Museu Contemporâneo
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Todos nós sabemos que a Arte não é a verdade. A Arte é uma mentira
que nos ensina a compreender a verdade, pelo menos aquela que nós,
como homens, somos capazes de compreender.
Picasso
A Arte Contemporânea é a arte da nossa época, do mesmo tempo que
o nosso. Os artistas contemporâneos são os artistas que vivem aqui
e no mundo que nos cerca. Nos dias de hoje, como em todas as etapas
da história da humanidade, os artistas falam-nos do presente.
Inspiram-se na realidade que têm perante os seus olhos para criarem
obras originais. São iguais a nós. Observam, reflectem, percebem,
sentem… Vivem a realidade dia-a-dia e tentam dar-nos conta
dessa realidade através da escultura, pintura,
construções…
Os artistas, tal como os espectadores das suas obras, são seres
genuínos e diferentes. Os artistas criam de acordo com as suas
percepções da realidade, o seu estado de espírito e reflectem toda
a magia da sua criatividade em cada obra de arte que criam. Quem
observa, também transporta consigo a sua sensibilidade. Não há dois
artistas idênticos, e nós, os espectadores, também somos todos
diferentes. Por isso, os artistas contemporâneos dirigem-se a cada
um de nós. Dialogam connosco usando uma forma muito particular de
comunicação e que eles dominam perfeitamente. Nós temos um código
de percepção pessoal que nos permite identificar a mensagem de
acordo com as nossas percepções e as nossas emoções momentâneas.
Cada peça sua, emerge da vontade de provocar uma multiplicidade de
reacções.
Nesta nova forma de diálogo, o artista contemporâneo pretende que
cada um escute a arte de uma maneira muito singular e
pessoal.
Ninguém consegue ficar indiferente a um estilo artístico que retém
no seu germe a intenção de provocar a admiração mas que também
consegue perturbar e, quiçá, irritar as sensibilidades. O seu
propósito primordial é fazer-nos ver as coisas de outra maneira,
provocar em nós sensações que, de outra forma, jamais teríamos
maneiras de as experimentar e sentir.
Os artistas contemporâneos reflectem a mudança própria dos nossos
dias e que acaba por estar presente na diversidade de inovações e
experiências de vanguarda.
Carrazeda de Ansiães, através do seu Museu Internacional de Arte
Contemporânea ao Ar Livre, ganhou a sua aposta num estilo artístico
feito nos nossos dias mas com projecção no futuro. Dito por outras
palavras, cada escultura presente neste museu poderá parecer
estranho aos nossos olhos mas será, certamente, mais compreensível
para os vindouros.
A matéria-prima escolhida foi o granito, riqueza identitária deste
concelho, que acaba por perpetuar a vida de um povo e de uma
região. Desde a Pré-História que as comunidades humanas foram
deixando por aqui a sua veia artística marcada de forma indelével
nesta riqueza natural, cuja dureza espelha as dificuldades da vida
mas também a persistência em a tornar apetecível.
O Museu, nasceu em 2004, sob proposta do conceituado escultor
português Alberto Carneiro e, a Câmara Municipal, abraçou este
projecto para lançar no concelho as sementes de um estilo artístico
de vanguarda, mas também para o internacionalizar.
As esculturas intituladas Os Sete Livros da Vida da autoria de
Alberto Carneiro, inauguraram este Museu nos jardins que circundam
a Biblioteca Municipal. Um lugar emblemático que condiz com as
intenções que se encontram subjacentes à sua mensagem. Envolvem-se
na perfeição no espaço que as rodeia, conjugando-se com as árvores,
a relva e a terra …as palavras. É também a vida que está
inscrita no granito, o qual lhe dá a imortalidade que por si só não
possui.
Os Sete Livros da Vida, Alberto Carneiro
(N 41º14.677’ : W 7º 18.083’)
Estes Livros podem-se ir ler a Carrazeda de Ansiães, que é um
lugar onde a sabedoria da terra ainda repousa, (e) ensinam-nos o
caminho da arte e da vida. Chamam-se por esses nomes. Dizem-se
nessas palavras, comunicando-se pelas suas formas como lugares de
meditação e de contemplação que toda a arte verdadeira tem que ser.
Já num grau alto de simplificação porque o gesto sábio tende para a
simplicidade.
Bernardo Pinto de Almeida
Nascido do Chão, de Carlos Barreira, foi o conjunto escultórico
que se seguiu, constituído por várias esculturas em granito, ferro,
terra e água, erigido no Jardim do Bairro da Telheira que se
encontra na entrada Sul de Carrazeda de Ansiães.
A propósito do escultor e da sua obra exposta neste Museu, Lúcia
Almeida Matos afirma que Neste conjunto escultórico está presente a
tensão e o equilíbrio traduzidos nos múltiplos binómios
constitutivos de cada obra: processos manuais de produção de peças
únicas que rivalizam com o vigor tecnológico da produção
industrial; formas essenciais fechadas modularmente articuladas em
peças finais absertas e mutáveis, grandes volumes e massas,
despojadas de peso, movendo-se lentamente; materiais austeros, como
o aço ou a pedra.Lúcia Almeida Matos
Nascido do Chão, de Carlos Barreira
(Portugal) (N 41º14.248’ : W 7º 18.716’)
Em Louvor dos Limites – In Praise Of Limits – de
Michael Warren (Irlanda) foi a escultura que se seguiu. Esta
escultura, faz-nos lembrar os obeliscos das civilizações egípcias e
clássicas, ou ainda os totens que acompanharam muitas outras
civilizações nos seus rituais religiosos. A sua imponência parece
desafiar o dinamismo e a ascensão. Os vértices desta coluna
triangular conferem-lhe esse dinamismo e a sensação de movimento. A
sua elevação para o alto é feita de forma harmoniosa,
enquadrando-se no espaço amplo onde se encontra colocada: Praça do
Centro Cívico.
In Praise Of Limits; Michael Warren
(Irlanda) (N 41º14.508’ : W 7º 18.352’)
É de Mauro Staccioli (Italiano) a escultura denominada por
Carrazeda de Ansiães 2007, colocada na Praça dos Combatentes.
Trata-se de um imenso arco em granito que, apesar da sua
grandiosidade deixa transparecer muita leveza. Nela, existe a
simbiose entre uma das mais antigas obras de engenharia e o
granito.
Nesta escultura, está presente toda a tensão e instabilidade do
escultor, que procura sugerir o movimento através da rotação que é
necessário fazer-se para admirar a sua obra. A sua escala encaixa
na perfeição no espaço amplo onde se encontra.
Carrazeda de Ansiães 2007 – Mauro Staccioli
(Italia) (N 41º14.471’ : W 7º 18.532’)
É no Jardim Lopo Vaz de Sampaio que se podem admirar As Nossas
Mesas, de Mark Brusse (Holanda). Este conjunto escultórico é
formado por quatro esculturas geometricamente dispostas em cada um
dos cantos do referido jardim. Em cada um dos quatro cantos das
mesas erguem-se cabeças humanas, olhando quem passa e assumindo-se
como guardiães da vida simbolizada e estilizada por figuras amorfas
colocadas no interior de cada mesa.
As Nossas Mesas – Mark Brusse - Estes quatro símbolos estão
presentes nas vivências quotidianas desta região.
(Holanda) (N 41º14.’ : W 7º 18.’)
Lugar da Paz de Carrazeda de Satoru Sato (Japão), está na Praça do
Toural. Aqui, o escultor procurou a simbiose entre a sua obra de
arte e o espaço envolvente. A simplicidade conjuga-se com o
equilíbrio e a perfeição da escala criando uma espiritualidade de
paz, ajustando-se à denominação do local em que se encontra.
Lugar da Paz de Carrazeda - Satoru Sato
(Japão) (N 41º14.615’ : W 7º 18.288’)
No Parque Radical encontra-se Atemwende: Sopro, Viragem de Reinhard
Klessinger (Alemanha):
Uma metáfora pode ser encontrada neste título, o que pode referir
diferentes fenómenos: o ponto preciso entre dar e receber, inalar e
exalar, um momento de receptividade para a intensidade de um
instante no qual tudo parece fazer parte de qualquer coisa –
um momento de equilíbrio através do qual se pode estabelecer um
balanço ou a igualdade entre o pesado granito e o ar invisível
– entre uma paisagem sempre em mudança e o desejo de se poder
encontrar uma forma para essa contínua mudança.
Reinhard Klessinger
Atemwende: Sopro, Viragem - Reinhard Klessinger
(Alemanha) (N 41º14.797’ : W 7º 18.384’)
Nicola Carrino (Itália) é o autor de Decostruttivo Progetto
Carrazeda, colocada no jardim da sede da Junta de Freguesia. Para o
escultor esta sua obra reflecte as suas tendências artísticas,
procurando integrá-la no espaço envolvente porque deve ser
percepcionada como uma escultura evolutiva e como um projecto que
pretende transformar o possível no mundo real. É, sem dúvida, uma
escultura que intervém na paisagem com a qual estabelece uma
espécie de diálogo e com a qual se ajusta. Também se pode perceber
a sintonia entre o espaço, os materiais e as próprias formas. Desta
conjugação pluridimensional nasceu uma escultura que deve ser
apreciada em todas as perspectivas.
Decostruttivo Progetto Carrazeda - Nicola Carrino
(Italia) (N 41º14.663’ : W 7º 18.175’)
O Jardim da Telheira acolhe o conjunto escultórico Macieiras Para
Carrazeda, de Fernando Casás (Espanha). Lembrando os ancestrais
cromeleques, locais de culto Pré-Históricos, os esteios fincados no
solo dispõem-se de uma maneira que parece indiciar o Cosmos, a
perfeita distribuição dos astros.
Para Casás, os dezanove monólitos ali colocados junto a cinco
macieiras pretendem ligar os troncos de madeira aos troncos de
granito, perpetuando a dialéctica entre as esculturas e a
vegetação. Ambos acabarão, inexoravelmente por sofrer a corrosão do
tempo. O granito a erosão, os troncos das macieiras irão cumprir o
ciclo da vida. São, ainda, a lembrança do improvável paraíso
perdido, mas também é a conjugação vida e morte, representação e
realidade, espectros e natureza.
Macieiras Para Carrazeda, de Fernando Casás
(Espanha) (N 41º14.287’ : W 7º 18.677’)
O Museu Internacional de Arte Contemporânea ao Ar Livre de
Carrazeda de Ansiães fica completo com a obra de Ângelo de Sousa,
Ascensão Duas Faces (Moçambique). Constituída por vinte e um blocos
de granito sobrepostos, acaba por configurar uma pirâmide. Apesar
do volume dos blocos criar a ideia de peso, a verdade é que um
olhar mais atento consegue perceber que existe uma grande leveza
nesta escultura, criando a quase-ideia de pedras suspensas. Ninguém
fica indiferente perante uma visão que teima em ascender ao topo,
numa clara intenção de atingir o clímax.
Ascensão Duas Faces – Ângelo de Sousa
(Portugal-Já falecido) (N 41º14.447’ : W 7º
18.213’)
Na sua globalidade, os conjuntos escultóricos que fazem parte do
espólio do Museu Internacional ao Ar Livre de Escultura
Contemporânea, de Carrazeda de Ansiães, celebram a arte e a vida,
mas também o granito de que são feitos.
Visitá-lo, é fruir o porvir… aqui e agora!