Filiada agora na matriz do Lavradio (Santa Margarida), a Igreja de Santo André atraía nesta altura (1758) um número considerável de peregrinos, que iam ao lugar em busca de poderes milagrosos de uma imagem de Jesus dos Aflitos, que bastante fama granjeava. Independentemente destas romagens, a festa da Telha continuava a realizar-se no dia do orago da Igreja (30 de Novembro).
Também a edificação de um hospital na Telha, feito à custa de um dos párocos da Igreja de Santo André, ter-se-á devido à existência destas romagens, afirmando o Padre Sacramento e Sousa que o mesmo, embora sem rendimentos, servia «(...) para recolhimento de peregrinos e pobres mendigos (...)».
Para além do lugar da Telha em si, não existia nesta altura nenhum povoamento de monta no espaço da freguesia, se exceptuarmos as quintas. Aparecem, contudo, alguns topónimos referentes a várias zonas agrícolas (o vinho era um dos maiores bens da região), como sejam a índia, a Caravela, os Vales, a Vela, as Cordeiras, etc.
No século XIX assiste-se a uma recuperação da Telha, devido à instalação junto ao rio de uma fábrica de pólvora, cuja edificação em muito se deveu à iniciativa do famoso Padre Himalaya (apodo que lhe adveio da sua elevada estatura, tendo-lhe sido conferido pela troça dos seus colegas de seminário), cujo verdadeiro nome era Manuel António Gomes.
Nasceu este Padre Himalaya em Arcos-de-Valdevez em 1868, tendo vindo a falecer em Viana do Castelo em 1933. Ainda hoje perdura na memória da população de St. André a sua passagem (quase mítica) pela freguesia, e a lembrança das suas fórmulas mágicas de química. [O padre Português Himalaya, inventou em 1904, o Pirelióforo (um gigantesco forno solar com uma lente igualmente impressionante que recebia e transformava a energia solar em eletricidade) que permitia atingir 3500ºC e podia ser utilizado para fundir metais, rochas e para aproveitamento energético. Foi um pioneiro na energia Solar a nivel mundial, tendo inclusivamente chegado a participar na Exposição Universal de St. Louis, nos Estados Unidos (o expoente máximo da sofisticação tecnológica e científica), com o seu Pirelióforo, tendo obtido o 1º prémio. Contudo, apesar do seu enorme êxito na Exposição, o pireliófero não chegou a ser nunca comercializado. O aparelho era demasiado caro para ser usado na Indústria e os seus princípios eram contrários à Economia dominante baseada quase exclusivamente no consumo de petróleo.]
Já em Portugal, Himalaya conseguiu reunir apoios suficientes para criar uma empresa que iniciou a produção de Himalayite (um tipo de explosivo não poluente, fabricado através de produtos de origem vegetal e mineral, económicos e fáceis de obter, da inventiva do Padre Himalaya), em 1911.
São ainda visíveis as ruínas desta fábrica de pólvora, onde se fizeram algumas experiências com a Himalayite. [Reza a lenda de que, numa das suas experiências, a fábrica sofreu uma violenta explosão, tendo ficado completamente em ruínas, no entanto, como por milagre, o Padre Himalaya sobreviveu ao incidente, sem ferimentos de maior.] Este explosivo não teve qualquer utilização bélica em Portugal. Destinou-se exclusivamente ao uso na exploração mineira, florestal e outras atividades económicas.
A Instalação desta fábrica na região deveu-se, mais uma vez, à proximidade estratégica do rio e à facilidade de escoamento através dos barcos carreteiros que cruzavam o Coina.
Nos finais do século XIX foi aqui instalada uma importante indústria de seca do bacalhau, na zona do cabo da praia da Telha, na denominada Azinheira Velha, propriedade que a família Bensaúde adquiriu para montar (em 1891) a referida seca, integrada na empresa da Parceria Geral de Pescarias, sedeada em Lisboa.
Esta centenária seca do bacalhau ocupa a área onde antes se erguiam as instalações do antigo arsenal da marinha, encontrando-se junto dos edifícios administrativos da empresa um canhão que foi retirado do lodo, o que atesta a antiguidade e ocupação daquela zona.
Ainda hoje em actividade, a Parceria Geral de Pescarias da Telha e as áreas envolventes constituem um sempre renovado motivo de interesse para quem visita a actual freguesia de St. André, desfrutando-se da estrada de acesso a estas instalações de uma das mais bonitas panorâmicas de todo o Concelho do Barreiro.
No início do século XX, com a instauração da república em Portugal, os bens da Igreja e Ordens Religiosas sofreram um saque generalizado, devido ao anticlericalismo reinante. A pequena Igreja de St. André da Telha não escapou a essa onda que avassalou o país, e com grande intensidade o Concelho do Barreiro (onde só a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi excepção), tendo sido vendida a particulares, em cujas mãos ainda hoje se encontra.
A sacristia, que era anexa à Igreja, foi transformada em casa de habitação, e o corpo do templo, totalmente reedificado e adulterado, é hoje uma mercearia e um café, subsistindo somente a capela-mor, semi-transformada em cozinha do referido estabelecimento.
Se hoje nos entristece termos perdido tão importante parte no nosso património cultural, tal não deve ser impeditivo de acarinharmos o que ainda nos resta, de tentarmos preservar uma identidade cultural que nos vem a ser legada desde há séculos.
Na história recente de Santo André predomina a memória das antigas quintas que aqui existiam, em redor dos quais se viu surgir novos aglomerados populacionais, engrossados com o constante fluir de gentes que ao Concelho do Barreiro chegavam em busca de melhores condições de trabalho e de vida.
Tal foi o caso da Quinta da Lomba, da Quinta das Canas (famosa pelo seu vinho de marca), da Quinta dos Arcos e do Vale do Romão (que já existia em 1587!).
As constantes migrações demográficas, cujo fluxo para a zona da Telha podemos datar desde que a Parceria Geral de Pescarias abriu as portas como entidade empregadora, determinou um desenvolvimento imparável de um conjunto de lugares, esboçando-se os contornos de uma Comunidade multifacetada que não tardaria a reivindicar o seu reconhecimento.