O conhecimento da existência de ruínas romanas na península de Tróia tem já vários séculos, embora uma pesquisa de carácter sistemático tenha sido apenas levada a cabo nos anos quarenta do século XIX. Foi com esse propósito tão específico que se constituíu a Sociedade Archeologica Luzitana, embora sucessivas vicissitudes a tenham impedido de concretizar os seus principais propósitos, dos quais se destacava, para além da escavação propriamente dita, uma tentativa de musealização do sítio, assim, investigado, ao mesmo tempo que a exposição das peças descobertas num espaço propositadamente adaptado para o efeito na cidade de Setúbal. E nem os esforços envidados pela Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portuguezes, no sentido de se conjugarem interesses e os necessários recursos humanos e materiais indispensáveis à sua execução, conseguiram fazer prosseguir tão importante desiderato para o conhecimento, não apenas da História de uma região e de uma localidade, como, sobretudo, de uma das múltiplas "faces" da ocupação romana em território actualmente português. Situação esta, que seria, no entanto, colmatada já em plena centúria de novecentos.
A actual classificação refere-se à existência de um complexo industrial de salga de peixe, constituído por diversas fábricas com tanques de salga, de diferentes dimensões e revestidos com opus signinum. Além destas estruturas, encontram-se ainda outras construções indiciadoras de uma ocupação humana de carácter contínuo, como no caso de uma área residêncial, à qual se encontra associado um balneário, necrópoles de incineração e inumação, assim como um templo paleo-cristão.
Desde 1988 que se tem promovido a revalorização deste sítio arqueológico, que tem vindo a contemplar a recuperaçao do edifício conhecido por "Palácio", como base de acolhimento do público, mostra museológica, reservas, laboratório e apoio logístico a investigadores.
As Ruínas Romanas de Tróia são um grande complexo de produção de salgas de peixe que foi construído na primeira metade do século I, e ocupado provavelmente até ao século VI, aproveitando a riqueza em peixe do Atlântico e a excelência do sal das margens do Sado.
Situam-se no braço nordeste da actual península de Tróia, que na época romana seria uma ilha. Pensa-se que seria a ilha de Ácala referida por Avieno, escritor latino do século IV, na sua obra Orla Marítima, mas não há dados arqueológicos que o comprovem. Situava-se no território da cidade de Salácia (Alcácer do Sal) e durante vários séculos foi confundida com a cidade de Cetóbriga, que se sabe hoje ser a cidade de Setúbal.
O seu elemento mais característico são as oficinas de salga, com tanques onde se preparariam as conservas e molhos de peixe, entre os quais o famoso garum muito citado pelos autores latinos. Estes produtos, envasados em ânforas fabricadas na margem norte do estuário do Sado, eram levados de barco para Roma e outras regiões do Império Romano.
Tendo-se desenvolvido num povoado importante, as ruínas de Tróia são constituídas por diversos núcleos. Além das oficinas de salga, estão a descoberto umas termas com as habituais salas e tanques para banhos quentes e frios, um núcleo habitacional com casas com rés-do-chão e primeiro andar, designado por Rua da Princesa, uma rota aquaria (roda de água), um mausoléu, necrópoles com diferentes tipos de sepulturas e uma basílica paleocristã com paredes pintadas a fresco.
Classificadas como monumento nacional desde 1910, aquelas ruínas incluem estruturas com cerca de dois mil anos de história.
As Ruínas Romanas de Tróia aparecem na literatura desde o século XVI, e desde essa época são visitadas por estudiosos, antiquários e curiosos. No século XVIII tem lugar a primeira escavação de que há notícia, por iniciativa da Infanta D. Maria Francisca, futura D. Maria I, seguindo-se as investigações de Frei Manuel do Cenáculo. Em meados do século XIX as escavações são retomadas pela Sociedade Arqueológica Lusitana, fundada em Setúbal com o propósito de escavar Tróia.
Nos finais do século XIX e inícios do século XX, são publicados estudos sobre as ruínas de Tróia, com destaque para os de Inácio Marques da Costa e José Leite de Vasconcelos. Em 1948, começa uma longa série de escavações em Tróia dirigidas por Manuel Heleno, Fernando Bandeira Ferreira, Manuel Farinha dos Santos, D. Fernando de Almeida, José Luís de Matos e António Cavaleiro Paixão que terminam na década de 70. No início dos anos 90, trabalhos de escavação e de interpretação realizados por Françoise Mayet e Robert Étienne são publicados no primeiro livro dedicado à Tróia romana.
As Ruínas Romanas de Tróia são um grande complexo de produção de salgas de peixe que foi construído na primeira metade do século I e se desenvolveu numa povoação que foi ocupada provavelmente até ao século VI. Os núcleos arqueológicos abertos à visita são duas grandes oficinas de salga, as termas, o mausoléu, a necrópole do mausoléu e o núcleo residencial da Rua da Princesa. O percurso de visita, instalado em 2010, tem painéis explicativos em sete pontos de observação e sinalética indicativa das alternativas de percurso. A basílica paleocristã só é visitável em visitas guiadas.
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