Ermida da Nossa Senhora da Teixeira
A Ermida de Nossa Senhora da Teixeira foi edificada no século XVI, num espaço de terreno pertencente à Quinta da Teixeira. A sua fundação é explicada por lendas locais, que embora sejam contraditórias entre si, apontam como denominador comum o facto de este pequeno templo estar inserido nos caminhos de peregrinação para Santiago de Compostela (CAVALHEIRO, 2000, p. 10).
Apresentando um modelo edificativo simples, de gosto regionalista que lembra as ermidas rurais alentejanas, a originalidade deste templo reside no programa decorativo composto por frescos que cobrem quase totalmente o espaço interior e a galilé, executados nas últimas décadas do século XVI.
A ermida desenvolve-se em planimetria longitudinal composta por dois rectângulos, correspondentes aos espaços da nave e da capela-mor, precedidos por galilé. Esta é rasgada por três arcos de volta perfeita, e a cobertura do alpendre é decorada com pinturas a fresco. Sobre o portal foi pintado Cristo em Majestade, e pela abóbada espalha-se a representação do Juízo Final, "(...) dividido em duas partes ligadas entre si, representando a parte à mão direita da figura de Cristo os eleitos que se encontram no Paraíso, e a parte à esquerda os condenados ao Inferno." (Idem, ibidem, p. 17).
O interior da ermida, de nave única, encontra-se também totalmente decorado por pinturas murais. As composições dividem-se em temática mariana e cristológica, sendo enquadradas por molduras fingidas de gosto maneirista.
Assim, na parede lateral do lado do Evangelho, fazendo uma leitura da porta para a capela-mor, foram pintadas Nossa Senhora das Dores, Coroação da Virgem, Apresentação de Jesus no Templo, Epifania e Visitação (Idem, ibidem, pp. 21-22).
Na parede do lado da Epístola foram pintadas a Última Ceia, Jesus e Tomé, Aparição de Cristo à Virgem, Ressurreição, e Maria Madalena.
A abóbada que cobre este espaço é dividida em 20 quadros, separados por molduras rectangulares com florões, divididas por cinco tramos, representando figuras de Evangelistas, Apóstolos e Doutores da Igreja, e ainda a Visita de Nicodemus a Jesus (Idem, ibidem, pp. 25-30).
O arco triunfal apresenta um curioso conjunto de composições que figuram eremitões e peregrinos, numa possível alusão às lendas de fundação da capela (Idem, ibidem, pp. 30-31). A capela-mor comporta ao centro um altar de talha de modelo maneirista com dois registos, integrando na predela telas com representações da Anunciação, Nascimento de Cristo, Ecce Homo e Santa Luzia, e o registo superior São João Baptista, São Filipe e Santo António e São Jerónimo.
Na parede do lado do Evangelho foram pintadas as figuras de Cristo e a Virgem e o Martírio de São Sebastião, e ainda uma faixa decorada com motivos de grutesco (Idem, ibidem, pp. 31-32). Na parede fronteira foram pintados, da esquerda para a direita, "(...) um candelabro, uma cabeça de Cristo, uma cruz patada e outro candelabro(...)", em conjunto com a Flagelação de Cristo, e outra faixa com grutescos (Idem, ibidem, p. 32). A abóbada foi decorada com uma representação "ingénua" de Cristo em Glória rodeado por anjos músicos.
A autoria deste programa pictórico é ainda desconhecida, embora se atribua a encomenda da obra a Frei Jordão do Espírito Santo, eremita responsável pela Ermida da Senhora da Teixeira no último quartel do século XVI. No conjunto salienta-se a qualidade pictórica e de composições, que embora apresentem alguma "ingenuidade" no traço, são mostra evidente de actualização com os modelos pictóricos então vigentes.
Catarina Oliveira
IPPAR