A Escola Secundária Maria Amália
Vaz de Carvalho, que desde o ano lectivo de 1933-1934 se
encontra no presente edifício, tem uma história longa e rica que,
certamente, todos os que nela vivem desejarão conhecer. Foi criada
em 1885, ocupando um edifício do Largo do Contador-Mor, em Alfama,
graças à iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa. Tinha como
objectivo principal - de largo alcance social para a época - "a
emancipação da mulher pela instrução", como pode ler-se no seu
primeiro relatório.
Inicialmente, chamava-se Escola Maria Pia, em homenagem à rainha.
Tinha 45 alunas inscritas, tendo muitas delas, entretanto,
desistido. Os motivos da desistência parecem relacionar-se com a
sua localização, considerada já no extremo da cidade e de difícil
acesso, e com o facto de, erradamente, se pensar que podia fornecer
habilitação para o exercício do magistério
primário, nova carreira um pouco antes
aberta às mulheres. Por isso, apenas terminam 26 alunas, com
aproveitamento, a frequência desse primeiro ano. A Escola tem
uma feição eminentemente prática, visando "iniciar no país o
ensino de carreiras produtivas que podem e devem pôr a mulher
(...) ao abrigo das necessidades, habilitando-a a ganhar
honestamente os meios de subsistência", como consta do
relatório da Escola Maria Pia relativo ao ano lectivo de
1885-1886. Ministrava 4 cursos: lavores, tipografia,
telegrafia e escrituração comercial. Contudo, quer professores
quer alunas têm aspirações mais altas, já nessa altura
contrariadas pela "estreiteza da casa".
A grande ambição era passar a Liceu e por ela lutaram o professor
Caetano Pinto e a doutora Domitília Carvalho, que viria a ser a
futura reitora deste estabelecimento de ensino. Em 1906, por fim, o
rei D. Carlos I assina o decreto que institui o primeiro liceu
feminino em Portugal. A partir deste momento, a frequência foi
crescendo sempre e, em 1911, o Liceu Maria Pia acaba por ser
transferido para o palácio Valadares, no Largo do Carmo. Apesar
desta mudança representar um grande progresso, o edifício é
considerado ainda pequeno, sendo forçoso o desdobramento das alunas
em 2 turnos. Por isso, o ideal seriam instalações próprias,
semelhantes às dos liceus masculinos da capital. Mas o corpo
docente deseja mais: pretende também a frequência dos cursos
complementares e, desse modo, a elevação à categoria de Liceu
Central. Foi o que veio a acontecer, em 1917, por decreto do
Presidente da República, Sidónio Pais, passando a escola a
denominar-se "Liceu Central de Almeida Garrett". O proble ma das
instalações continuava por resolver e arrastou-se ao longo de
vários anos, não obstante, após a mudança para o Largo do Carmo,
ter sido nomeada uma comissão encarregada de escolher o terreno e
elaborar o projecto de construção de um novo edifício. Um primeiro
projecto, da autoria do arquitecto Ventura Terra, acabará por ser
substituído por outro, o actual, embora baseado no anterior,
nomeadamente no que se refere ao átrio e à escadaria central.
Por fim, no ano lectivo de 1933-1934, o Liceu, já há alguns
anos denominado Liceu Feminino de Maria Amália Vaz de Carvalho,
abre as suas novas e definitivas dependências na rua Rodrigo da
Fonseca.
Acompanhando as transformações que o movimento de 25 de Abril de
1974 imprimiu na sociedade portuguesa, o Liceu passou a ser gerido
por uma Comissão Directiva eleita na escola e deixou de ser
exclusivamente feminino, começando a receber,
gradualmente, a partir do ano lectivo
de 1975-1976, as suas primeiras turmas mistas. O quadro do
pessoal docente e do pessoal administrativo e auxiliar,
exclusivamente feminino, alargou-se também a elementos
masculinos. Com a unificação do Ensino Secundário, o Liceu
passa, tal como todos os restantes liceus do país, a
designar-se Escola Secundária. O crescente número de alunos,
provenientes dos mais diversos bairros de Lisboa, obriga à
abertura de um terceiro turno. A Escola receberá também os
cursos nocturnos e o 12º ano nas suas duas vias - a
profissionalizante e a de ensino. Posteriormente, a exiguidade
das instalações obriga à manutenção de, apenas, esta última
via e dos seus 4 primeiros cursos. Aberta a alunos, a Escola
também está aberta à formação profissional dos seus
professores. Aqui se realizam alguns dos estágios ditos
"clássicos" e estágios do ramo educacional da Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa e da Universidade Autónoma.
Muitas das antigas alunas do Liceu ocupam, hoje, lugar de
relevo na sociedade portuguesa, participando, conscientemente,
na nossa vida colectiva através do exercício de variadas
profissões e actividades.
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