Há 152 anos, em 28 de Outubro de 1856, foi inaugurado o primeiro troço ferroviário em território português. Ligava Lisboa à povoação do Carregado, a escassos 36 km de distância. Inicialmente construídas em bitola de 1,44 m, as vias portuguesas mudam, em 1861, para a bitola de 1,67 m a fim de se ajustarem à rede espanhola que, por motivos políticos – a memória demasiado fresca das invasões napoleónicas – foi construída nesta última, mais larga. O intuito era impedir a utilização da ferrovia por uma sempre possível, pelo menos à época, invasão francesa. Em 1863 a Linha do Leste, do qual fazia parte o troço inaugural de Lisboa ao Carregado, chegava finalmente à fronteira. Lisboa ligava-se ao mundo através dum meio de transporte moderno e tecnológico. Ao Norte o comboio chegou ligeiramente mais tarde. Só em 1875 é que foram inauguradas as Linhas do Minho (do Porto a Nine e Braga) e do Douro (do Porto a Penafiel). Também nesse ano foi inaugurada a Linha do Porto à Póvoa. A esta última vai ser-lhe atribuída, 127 anos mais tarde, no dia 7 de Dezembro de 2002, a honra de inaugurar o sistema de metropolitano ligeiro do Porto. Em 1877 é finalizada a Ponte Maria Pia sobre o Douro. Construída pela famosa Casa Eiffel, lançada entre o Porto e Vila Nova de Gaia, estabelece finalmente a ligação física entre Lisboa e o Porto por caminho-de-ferro. Esta obra de arte é, sem dúvida, a mais emblemática obra de engenharia ferroviária construída em Portugal. Novas linhas são projectadas e construídas. A norte duas ligações internacionais foram estabelecidas: em 1886 o Porto liga-se à Galiza através de Valença, na Linha do Minho, e a Linha do Douro, fruto da vontade dos burgueses do Porto, liga-se a Salamanca em 1887. Até 1949, com a chegada do comboio a Arco de Baúlhe, terminus da Linha do Tâmega, o caminho-de-ferro português, com altos e baixos, e crónicas dificuldades financeiras, expande-se. Ponte São João (Porto~Gaia), Linha do Norte, 2006 Mapa dos caminhos de ferro portugueses em 1895, Biblioteca Nacional Digital, http://purl.pt/3367/1/ Nas três décadas seguintes alguns avanços são alcançados, nomeadamente a introdução da tracção diesel e depois a tracção eléctrica a 25.000 volts. Chegou primeiro, em 1956, à linha de Sintra e ao troço Lisboa – Carregado. Em 1966 é finalmente inaugurada a electrificação de Lisboa ao Porto. A partir dos finais dos anos sessenta, reunindo consideráveis e incomuns meios financeiros, executa-se a Renovação Integral da Via (RIV), privilegiando já, tal como nos nossos dias, o eixo Braga – Lisboa. Em 1975 a CP, que já era detentora da concessão única, é nacionalizada pelo governo revolucionário. A partir da década de oitenta, duas tendências opostas e contraditórias tornam-se norma até aos dias de hoje. Por um lado encerram-se vias, principalmente em Trás-os-Montes, no Alentejo e noutras regiões interiores. Viseu, uma importante capital de distrito que conseguiu um desenvolvimento notável nas últimas décadas, viu ser-lhe retirado o serviço ferroviário em 1988; por outro lado modernizam-se as redes que servem as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto onde novo e moderno material circulante é introduzido. Em 1988, o Conselho de Ministros, presidido por Aníbal Cavaco Silva, aprova o “Plano de Modernização dos Caminhos de Ferro 1988-94”. Na sequência deste plano, que apostava exclusivamente nos sistemas ferroviários das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e também nos principais eixos de longo curso, sobretudo no eixo Braga – Faro, cerca de 770 km de via-férrea foram definitivamente encerrados.