Idiossincrasia de
um subúrbio
Subúrbios.
Amálgamas de betão caoticamente dispersas por montes e vales,
planícies e planaltos, constrangendo inexoravelmente a
urbe-capital, qual cinturão coriáceo e áspero que é símbolo
indelével de uma opressão que ninguém contesta e que, portanto,
passa incólume e impune. Crescem os blocos paralelepipédicos de
habitações como míscaros selvagens, como tumores indiferenciados de
pequenas (por vezes de grandes) células – não importa a histologia
destes órgãos inanimados, o essencial é reter a analogia, até
porque, sendo nós elementos constituintes de tais massas tumorais
de cimento e rotina, é-nos impossível olhar de fora para dentro e
perceber a matéria de que somos feitos e que nos une em redor de
uma metrópole, em torno de uma vida imutável.
É, portanto,
essencial olharmos por dentro na vã tentativa de discernirmos a
nossa índole, a nossa idiossincrasia. Mas o interior é igualmente
indiscernível. É uma tela impressionista de matizes rápidos e
desleixados, um Renoir sem a cor ou um Lautrec sem os lupanares –
ou com eles, sub-repticiamente ocultados em becos sem cor. É uma
paleta variegada e vibrante de vida e, concomitantemente, um
emaranhado de rabiscos griséus e monótonos. É tudo e é nada. É um
paradoxo em si mesmo.
Cingindo-nos a
estes subúrbios de que temos vindo a discorrer, há uma interrogação
que surge: qual a linha-mestra que os define, que os orienta, que
os rege? É uma questão metafísica, sem resposta certa ou errada,
sem derradeira e definitiva conclusão, porque a miríade de origens
que se reúnem em redor de Lisboa causa uma indefinição cultural que
desvirtua as localidades, impossibilitando que as mesmas adquiram
personalidades próprias e vincadas. Numa infrutífera tentativa de
lhes outorgarem calor humano e bênção divina, consagram-nas a
santos. São João disto, Santo Antão daquilo, Santa Iria
daqueloutra, São Julião do Fulano, São Domingos do Beltrano, Santo
Amaro de Sicrano. Atribuem-lhes oragos e gentílicos, como se um
sanjoanense assim o passasse a ser só porque, devido a uma
contingência da teia do tempo e do espaço, abandonou um dia o
Minho, o Alentejo ou as Beiras para procurar residência nos
subúrbios e labor na urbe. A sua personalidade está, porventura,
além-Tejo, mas o seu corpo espraia-se junto ao estuário desse mesmo
rio. E até o próprio nome do santo e da terra passa a ser um
acidente de relevo como o daqueles montes que se erguem no
horizonte da outra margem, ou uma sombra de um passado perdido nas
páginas macilentas e rasuradas do tempo e do acaso…
Talvez o rio possa
ser espelho de nós, já que a resposta ao que somos, ao que vivemos
e a tudo isto que nos rodeia não mora connosco. Olhamos portanto
para o Tejo, observando demoradamente o reflexo que as águas
límpidas, numa estóica cavalgada para o mar, devolvem aos olhos de
quem as contempla. Devolvem-nos betão e tráfego e ruído e
quotidiano e tudo e nada. Triste sina a nossa. Procurámos lavar os
olhos numa água que já está conspurcada com tudo aquilo que a
envolve. Fosse o Tejo um diáfano cristal ao invés de um espelho
fiel e cruento…
E a idiossincrasia
do subúrbio mantém-se insondável, labiríntica, esfíngica. Porque o
subúrbio é uma entidade que respira e que asfixia, que cria e que
destrói, que se renova e que não muda, que é caduca e perene.
Porque somos tudo isso sem dar conta de tal realidade.
E por tudo isto, é
essencial parar e absorver a paz, sorver a liberdade, haurir de
cada terra o seu quê de identidade. É isto que vos proponho com
esta cache.
Twin
Towers
A existência de "Torres
Gémeas" é algo frequente em todo o mundo. Há exemplos mediáticos
como o das
Petrona Towers (em Kuala Lumpur, Malásia) ou as tristemente
célebres torres do
World Trade Center em Nova Iorque.
Cá em Portugal, temos as
galerias Twin Towers em Lisboa ou, na zona do Parque das Nações, as
torres São Rafael e São Gabriel, por exemplo.
Em São João da Talha,
um dos muitos subúrbios aparentemente desprovidos de uma
idiossincrasia própria (já falei deles no texto anterior, se é que
tiveram paciência para o ler...), existem umas Torres
Gémeas que dominam a vila. Com 12 andares cada, a sua
posição de destaque permite que sejam visíveis a quilómetros de
distância, marcando indelevelmente a paisagem da região. É possível
até identificá-las claramente a partir da Ponte Vasco da Gama, no
sentido Alcochete - Lisboa!
A
cache
Esta cache está
colocada num pequeno e agradável espaço verde junto às Torres de
São João da Talha, verdadeiros ex-libris (não pela beleza
arquitectónica, mas pela imponência em relação às construções
circunvizinhas) da vila. São estas Torres que dão uma certa
individualidade a São João da Talha, permitindo distinguir a vila
de todo o restante amontoado de betão.
A partir de agora,
não haverá desculpa para o facto de não conseguirem identificar São
João da Talha! eheh
Recomenda-se
discrição na procura, já que há prédios em redor. As coordenadas
têm um erro máximo de 5 metros.
In english - an
easy cache located in a small park, in the suburbs of Lisbon.
Photos will be added later.