Sob o ponto de vista paisagístico, o caminho encerra um conjunto de valores naturais e culturais de interesse inestimável.
Ao longo dele iremos contemplando ao fundo, o Rio Zêzere, que corre rápido e cristalino num anfiteatro natural sobre um leito de granito.
Compõe a paisagem, os lameiros, onde nasce o milho e crescem os pastos verdejantes onde se alimentam os rebanhos de ovelhas bordaleiras.
No Verão, o verde dos lameiros cobre-se de pequenas orquídeas selvagens de grande beleza.
É ainda possível visualizar as casas típicas da serra, designadas de “cortes”, casas de pedra com função de apoio à agricultura tradicional, com telhados em colmo e piorno.
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Os primeiros teares criaram-se, em já difusos e incontáveis dias, para a lã que produziam os rebanhos dos Hermínios. O homem trabalhava, então, no seu tugúrio, erguido nas faldas ou a meio da serra. No Inverno, quando os zagais se retiravam das soledades alpestres, os lobos desciam também e vinham rondar, famintos, a porta fechada do homem. A solidão enchia-se dos seus uivos e a neve reflectia a sua temerosa sombra. A serra, porque só a pé ou a cavalo se podia vencer, parecia incomensurável, muito maior do que era, e de todos os seus recantos, de todos os seus picos e refegos brotavam superstições e lendas - histórias que os pegureiros contavam, ao lume, a encher de terror as noites infindas.
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No começo do Verão, antes de demandar os altos da serra, ovelhas e carneiros deixavam, em poder dos donos, a sua capa de Inverno. Lavada por braços possantes, fiada depois, a lã subia, um dia, ao tear. E começava a tecelagem. O homem movia, com os pés, a tosca construção de madeira, enquanto as suas mãos iam operando o milagre de transformar a grosseira matéria em forte tecido. Constituía o acto uma indústria doméstica, que cada qual exercia em seu proveito, pois a serra não dava, nessas recuadas eras, mais do que lã e centeio.
Ferreira de Castro. “A Lã e a Neve”, 1947
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