O Coreto
Localizado no largo há muito conhecido pelo Largo da Cruz, por aí existir um cruzeiro de pedra.
Mas esse foi desmontado em 1884 tendo talvez as suas pedras sido aproveitadas para a construção do novo coreto, uma pedra seguiu para a fonte de S. João, onde ainda se encontra.
Em 1913 decidiu a República criar o Dia Nacional da Arvore, passando o largo a ter nova toponímia, Largo 9 de Março, de acordo com os novos valores da Republica. Mas a memória do povo não esquece e ainda hoje é conhecido pelo Largo da Cruz.
No inicio de 1921 pensava-se num melhor aproveitamento do Largo 9 de Março. Falava-se na regularização e calcetamento. Simultaneamente surgia a ideia de aí se fazer um coreto.
Em Maio desse mesmo ano M.J.P. toma a seu cargo a abertura duma subscrição para as obras, que efectivamente apenas começariam um ano depois.
Em Agosto de 1924, a Filarmónica ainda não tocava no coreto, cujas obras estavam atrasadas e se arrastavam. Constituiu-se então uma comissão com vista á angariação de mais fundos e execução do que faltava, e foi reunida a quantia de mil duzentos e cinquenta escudos.
Em Abril de 1925, o coreto estava pronto. O pior foi pagar a estrutura metálica á oficina, que apresentou uma factura de oito contos e quinhentos, o que foi considerado uma exorbitância, numa altura em que um quilo de pão custava sessenta centavos. Parece que ainda não foi paga.
Teve lugar a inauguração, a 24 Junho de 1925, durante as festas de São João, com exibição da Filarmónica, ranho das tricanas, rancho infantil, iluminações a electricidade através de um gerador, já que a ligação do Paião à rede eléctrica só teve lugar em 1946.
Teve então o Largo e Coreto vida animada durante décadas, fosse nas brincadeiras de crianças ou em concertos da Banda Filarmónica ou actuações dos afamados ranchos do Paião.
Os nossos vizinhos dos Carvalhais, pelo menos os mais velhos, ainda chamam ao Coreto, em ar de troça, o Frigorifico. Não se sabe bem de quem foi a culpa, mas há coisa de 60 anos ou mais, numa noite de inverno, lá foi metido, na parte inferior do coreto, preso ou detido um desgraçado que lá morreu, gelado e esquecido.
Diz-se que ainda se ouve os gemidos do coitado à noite. Se lá forem confirmem.
A cabine telefonica ainda funciona, a moedas.
Levem algo para escrever. Logbook verificado periodicamente.
Parcialmente retirado do livro “Paião” de Eurico Silva
