Igreja Matriz do Torrão
Subsistem muitas dúvidas a respeito da cronologia exacta em que se ergueu a primeira igreja matriz do Torrão. O actual templo, eventualmente herdeiro de uma construção baixo-medieval, pertenceu à Ordem de Santiago, legítima proprietária da região durante os primeiros séculos de domínio cristão pós-reconquista, e, ao que tudo indica, localizava-se junto ao paço do comendador santiaguista, situado fora das muralhas da vila.
A actual configuração do templo, todavia, não recorda essa primeira fase e data de inícios do século XVI, altura em que o monumento foi objecto de uma reforma integral. Dessa época conservam-se ainda importantes vestígios manuelinos, que ajudam a compreender a expansão da linguagem artística do reinado de D. Manuel pelas terras do Sul ocidental, periféricas em relação aos principais eixos viários da altura.
O portal principal é o mais relevante elemento dessa conjuntura e é uma obra relativamente modesta, embora plena de sentido estético e de propaganda política. Com duas arquivoltas, é de arco ligeiramente trilobado, sobre o qual se implanta um escudo real. O vocabulário estilístico não deixa margem para dúvidas, destacando-se as bases poligonais, os capitéis facetados e a ampla decoração fitomórfica de acentuado exotismo - à base de entrançados vegetalistas de onde pendem ananáses - entre os colunelos que definem as arquivoltas.
No interior, conservam-se também alguns elementos de realce, como o corpo da igreja, que é tripartido e seccionado em cinco tramos de arcos formeiros que, por sua vez, assentam em pesadas colunas cujos capitéis são decorados com motivos vegetalistas característicos do período manuelino.
A estrutura planimétrica do templo é algo complexa e revela bem as múltiplas intervenções que ocorreram ao longo da época moderna. Assim, à estrutura-base conferida pelas primeiras décadas do século XVI (corpo de três naves e capela-mor rectangulares), associam-se oito capelas e uma torre sineira, para além de duas sacristias. A capela-mor não é já a original, datando eventualmente do século XVII. Antecedida por arco triunfal de arco de volta perfeita, de feição toscana, ostenta um retábulo rococó de ampla tribuna axial, mas de méritos artísticos notoriamente modestos, proveniente da igreja do Sacramento, de Lisboa. A torre sineira é de secção quandrangular de dois andares e possui vãos sineiros de volta perfeita, encimados por cornija com pináculos e remate piramidal a eixo.
Alvo de algumas modificações no século XVIII, altura em que se enriqueceu o seu interior com outras obras de retabulária, só no século XX se procedeu ao restauro do conjunto. Nos primeiros anos da década de 40 refez-se a abóbada da capela-mor. Por essa mesma altura, o retábulo-mor original foi retirado para fazer parte da Exposição do Mundo Português e os azulejos seiscentistas, que revestiam as paredes da nave, foram suprimidos para serem aplicados na igreja de Nossa Senhora do Pópulo, das Caldas da Rainha. Novas obras tiveram lugar na década de 70, mas limitadas ao reforço e consolidação das estruturas.
Fonte: Direcção-Geral do Património Cultural
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