[PT]O ELEVADOR DE SANTA JUSTA
A configuração acidentada de Lisboa, com ladeiras abruptas e
declives acentuados, foi desde sempre um grave obstáculo à
circulação de pessoas e bens entre as partes mais altas e baixas da
cidade. Nem mesmo os veículos de tracção animal mais aperfeiçoados,
surgidos nos finais do século XIX, conseguiam responder a este
problema de um modo completamente satisfatório.
Com o advento da tracção mecânica surge pela primeira vez a
possibilidade de o resolver. Aparecem então os ascensores e
elevadores, os primeiros funcionando em plano inclinado e os
últimos em plano vertical.
Dos três elevadores então construídos, Chiado, Biblioteca e
Carmo, apenas este último se mantém em actividade mercê da sua real
utilidade.
Em 2 de Julho de 1900 iniciaram-se os trabalhos com a remoção de
terras nas escadinhas de Santa Justa tendo a empreitada da
construção metálica sido confiada a Cardoso D'Argent e Cª., firma
estabelecida no nº. 29 da Travessa do Conde da Ponte à Junqueira,
paredes meias com as instalações da C.C.F.L. de Santo Amaro. O
processo adoptado consistia no estabelecimento de uma estrutura
metálica vertical formando duas torres ligadas entre si, em cada
uma das quais funcionaria uma cabine com capacidade para 24
passageiros. Esta era equilibrada com a sua gémea por meio de um
forte cabo de aço que passava sobre um tambor instalado, tal como
todo o mecanismo motor, no cimo das torres, no andar situado
imediatamente acima da estação superior. Desta estação partia um
passadiço metálico que, passando sobre a Rua do Carmo e assentando
sobre o último andar do prédio nº. 69, propriedade do Conde de
Tomar, efectuava a ligação com o Largo do Carmo.
O lançamento do passadiço, construídas já as torres, teve lugar
no dia 31 de Agosto de 1901, o mesmo em que a Carris inaugurou o
serviço de eléctricos e foi, certamente, o momento mais
espectacular de todo o período de construção já pela manobra,
difícil e arriscada, já pela quantidade de público que,
interessado, se instalou nas ruas e telhados próximos.
Lançado o passadiço as obras continuaram o seu ritmo normal. Em
Junho de 1902 ensaiaram-se máquinas e cabines e no mês seguinte, a
10 de Julho, o elevador inaugurou o serviço público.
Às 14 horas o elevador foi aberto ao público. Este pagava para
descer 10 reis e para subir 1 vintém. Nesse dia venderam-se mais de
três mil bilhetes e à noite houve um concerto pela banda que durou
até cerca da meia noite. Faltava ainda construir as estruturas
destinadas a coroar a ponte e as torres. Mas como essas obras iriam
não só interferir com o normal funcionamento do elevador mas também
aumentar os custos de construção, já então considerados elevados,
decidiu a empresa não os efectuar. Deste modo a cobertura das
torres ficou reduzida a um simples terraço.
Com o fim de aumentar as suas receitas a empresa mandara colocar
no terraço um telescópio pelo qual as pessoas podiam espreitar,
pagando, e com o mesmo objectivo editou uma colecção de postais
ilustrados com vistas do elevador, da cidade e dos arredores.
No fim do 1º ano de exploração o elevador transportara já mais
de meio milhão de passageiros e ao terraço haviam subio 52.415
curiosos, dos quais 12.551 tinham feito uso do telescópio.
O ano de 1907 foi marcado pela electrificação do sistema, tendo
a substituição das primitivas máquinas a vapor por outras
eléctricas obrigado a uma paralização temporária. O novo método foi
autorizado por despacho ministerial de 11 de Julho tendo as obras
sido iniciadas ainda nesse mês.
Setenta anos passados sobre a data da sua inauguração, o
elevador do Carmo, mais vulgarmente conhecido como Elevador de
Santa Justa, ficou definitivamente integrado na rede de transportes
da Companhia Carris.
Em Fevereiro de 2002, tal como aconteceu com os ascensores do
Lavra, da Glória e da Bica, também eles propriedade da Companhia
Carris de Ferro de Lisboa, foi classificado como Monumento
Nacional.
[EN]THE SANTA JUSTA LIFT
Lisbon is a city of hills and valleys. The slopes are steep and
abrupt, creating what has always been a serious problem for the
transport of people and goods between the high and the low areas of
the city. Not even the most up-to-date vehicles drawn by animals,
coming on the scene at the end of the 19th century, could solve the
problem in a really satisfactory way.
The advent of mechanical traction brought the possibility of a
solution. It was at this time that the funiculars and lifts began
to appear, the first functioning on sloping terrain, the second
operating vertically.
Three lifts were built in down-town Lisbon, the Chiado,
Biblioteca and Carmo, but only the last really proved useful and is
still in operation.
On 2 July 1900, work began on removing the earth on the Santa
Justa steps. The contract for the iron work had been awarded to
Cardoso D'Argent e Cª., whose registered office was at 29 Travessa
do Conde da Ponte à Junqueira, right alongside the premises of the
Companhia Carris de Ferro de Santo Amaro. The work consisted of a
vertical metallic structure on two interconnected towers. In each
of these towers there would be a lift which could take 24
passengers. Each one counterbalance the other by means of a strong
steel cable passing over a drum which was sited, along with the
electrical motor, at the top of the towers, on a floor immediately
above the top platform. From this platform there was a metal
passageway to the Rua do Carmo, resting on the floor of number 69,
the property of the Conde de Tomar. This ensured the connection
with the Largo do Carmo.
When the towers had been built, the passageway was created. This
was opened on 31 August 1901, the same date as Carris started its
tram service. This was the most spectacular moment in the
construction, both because the work was difficult and risky, and
because of the quantity of people who came to look from the street
or nearby roofs.
Once the passageway was in place, the work continued at its
normal pace. In June 1902, the machinery and the cabins were tested
and in the following month, on 10 July, the lift entered public
service.
At two o’clock in the afternoon, the lift opened to the public.
The price to go down was 10 “reis” and to go up it was “1 vintém”.
That day, more than three thousand tickets were sold and in the
evening there was a concert that went on until close on
midnight.
The structures to provide a “crown” for the bridge and the
towers were still missing but building these would have interfered
with the normal running of the lift and would also have added to
the cost of the building works, already considered very high. So
the company decided not to do the work. As a result, the cover for
the towers was reduced to a simple terrace.
With the purpose of boosting receipts, the company decided to
put a telescope on the terrace so that people could pay to look
through. They also issued a collection of illustrated postcards
with views of the lift, the city and its surroundings.
By the end of the first year, the lift had transported more than
half a million passengers and 52,415 on-lookers had gone to the
top, with 12,551 of these using the telescope.
During 1907 the system was electrified and the early steam
engines were replaced by electric engines. This meant a temporary
stoppage. The new method was authorised by ministerial dispatch on
11 July and all the transformation works began that very month.
Seventy years afte its opening, the Carmo lift, more commonly
known as the Santa Justa lift, was definitively integrated into the
Carris public transport network.
In February 2002, along with the funiculars of Lavra, Glória and
Bica, also owned by Carris, it was classified as a national
monument. |