INCÊNDIO DO CHIADO
25 de agosto de 1988, o incêndio começou nos Armazéns Grandella e acabou por devorar mais 17 edifícios. 25 anos depois a zona do Chiado foi reconstruída e é considerada das zonas mais nobres de Lisboa.
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1680 BOMBEIROS No combate às chamas no Chiado estiveram envolvidos 1680 bombeiros, registando-se um morto. O fogo deflagrou pelas 04h30 nos Armazéns Grandela e foi dado como extinto ao meio-dia e meia.
O fogo alastrou rapidamente aos edifícios da Rua do Crucifixo, mas a sua marcha pela Rua do Ouro em direcção ao Rossio foi contida pelo edifício de betão, de construção recente, do Montepio Geral. Cerca das 5h30, o incêndio já se tinha propagado aos Armazéns do Chiado e, com a ajuda do vento, as chamas, alimentadas pelas estruturas de madeira dos edifícios antigos, chegavam à Rua Nova do Almada e trepavam vigorosamente em direcção à Rua Garrett e à encosta do Largo do Carmo.
As condições do combate ao fogo não foram as ideais: houve dificuldade na montagem das escadas Mecânicas (conhecidas por Escadas Magirus) na Rua do Ouro, por causa dos cabos e fios eléctricos.
Às 8h30, as ruas do Carmo, de Santa Justa e Nova do Almada estavam tomadas pelas chamas. O estabelecimento Eduardo Martins, na esquina em frente aos Armazéns do Chiado, ardia e, do outro lado da rua, no prédio onde funcionava a EDP, os computadores rebentavam com um barulho que só era suplantado pelo das explosões das bilhas de gás.
Nesta fase dos acontecimentos, temia-se, acima de tudo, que o fogo chegasse ao paiol do Quartel do Carmo, uma vez que já alastrava pela Calçada do Sacramento. No pensamento de muitos estava ainda o receio de que alastrasse ao Bairro Alto, formado por ruelas estreitas e muitas casas degradadas, onde seria certamente ainda mais difícil combater as chamas do que no Chiado.
Na Rua Ivens, invadida pelo fumo, um bombeiro exausto e sofrendo de intoxicação era evacuado, enquanto os lojistas, que entretanto tinham chegado aos seus locais de trabalho, tentavam salvar o que podiam dos estabelecimentos comerciais.
Pouco antes das 13 horas, tudo mudou. “Chegou o canhão de água do aeroporto. Estacionou na Rua Garrett, quase em frente da Livraria Bertrand, e começou a debitar um jacto de água que chegava ao fundo da rua.
O incêndio do Chiado levou à morte de duas pessoas, um bombeiro de 31 anos, que foi retirado já em estado crítico do edifício da EDP, e um homem de 70, encontrado entre os escombros de um edifício. Causou ferimentos em 73, na sua grande maioria bombeiros. Cerca de vinte edifícios arderam totalmente e duzentas a trezentas pessoas ficaram desalojadas.
Em termos imateriais, as perdas são difíceis de calcular já que, no fogo, desapareceu uma grande parte da memória da cidade elegante do século XIX e inícios do século XX, referenciada na obra de autores como Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão e outros.
Entre os estabelecimentos que faziam parte da vida burguesa de Lisboa e que foram consumidos pelas chamas no dia 25 de Agosto de 1988 contam-se os Armazéns Grandella, fundados em 1894, a charcutaria de luxo Martins & Costa, de 1914, onde se compravam desde frutos exóticos a salmão fumado, o Jerónimo Martins e as suas “delikatessen”, que remonta a 1792, a Casa José Alexandre, de 1833, onde eram entregues as listas para presentes de casamento das classes endinheiradas, a Casa Batalha, de 1635, o estabelecimento mais antigo do país, a Perfumaria da Moda, de 1909, a Pastelaria Ferrari, de 1827, o Último Figurino ou a loja de discos da Valentim de Carvalho – que ardeu totalmente, com todo o seu arquivo histórico.
Nunca foram descobertos os responsáveis por um desastre que ficou nos anais da cidade de Lisboa como um dos piores da sua história.