Trata-se de um
monumento de arquitectura religiosa, românica, maneirista, barroca,
rococó, neoclássica e contemporânea. Mosteiro primitivamente
beneditino, passando depois a cisterciense, de planta composta por
igreja longitudinal, de nave única, com duas torres sineiras a
ladear a fachada principal, endonártex bastante profundo, capelas
laterais intercomunicantes, transepto inscrito e capela-mor
profunda, e dependências monacais, com claustro desenvolvido
lateralmente à igreja, integrando a sacristia rectangular,
adossando-se a este, corpo em L invertido, formando pátio, e no
extremo, corpo quadrangular da cozinha velha e estreito corpo
rectangular correspondente à residência paroquial, com pátio entre
os dois corpos. A igreja conserva do período românico, a sua
fachada lateral N., sendo ainda visível a cachorrada de remate
original. O espólio arqueológico mais antigo, nomeadamente
elementos arquitectónicos e decorativos dispersos, em que
sobressaem aduelas profusamente decoradas de antigos portais, e de
algum espólio cerâmico, apontam para uma cronologia em torno dos
finais do séc. 12, princípios do séc. 13. O mosteiro primitivo
seria constituído provávelmente por uma igreja de três naves com
cabeceira tripartida de planta rectangular, e os edifícios monacais
organizavam-se à volta do claustro encostado à parede meridional da
igreja. O resto da igreja apresenta decoração barroca, com fachada
principal de três registos, o primeiro com arcada serliana de
acesso ao exonártex, a segunda correspondendo a nichos com
imaginária, ligada ao mosteiro e o último com três janelas, as
laterais em meia lua. Apresenta um remate com frontão de volutas
com as armas da Ordem no tímpano. Interior com nave coberta por
falsa abóbada de arestas, em madeira. Retábulos laterais e do
cruzeiro, neoclássicos. Cruzeiro com cobertura em abóbada de
arestas. Sanefas dos arcos do cruzeiro rococós, com decoração de
acantos e concheados. Retábulo-mor barroco joanino. Sacristia
integralmente revestida com azulejos joaninos, e cobertura em
tectos de caixotões de decoração barroca, com anjos, acantos,
festões e drapeados. Dependências monacais, desenvolvidas
lateralmente à igreja, segundo o modelo beneditino, com fachadas
maneiristas, com claustro com arcada plena, encimada por janelas de
sacada. Interior totalmente remodelado no final do séc. 20, para
pousada, classificada como Pousada Histórica Design, com decoração
contemporânea. Cozinha velha, com três espaços, serparados por
arcos abatidos, possuindo no central grande mesa de pedra, e
colateralmente ao arco de acesso ao espaço encimado pela grande
chaminé, dois lavabos de taças bojudas.
A igreja apresenta um endonártex bastante profundo, dividido em
dois tramos. O edifício apesar de ter sido reconstruído já durante
a Ordem de Cister, apresenta alusões à primitiva Ordem beneditina,
nomeadamente através das várias representações de São Bento, em
dicotomia com as de São Bernardo de Claraval, fundador da Ordem de
Cister. O lavabo da antesacristia é monumental, com excelente
trabalho de cantaria, também ele com alusão à Ordem beneditina,
patente através do leão. Os azulejos da sacristia, possivelmente de
Teotónio dos Santos, constituem uma das primeiras manifestações da
designda "grande produção joanina", pelo tratamento mais leve e
estereotipado da pintura e dos ornatos das cercaduras influenciados
pela obra do mestre P. M. P., e, ainda que não tenham o requinte
das obras dos outros mestres, possui considerável graça e poder
decorativo. Na adaptação das dependências monacais a pousada, o
arquitecto optou pela recuperação do imóvel mantendo, no entanto, a
imagem natural que ostentava nos últimos anos, preferindo não
colocar nenhum telhado na cobertura e utilizando nas janelas apenas
vidro, dando a sensação de existirem apenas as fachadas. No
interior manteve praticamente toda a compartimentação original,
optando pelo despojamento dos materiais, das formas e da decoração.
Às salas intercomunicantes foram retiradas as portas, deixando
apenas os vãos, sendo algumas portas originais usadas como painéis
decorativos nas paredes, como memória da decoração passada. A
grande chaminé da cozinha velha domina o topo da fachada posterior,
utilizando para além do granito, o tijolo estreito. Estabelecimento
de hotelaria inserido na rede Pousadas de Portugal, integrando o
grupo das Pousadas Design Histórico.
Cronologia do Monumento
1148 - D. Afonso Henriques faz doação do couto a monges
beneditinos, sendo abade D. Paio Nunes, que teve importante papel
nas lutas da reconquista;
1162, Outubro - documento da chancelaria de D. Afonso Henriques
mencionando a existência de uma pequena ermida no local, dedicada a
São Miguel, que segundo a lenda terá sido construída por dois
beneditinos, após terem visto uma luz que lhes indicou o lugar onde
estava escondida uma imagem da Virgem;
1195 - o mosteiro deixa a regra beneditina e passa a reger-se pela
de Cister, de São Bernardo de Claraval, com a invocação de Nossa
Senhora da Assunção;
1208 - o abade mostra ter pretensões à cadeira abacial de Alcobaça,
ganhando o apoio do rei D. Sancho I; o mosteiro aparece pela
primeira vez nas actas do Capítulo Geral de Cister;
1221 - o mosteiro é mencionado no testamento de D. Afonso II;
1271 - o mosteiro é mencionado no testamento de D. Afonso
III;
1320 - o mosteiro tinha 2000 libras de rendimento;
1383 / 1385 - quando Castela invade Portugal em apoio de D.
Beatriz, o abade de Bouro toma o partido do Mestre de Aviz e junta
600 homens para a defesa da linha de fronteira de Portela do Homem,
conseguindo vencer as tropas galegas; em agradecimento, o
condestável D. Nuno Álvares Pereira, confere ao abade o título de
Capitão-Mor e Guarda das Fronteiras, com a possibilidade de
levantar exército, sempre que fosse necessário;
séc. 15 - o sistema de "Comenda" em que o abade era escolhido pelo
rei origina a decadência do mosteiro;
1530, 5 Mar. - Carta dos religiosos do mosteiro pedindo a Rui
Teles, fidalgo da Casa Real, que fizesse saber ao rei o estado de
ruína do mesmo e que lhes remediasse o problerma;
1533 - só sete monges habitavam a abadia, segundo carta de visita
de frei Cláudio de Bronseval, secretário do abade de Claraval; a
igreja possuía três altares pobremente ornamentados; segundo o
visitador havia "uns casebres que mais pareciam pocilgas (...)
quando subimos encontramos sete monges sem cogula (...) os monges
habitavam os casebres misturados com irmãos leigos de ambos os
sexos";
1536, 8 Fevereiro - visitação de Fr. Bernardo de la Fuente e Fr.
Tomás Longa do Mosteiro de Nossa Senhora da Pedra, em Aragão, onde
se refere que tinha de rendimento 300 mil reais, mandando que
elevasse o número de monges para 10, que se fizessem três mesas
para o refeitório e sereparasse as dependências do mosteiro;
séc. 16, segunda metade - execução do cadeiral primitivo;
1582 - data do fecho do topo O. da ala S., do corpo em L, com a
construção da "porta dos carros"; pouco depois completar-se-ia a
ala O. do mesmo corpo, e mais tarde, acrescentar-se-ia um pequeno
corpo, no topo S., do pano posterior da ala O.;
séc. 17, finais - devido ao estado de degradação da igreja dá-se
início a profundas obras de reconstrução;
1690, 28 Abril - António João Padilha, mestre ensamblador, fez umas
grades para o cruzeiro da igreja e contrata a obra de duas grades
de pau preto para duas capelas;
1692 - o mosteiro tinha 34 monges;
séc. 18, início - ampliação da igreja, remodelação da sacristia e
sala do capítulo, construção do refeitório e cozinha velha; para O.
do claustro construiu-se uma nova ala, deslocando-se para aí a
entrada principal do mosteiro; remodelação do cadeiral primitivo;
douramento do retábulo-mor por Jerónimo Luís;
1715, cerca de - colocação dos azulejos na sacristia, atribuídos a
Teotónio dos Santos;
1726/1727 - o mestre pintor Manuel Furtado de Mendonça recebe
20$600 por trabalhos realizados no mosteiro;
1761 - o mosteiro tinha trinta e seis monges;
1788 - viviam no mosteiro trinta e dois monges;
1798, 28 Dezembro - execução do órgão por Manuel de Sá Couto;
séc. 18, final, séc. 19, início - execução dos retábulos
laterais;
1834 - com a extinção das ordens religiosas a igreja passou a
paroquial e o mosteiro foi abandonado, tendo sido posteriormente
vendido em hasta pública;
1853 - transferência do órgão para a Igreja do Bom Jesus de Braga
(v. PT010303580024); o mosteiro é propriedade da família Pais de
Aguiar;
1980 - a Secretaria de Estado do Turismo propõe a utilização do
mosteiro como pousada;
1986 - parte do mosteiro é adquirido pela Câmara Municipal de
Amares, por 200 contos, e por esta doado ao IPPC; a Câmara
Municipal de Amares propõe a instalação de uma Escola Agrícola no
mosteiro;
1986 - o IPPC propõe a instalação no mosteiro, de um Centro de
Estudos de Restauro;
1989 - projecto do arquitecto Eduardo Souto Moura e Humberto Vieira
para adaptação das antigas dependências monacais a pousada;
1994 - início das obras de adaptação para a Pousada de Santa Maria
do Bouro, inserida nas Pousadas de Portugal, geridas pela
ENATUR;
2003 - na sequência da privatização da ENATUR a pousada passa a ser
gerida pelo Grupo Pestana. |