O SANTO CONDESTÁVEL
«Nesta longa e difícil guerra pela independência da terra
portuguesa, ao lado do Rei, a acompanhá-lo incansavelmente, vemos a
pessoa do Condestável D. Nuno Álvares Pereira.
Filho bastardo do Prior do Hospital, D. Fr. Álvaro Gonçalves
Pereira, filho bastardo, este, também, de D. Gonçalo Pereira, que
foi, mais tarde, Arcebispo de Braga, e de Iria Gonçalves, Nuno
Álvares, o Condestável do Rei de Portugal D. João I, nasceu a 24 de
Junho de 1360, em Sernache do Bonjardim. É, talvez, a figura mais
representativa, a figura mais exemplarmente típica do povo
português, enquanto ideologias intrusas o não abastardaram e
corromperam.
Ele trouxe sempre fundidos no seu coração o amor de Deus e o amor
da Pátria. Foi Monge e foi Soldado; e foi Santo e foi Herói. Teve o
duplo mistiscismo — o do Céu, e o da sua terra. Na hora mais aguda
das batalhas, esquecido de tudo, ajoelhava e rezava. E, como os
maiores místicos, possuía o sentido rectilíneo do equilíbrio e das
realidades. Era um espírito positivo de patriota, animado pela fé
mais viva da crença mais alta.
Sabia querer: e a sua vontade não conhecia, quando livre,
embaraços. Sabia obedecer: e a sua obediência, na hora própria, não
suportava reservas.
Nuno Álvares é a encarnação suprema da Pátria portuguesa: está nos
altares, porque a Igreja o reconheceu merecedor de culto; e está
nos corações dos portugueses fiéis que vêem nele o símbolo do seu
amor pátrio.
Sem a sua espada vigorosa e sã, Portugal teria caído possivelmente
na órbita de Castela, e tudo quanto fez em prol da Civilização
andaria hoje escrito em língua estranha.