Maria de Lima Mayer Ulrich (1908-1988) teve a influência francesa por parte de sua mãe e alemã pelo seu pai. Na sua memória as vivências da convivência com seu avô materno, Carlos Mayer, do grupo de “Os Vencidos da Vida”. Depois de ter estudado filosofia e literatura francesa, acompanhou seu pai, em serviço diplomático, no ano de 1934, e viveu em Londres onde ficou “fascinada com a vivência de um comportamento democrático que contrastava em tudo com o que se vivia em Portugal”. Ao voltar a Lisboa sente dificuldade em adaptar-se, mas consegue fazê-lo ao aderir à Juventude Independente Católica Feminina. Em 1985 afirmou: “Não eram santinhas devotas e cumpridoras dos seus deveres religiosos que interessavam, mas autênticas revolucionárias que quisessem transformar toda a sociedade em seu redor começando por aqueles sectores onde viviam e onde se definiam as suas responsabilidades concretas”. Foi nessa altura que sentiu que o problema mais premente em Portugal era o da educação, resultante de inquéritos feitos por todo o país. Tal facto levou a que tivesse aproveitado uma estadia em Londres para elaborar as bases de uma escola de educadoras de infância, e aprendendo com as escolas Montessori e as Escolas Activas em Paris. Também se dedicou a estudar história da educação, particularmente Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Clapaède e Freinet. É com estas ideias que inaugurou em 1954 uma das primeiras escolas de educadoras do país, “surgindo independente, sem meios, sem subsídios, como uma aventura”. “Considera que o mundo depende dos novos e que os novos são o que for a sua infância”. “O nosso objectivo era muito mais amplo e universal: o de contribuir por todos os meios para a melhor solução do problema da educação em Portugal”. Para completar esta ideia, em 1954 fundou a Associação de Pedagogia Infantil e que é constituída pela Escola de Educadoras de Infância e pelo colégio “O Nosso Jardim”. Em 1974 a Escola passou a contar com um Centro de Documentação, com o apoio da Fundação Gukbenkian. Consideram os autores do texto (Luisa Vian Alves e Elísio Gala) que Maria Ulrich “mais do que uma pedagoga, foi sobretudo e essencialmente uma educadora que soube dar um cunho estratégico ao seu discurso e construir instrumentos concretos de intervenção abrindo assim novas perspectivas para a educação de infância”.
A porta do 240 da rua Silva Carvalho, nas Amoreiras, é ainda um segredo lisboeta, exclusivo e inesperado. Perduram as folies dos dias de Genoveva de Lima Mayer, que adotou o pseudónimo literário “Veva de Lima”, autora de numerosas peças de teatro e poesia. Com lugar cativo na galeria dos excêntricos de Lisboa, é uma figura marcante da alta sociedade dos anos 20, 30 e 40. É casada com Rui Ennes Ulrich (tio-avô do banqueiro Fernando Ulrich), monárquico e amigo de Salazar, professor de finanças na Universidade de Coimbra, que virá a ser diretor do Banco de Portugal (1914-1927) e presidente do conselho de administração da Companhia de Moçambique (1920-1933). E, por duas vezes, embaixador extraordinário e plenipotenciário em Londres.