Esta cache encontra-se numa urbanização igual a tantas outras por esse país fora, assim o que ela pretende dar a conhecer não é o local, mas sim um pouco da história dos famosos fenómenos do Entroncamento e aquele que é considerado o seu criador, por isso encontra-se próximo de uma rua com o seu nome.

É um concelho relativamente novo, pois apenas data de 1932 e era sede de Freguesia desde 1926. Entroncamentos porque ali entroncam os caminhos-de-ferro das linhas do Norte e as de Leste Beira - Baixa. Era totalmente despovoado aquele local quando foi implantada a ferrovia, chamando-se inicialmente Estação das Vaguinhas. Daí as tradições populares não serem muitas nem muito recuadas no tempo. No entanto, por obra (e graça) de um correspondente de jornais, o Entroncamento começou a dar nas vistas! Eduardo O. P. Brito, que no Entroncamento era correspondente de todos os jornais do Porto, de Lisboa e de Coimbra, entendeu que as bizarrias made in USA eram um óptimo exemplo para divulgar numa terra onde apenas se cruzavam as linhas dos comboios. E se bem o pensou, melhor o fez.
O primeiro fenómeno do Entroncamento foi um melro branco, raríssimo que todos os melros são pretos! Depois descobriu uma galinha com quatro patas e trouxeram-lhe á reportagem um carneiro com cinco chifres e divulgou a história de um pardal que todos os dias ia aboletar-se no Hotel Monumental, ao quarto onde se hospedava um francês que trabalhava na electrificação da linha, uma laranja do tamanho de uma abóbora! Era a fiada dos fenómenos do Entroncamento, que tanto sucesso fizeram em Portugal e lá fora! Em Portugal, por exemplo na série de crónicas Os Corvos, de Leitão de Barros. O jornalista e cineasta saudou na sua coluna do Diário de Notícias o expediente informativo do seu antigo aluno de desenho no liceu de Santarém. E lá fora, uma referência ao assunto no France Soir. Hoje, em qualquer parte do país que surja qualquer bizarria da natureza, não faltará quem diga tratar-se de um «fenómeno... do Entroncamento! A população do Entroncamento já vai começando a fartar-se destas coisas. E, a este propósito, há meia dúzia de anos, Eduardo O. P. Brito escrevia num jornal local «ser matéria que já teve a sua época e que, por conseguinte, ressuscitá-la, a título de tudo e de nada, já vai sendo saturante». Era a opinião do criador dessas lendas modernas, a que se pôs ponto final nos finais da década de sessenta do século passado. Eduardo Brito ficará na história do Entroncamento como o pioneiro da fama do jovem concelho que deu ao país o (também) mais jovem núcleo de lendas. O andar dos tempos se encarregará de lhes dar novos e fabulosos elementos.
In - Lendas de Portugal Viale Moutinho in - Diario de Notícias.
As notícias publicadas na imprensa nacional e estrangeira deram à terra o estatuto e alguns comerciantes alimentaram o mito. Na década de 50, o dono da “Tabacaria Luanda” colocou na montra do seu estabelecimento uma abóbora gigante pesando cerca de 50 kg, o seu tamanho “fenomenal” chamou a atenção dos transeuntes, tendo continuado a expor outros frutos e legumes, também eles “fenomenais” devido às dimensões ou formas sugestivas, nos anos que se seguiram. A “Casa Carloto” criou e comercializa até hoje algumas colecções de copos de vidro com decalques dos fenómenos.
Em Maio de 2008, com a colaboração da Câmara municipal editou o livro “ Cá pelo Burgo”, que reunia varias crónicas que publicou ao longo de vários anos no jornal o Entroncamento. Faleceu em 30-12-2009, com 97 anos e quase 80 de dedicação ao jornalismo e á divulgação desta terra.