A década de 1910-1920 é afectada, como todo o país, pela guerra e pela gripe pneumónica. É a partir daí que se inicia a verdadeira transformação desta vasta área, em função da proximidade e da atracção da capital, transformação que não se fez de forma homogénea.
Pela década de cinquenta, os lugares mais no interior viviam ainda uma vida rural não mais de auto-consumo, mas virada para as necessidades crescentes da cidade, na qual a produção de leite era a principal fonte de receita, e ensaiavam as primeiras cooperativas de produtores, associadas para a distribuição de leite e fabrico de manteiga e queijo e sua comercialização.
As aldeias, de casas baixas, quadrangulares, telhados de quatro águas, onde ainda não era raro sobressair alguma casa antiga de quinta, de andar, com beirais revirados (de feição oriental), começam a ser invadidas por veraneantes; primeiro, alugam-se as casas dos camponeses que, durante esse tempo, passam a viver em barracos no quintal ou em casas de pessoas de família; depois, elas começam a ser compradas e logo aparecem melhoradas, caiadas, rebocadas; finalmente, inicia-se a venda de terrenos para construção.
Das construções de veraneio às permanentes, da iniciativa de empreiteiros, foi um passo: e o desaparecimento das velhas aldeias e dos velhos modos de vida foi um processo acelerado. Este pode considerar-se geral, mas não simultâneo: por acasos de fortuna, uns lugarejos antecipam-se a outros, sem que para isso interferisse a posição ou proximidade do grande centro urbano.
Com os núcleos residenciais instala-se o comércio corrente e alguns serviços; nos mais populosos, ou de maior nome tradicional, instalam-se ou desenvolvem-se escolas secundárias; em breve se tornam lugares de residência permanente, cada vez mais procurados e, por isso, alastrando mais para além dos limites tradicionais. Há velhas aldeias inteiramente absorvidas pelas construções modernas, sendo um dos melhores exemplos Sassoeiros, não longe de uma das mais antigas e importantes povoações rurais do termo da cidade: São Domingos de Rana. Esta é uma evolução contínua de pouco mais de uma vintena de anos (…).”
In TEIXEIRA, Carlos A; CARDOSO, Guilherme; MIRANDA, Jorge - Registo Fotográfico da Freguesia de S. Domingos de Rana e Alguns Apontamentos Histórico-Administrativos, Cascais, Associação Cultural de Cascais, 2003, p. p. 23-24 e 29