O paquete que fazia a travessia de Yokohama a São Francisco pertencia à Companhia do “Pacific Mail Steam”, e chamava-se General Grant. Mantendo as suas doze milhas por hora, o paquete não deveria levar mais de vinte e um dias para atravessar o Pacífico. Phileas Fogg acreditava que chegando em 2 de dezembro a São Francisco, estaria dia 11 em Nova Iorque e dia 20 em Londres — antecipando assim em algumas horas a data fatal de 21 de dezembro.
Durante esta travessia não se deu nenhum incidente náutico. Mr. Fogg estava tão calmo, tão pouco comunicativo como de costume. A sua jovem companhia sentia-se cada vez mais e mais ligada àquele homem por outros laços que não os do reconhecimento. Esta silenciosa natureza, tão generosa em suma, impressionava-a mais do que suspeitara, e fora quase sem dar por isso que ela se deixou levar por sentimentos dos quais o enigmático Fogg não parecia sentir nenhuma influência.
Além disso, Mrs. Aouda interessava-se extraordinariamente pelos projectos do gentleman. Inquietava-se com os contratempos que poderiam comprometer o êxito da viagem. Conversava frequentemente com Passepartout, que não deixava de perceber o que se passava no coração de Mrs. Aouda. O bravo moço tinha, agora, a respeito do seu patrão, uma fé cega; não se fartava de elogiar a honestidade, a generosidade, a dedicação de Phileas Fogg; depois tranquilizava Mrs. Aouda sobre o sucesso da viagem, repetindo que o mais difícil já passara, que haviam saído dos países fantásticos da China e do Japão, que retornavam às regiões civilizadas, e que afinal um comboio de São Francisco a Nova Iorque e um transatlântico de Nova Iorque a Londres bastariam, sem dúvida, para concluir esta impossível volta ao mundo no prazo combinado.