O seu acentuado pendor rural, o património existente ao longo
de todo o percurso e a biodiversidade que ostenta em toda a sua extensão fazem
da Rota da Queixoperra uma caminhada particularmente agradável. Além das
diversas fontes e nascentes, ribeiras e paisagens com vistas desafogadas, as
azenhas do Poço das Talhas justificam, por si só, este passeio.
Enquadrada na União Freguesias de Mação, Aboboreira e
Penhascoso, há redes móveis disponíveis em toda a rota, além de um plano de
emergência e resgate, com a marcação de balizas de socorro (SOS) devidamente
identificadas, garantindo assim a segurança do pedestrianista.
Por entre vales e serras podemos encontrar alguns
exemplares de uma pequena árvore já rara no concelho, a cornalheira, e também
observar sobreiros e medronheiros, entre outras espécies nativas, enquanto que
nas margens das ribeiras crescem arbustos como gilbardeiras e heras. Por outro
lado, nas zonas de pinhal, encontramos o tojo, a carqueja ou murta.
Águias como a calçada ou a águia-de-asa-redonda, ou ainda
papa-figos que por aqui nidificam nas estações quentes, são avistados com
frequência nesta zona pelos caminhantes. Na verdade, muitas são as espécies de
animais, incluindo insectos, que habitam esta região. Realçamos, por exemplo, a
borboleta do medronheiro ou a borboleta-maravilha, entre muitas outras espécies.
Ao nível do património construído, destaca-se a Travessa
do Encalhão, a fazer lembrar as ruelas das famosas aldeias de xisto, a zona do
Poço das Talhas, as antigas azenhas zelosamente recuperadas e onde hoje é de
nosso possível assistir à moagem de cereais, a pequena barragem do Cabril, a
antiga Fonte de Mergulho e a Fonte do Ribeiro, entre outros.
Além do extenso património existente na Rota da
Queixoperra, é possível observar diferentes tipologias de paisagens e diversos
ecossistemas típicos desta zona geográfica. Por fim, salientamos ainda a
existência de uma geologia diversa, com especial destaque para as Marmitas das
Azenhas (geossítio) e para as pistas de fósseis na Serra do Carvalhal. |
“Antes do abastecimento público da água à aldeia de
Queixoperra, todas as pessoas tinham de ir à fonte buscar água para matar a
sede, cozinhar, lavar a loiça, para a higiene pessoal, para os animais. A água
era um bem essencial que não podia faltar em casa.
Tarefa maioritariamente feminina, eram muitas as mulheres
e raparigas que se encontravam na fonte, todos os dias, aproveitando para
conversar até que os cântaros se enchiam. Era também um ponto de encontro nessa
época para os rapazes solteiros encontrarem as raparigas, havendo o truque de
roubarem as rodilhas para ficarem mais um pouco à conversa e talvez lhe cedessem
um beijo em troca do objecto roubado.
Na minha aldeia, todos os anos a fonte era enfeitada pelo
São João. Os rapazes e as raparigas iam buscar rama de eucalipto e fetos para
fazer sombra durante os meses de verão e enfeitavam-na com balões, cadeados e
harmónios. Em volta da bica a correr água, era posto um arco feito com murta,
São João, cravos e uma campela. Dizia-se ainda que a água na noite de São João,
antes do nascer do sol era Santa. Então as mães iam buscar água e benziam os
filhos na cama, alguns até choravam porque a água estava muito fria.
Além da fonte da Bica, com data de 1926, existiam mais
duas fontes: a Fonte do Cerejeiro e a Fonte do Ribeiro, sendo esta de mergulho.
A minha mãe fez o percurso entre a sua casa e a Fonte da
Bica, durante muitas décadas, sempre com o cântaro à cabeça, sem precisar das
mãos par o equilibrar. Só quando as forças lhe faltaram, deixou de fazer este
percurso.”
Excerto do livro “A CASA DA MINHA AVÓ” de Lurdes Vicente (Queixoperra). |