O pai pode estar presente desde o início, mesmo antes da sua
mulher dar à luz. O homem também sonhou, idealizou e pensou no
bebé
que aí vinha. Pode dizer-se que, do ponto de vista emocional,
o
homem também fica "grávido". Cada vez mais se tem dado ênfase
e
destaque ao papel do pai, quer na gravidez, quer depois do
bebé
nascer. Tem sido uma evolução lenta, mas actualmente podemos
falar
de um novo pai, mais activo e participativo durante a gravidez
da
sua companheira e mesmo depois do parto, por exemplo, no que
respeita ao tipo de alimentação escolhida para o
recém-nascido.
Nas publicações relacionadas com a amamentação, um dos
primeiros
aspectos que pode chamar a nossa atenção é o facto de ser um
tema
no feminino, isto é, dirigido para as mulheres, para as
grávidas,
para as mães.
Deste modo, parece de facto que os pais/homens se encontram
remetidos para um papel pouco interveniente, quase que
afastados
deste assunto tão importante e fulcral para o desenvolvimento
da
criança e que é, afinal, dos dois. A amamentação deverá ser
entendida enquanto assunto de casal parental e não só
unilateralmente. A decisão quanto ao tipo de alimentação
escolhida
para o bebé pode e deve ser tomada a dois, no seio de uma
relação
de casal. O homem, levando em linha de conta a motivação da
mulher
e os conhecimentos que existem sobre as vantagens do
aleitamento
materno para a mãe e para o bebé, deve emitir a sua opinião e
desejo.
É inegável e incontestável o papel preponderante da
mulher/mãe
relativamente a este tema, uma vez que ela é o agente físico,
corporal, deste acto. No entanto a amamentação é influenciada
por
múltiplos aspectos de ordem psicológica e emocional inerentes à
mãe
e que se repercutem no bebé e na relação estabelecida, quer
na
díade (mãe-bebé), quer na tríade (pai-mãe-bebé).
Após o nascimento do bebé, os casais deparam-se com a questão
do
aleitamento materno que, nos dias de hoje e à luz das novas
formas
de estar e sentir já referidas, não é um assunto exclusivo
das
mulheres pois o pai, presente desde o início, pode colaborar
na
amamentação.
O importante papel do pai
Para muitos autores, o período de sensibilidade materna
que
ocorre nos primeiros dias de vida após o nascimento do bebé
inclui
o casal. O pai, enquanto acompanhante próximo da mulher durante
a
gravidez e o parto, fica também sensível ao bebé e estabelece
também uma relação e interacção com o bebé semelhantes às da mãe
no
que concerne a amá-lo, embalá-lo, tocá-lo, segurá-lo,
sorrir-lhe
,etc. Podemos dizer que o pai terá assim três funções face ao
nascimento de um filho: amar a mãe (o que dá um maior sentimento
de
segurança também ao bebé), estar presente e dar apoio emocional
à
mulher/mãe, e apoiar o filho (servindo de suporte, referência
e
modelo ao filho).
O pai pode encorajar e incentivar a sua mulher a dar de
mamar,
participando de várias formas, como por exemplo: estar por
perto,
se for este o seu desejo, ou cuidar de outros filhos, no caso
de
existirem. Por vezes, pode ser fundamental a sua presença de modo
a
apoiar a mulher quando esta se sente insegura ou receosa,
valorizando tranquilamente o seu desempenho.
Um pai também tem dúvidas
Nalguns casos, o recente pai pode sentir-se também ele
inseguro
ou até mesmo com ciúmes do bebé, fazendo a fantasia que está
em
segundo plano no afecto da mulher. Porém, a proximidade e o
diálogo
permitem que estes normais e pequenos contratempos não tomem
proporções indesejáveis. A participação e o envolvimento do pai
no
processo de amamentação pode, por outro lado, proporcionar
uma
maior intimidade entre o casal, fortalecendo a relação amorosa e
o
desenvolvimento harmonioso da tríade (pai-mãe-bebé).
No entanto, quando os pais se sentem intranquilos ou mesmo
receosos, poderão procurar o apoio de um técnico de saúde que
os
ajudará.
A importância e destaque dado ao pai é, entre nós, ainda
muito
recente. Alguns autores referem que só a partir dos anos 60/70
é
que o tema da paternidade começou a ser abordado.
De um modo muito resumido, poderemos dizer que a
importância
atribuída aos sentimentos e emoções no seio da família remontam
aos
finais do século XVII, tendo-se começado nesta altura a
valorizar
os laços emocionais entre os membros da família, nomeadamente
no
que respeitava às crianças e à sua educação.
Um marco importante foi, sem dúvida, a Revolução Industrial,
que
vem desencadear novas alterações na estrutura familiar com
impacto
no papel parental. Nesta altura, os laços económicos
sobrepõem-se
aos emocionais (saída do homem de casa para trabalhar longe) e
vem
contribuir para um afastamento entre pais e filhos e para um
maior
número de separações.
Só mais tarde, no início do século XIX, a família ganha uma
nova
dimensão, em que os laços afectivos, quer entre o casal, quer
entre
pais e filhos, são preponderantes. O surgimento das primeiras
escolas por esta altura foi outro factor que contribuiu para
a
importância dada à criança e ao seu desenvolvimento, começando
as
famílias a ter a preocupação de controlar o número de filhos
para
melhor cuidar deles.
Podemos dizer que, no início do século XX, se valorizava a
satisfação emocional e relacional dentro da família,
assistindo-se
a uma maior tendência no homem para investir na relação com a
esposa e com os filhos.
Contudo, a II Guerra Mundial veio abalar novamente a
estrutura
familiar. A crise económica, e a ausência do pai em casa
contribuíram para um declínio dos valores familiares, onde um
pai,
com poder disciplinador, se tornava necessário no seio da
família.
No pós-guerra, apesar dos governantes de alguns países
tentarem
investir na reabilitação da imagem do homem enquanto pai, as
mudanças bruscas dos anos 60 vieram mais uma vez colocar o
patriarcado em causa.
Simultaneamente, o controlo da procriação por parte da mulher,
com
a descoberta da contracepção e os primeiros movimentos para a
legalização do aborto, contribuíram para a desvalorização do
papel
do homem enquanto pai. Por outro lado, a emancipação da mulher
pôde
permitir ao pai um papel mais participativo e colaborante na
educação dos filhos e na organização da vida doméstica. Nos
finais
dos anos 70, filmes como o inesquecível Kramer contra Kramer
vêm
ilustrar alguma das mudanças na imagem do papel do pai dessa
época.
Actualmente, tem-se acentuado o interesse pelo papel do homem
na
parentalidade, quer pelos técnicos, quer pela população em
geral,
podendo falar-se numa “nova paternidade”. Nesta
nova
perspectiva de paternidade, os ditos “cuidados
maternos” passam a não constituir um domínio exclusivo
das
mulheres, embora as mudanças sejam ainda lentas. Durante
muito
tempo a importância dada ao papel da mulher, nomeadamente durante
a
gravidez e no pós-parto, contribuiu para que a organização
familiar
girasse em torno da mulher, mas hoje assiste-se a uma lenta e
progressiva mudança, em que é notória a importância e
reconhecimento do papel e da função do pai.
No âmbito da Psicologia, da Psicanálise e das Ciências Médias
em
geral, admite-se hoje a existência de uma vivência entre pai e
bebé
mais precoce do que se pensava, e reconheceu-se o impacto que
a
gravidez e a parentalidade têm nos homens.
Caminhamos assim no sentido de uma nova complementaridade
das
funções maternal e paternal, em que o pai assume um papel de
relevo
desde o nascimento do bebé ou até mesmo antes, uma vez que a
função
parental começa efectivamente quando o casal pensa ter um
filho.
Fonte;Maria da Conceição Teixeira
PSICÓLOGA