O naufrágio da Nau Nossa Senhora dos Mártires
Esta cache tem como objectivo dar a conhecer um pouco mais da(s) história(s) desta praia, além de ser mais um motivo para um saudável passeio à beira-mar. Disfruta !! Sê bastante discreto na procura da cache pois o local está cheio de muggles.
Conhecida no mundo inteiro (sobretudo nos meios da arqueologia marinha) como a ‘nau da pimenta’, este navio da companhia das Índias foi, muito provavelmente, construído na Ribeira das Naus, em Lisboa. Deslocaria entre 1 100 e 1 600 toneladas e teria 68 metros de comprimento. A «Nossa Senhora dos Mártires» zarpou da capital do império, rumo a Goa, a 27 de Março de 1605, sob o comando de Manuel Barreto Rolim, integrada na armada de Brás Teles de Meneses. Chegou à Índia em fins de Setembro do mesmo ano e, depois de ter carregado 250 toneladas de pimenta e outras mercadorias preciosas (porcelanas da China, por exemplo), fez-se à vela para a Europa a 16 de Janeiro de 1606, na companhia da nau «Nossa Senhora da Salvação».
A torna viagem decorreu sem incidentes até à chegada as costas portuguesas, onde os dois navios se perderam em circunstâncias trágicas. Depois de ter fundeado na baía de Cascais, onde a «Nossa Senhora da Salvação» fez naufrágio (sem perdas humanas), a «Mártires» tentou forçar a barra do Tejo num dia (14/09/1606) particularmente tempestuoso. Açoitada (em plena vazante) por chuva rija e fustigada por ventos quase ciclónicos, a nau de Rolim foi atirada contra o esporão rochoso denominado Ponta da Lage (a curta distância do forte de São Julião da Barra), onde se destroçou completamente. No naufrágio morreram mais de 200 dos seus tripulantes e passageiros e perdeu-se parte substancial da carga.
O que tudo indica é que, com o porão alagado, fustigada pela chuva e pelo vento, a Nossa Senhora dos Mártires deva ter ultrapassado largamente o meridiano da Fortaleza de São Julião da Barra e, devido ao efeito cumulativo do vento sul, do mar de sudoeste e da corrente de maré vazante, tenha se desgovernado. A trajetória final teve provavelmente a direção sudeste-noroeste, levando a nau a colidir com um proeminente esporão rochoso, conhecido como Ponta da Laje. A maré, as correntes e o vento teriam arrastado a nau em direção à fortaleza até que a quilha tenha se chocado contra o fundo rochoso, rompendo-se em vários pontos. Perdendo parte do fundo da carena do casco, ficaram depositados nesse local parte substancial da carga e das peças de artilharia (Alves et al., 1998).
Todo o restante do que compunha a embarcação teria se espalhado pelas imediações e pelas praias que circundam São Julião da Barra. A parte mais substancial dos destroços teria se espalhado pela praia de Carcavelos, a oeste, e com a virada da maré, também em direção ao Tejo. As praias da região ficaram cobertas por inúmeros destroços da embarcação e pelos cadáveres das mais de duzentas pessoas que morreram no naufrágio. Segundo o relato de D. Luis Bravo de Acuña pode-se imaginar o Tejo coalhado de pimenta que, como um gigantesco manto preto, subia e descia ao sabor das marés, enegrecendo as praias a montante e a jusante da fortaleza (Alves et al., 1998). A pimenta transportada provocou -durante muitos dias- uma verdadeira maré negra, que os habitantes de Carcavelos e de outras zonas ribeirinhas se apressaram a pilhar, apesar da vigilância apertada dos oficiais régios e de militares.
Pesquizas arqueológicas recentes permitiram recuperar parte do espólio da «Nossa Senhora dos Mártires», sobretudo alguns dos seus canhões. Mas também astrolábios e outros aparelhos de ajuda à navegação, para além de porcelanas orientais, loiça de bordo, etc. Esses objectos foram mostrados ao público no Pavilhão de Portugal, aquando da realização da Expo 98.