desenho de 1654, de autoria de Bartolomeu João, filho de Jerónimo Jorge (falecido em 9 de Dezembro de 1617), que a representa de pequenas dimensões, já com três ordens de baterias artilhadas com quinze peças, fechando pelo lado Leste as muralhas da cidade. As esplanadas médias eram gémeas, comunicando com a esplanada baixa por duas escadarias. À época, existia uma porta que acedia uma escada para o mar.

No século XVIII foi reedificada e ampliada por determinação do governador e capitão-general da Madeira José Correia de Sá, com projecto atribuído ao engenheiro Francesco Tosi Colombina ou ao seu sucessor, Francisco de Alincourt, estando indicada a data de 1767 numa inscrição epigráfica sobre uma das portas. Essas obras conferiram à fortaleza o seu actual aspecto, restando da primitiva construção apenas uma das escadarias que estabelecia comunicação entre a esplanada média e a baixa, onde se encontra a cisterna. Estava guarnecida, em meados do século, por 20 homens.

Ainda durante o século XIX foram iniciadas as obras de construção da Casa do Governador da Fortaleza, que alteraram parcialmente o volume estrutural da mesma, aproximando-o da actual feição.

No alvorecer do século XX, quando da visita de Carlos I de Portugal e sua esposa à Ilha da Madeira (1901), a Fortaleza sofreu alguns melhoramentos. Depois de assistir a uma missa campal no campo D. Carlos (após a Implantação da República Portuguesa renomeado como campo do Almirante Reis), o soberano almoçou na Fortaleza. Para o efeito foi montada uma grande tenda redonda, na parada média, onde ainda hoje, no chão, se podem observar as argolas de ferro que lhe serviram de sustentação. À época, a Fortaleza servia como quartel à Bateria de Artilharia Móvel, que tinha uma secção destacada no Forte do Ilhéu, que então salvava as embarcações que entravam no porto do Funchal.

Em 1921, de acordo com o "Elucidário Madeirense", servia de quartel à Bateria n.° 3 de Artilharia de Montanha.

Em meados do século XX, então desocupada, passou a ser ocupada pela Liga dos Combatentes.

Sofreu remodelações por volta de 1974, quando foi ocupada pela Polícia do Exército, que ali instalou o Esquadrão de Lanceiros do Funchal. Esta unidade permaneceu aquartelada na fortificação até à cedência do imóvel ao Governo Regional da Madeira à data de 18 de Julho de 1992.

Actualmente encontra-se inserida nos limites classificados da "Zona Velha" da cidade, por sua vez classificada como "Monumento de Interesse Regional". Após passar por uma intervenção de restauração, foi requalificada como espaço museológico e aberta ao público em 17 de Julho de 1992, sediando o Museu de Arte Contemporânea do Funchal.

Stages 2, 3, 12 e 13: vestígios da muralha de protecção da cidade do Funchal

 

Com o ataque dos corsários franceses em 1566, a fortificação e a defesa da ilha passaram a merecer, do poder central e dos habitantes do Funchal, o devido interesse.

Com base no Regimento de Fortificação de D. Sebastião, datado de 1572, a cidade foi devidamente cercada de muros.

Por volta do final do século XVI estava praticamente concluída a muralha da cidade do Funchal. Foram três os troços de muralha construídos: frente ao mar e ao longo das Ribeiras de São João e de João Gomes.

Os muros bordeavam as ribeiras, acompanhando o seu traçado e aproveitando o leito como fosso.

No século XIX já tinha desaparecido, quase completamente, toda a muralha ao longo da Ribeira de João Gomes e centro da cidade. Militarmente já não possuía interesse e, para os moradores, era um impedimento para chegarem à ribeira e às suas terras mais ribeirinhas.

São muito poucos os troços que chegaram até aos nossos dias.

Quantas vezes já passou pelos poucos vestígios que ainda restam da muralha de protecção da cidade do Funchal e nem reparou nos mesmos? Alguns encontram-se em sítios até bem movimentados!

Fonte (principal): wikipedia.org


PATRIMÓNIO PERDIDO

 

Por último, deixo alguns registos fotográficos de fortes e baterias entretanto extintos, mas que outrora também pertenceram ao sistema defensivo da cidade do Funchal:

Bombardeira do Campo da Barca ou Bombardeira da Muralha do Morro da Pena

Bateria das Fontes

Forte Novo de São Pedro

Forte da Penha de França

Forte dos Louros


VERIFICAÇÃO DE DADOS:

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Additional Hints (Decrypt)

[PT] Ab trbpurpxre [EN] Va gur trbpurpxre

Decryption Key

A|B|C|D|E|F|G|H|I|J|K|L|M
-------------------------
N|O|P|Q|R|S|T|U|V|W|X|Y|Z

(letter above equals below, and vice versa)