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Júlio Dinis é o pseudónimo que foi usado por Joaquim Guilherme Gomes Coelho, médico e escritor nascido no Porto a 14 de Novembro de 1839, cidade onde veio a falecer a 12 de Setembro de 1871, com apenas 31 anos, vítima de tuberculose.
Uma das suas teses favoritas era a do efeito regenerador da vida rústica sobre um sujeito deprimido pela vida urbana. Foi então seguindo esta sua filosofia que se transferiu temporariamente para Grijó e posteriormente para Ovar, tendo ainda passado por duas vezes pela ilha da Madeira. Com estes "refúgios" tentava encontrar a cura para a sua doença no ambiente mais salutar da província.
Os locais por onde passou e as pessoas com quem viveu ou contactou na vida real serviram a Júlio Dinis de inspiração para as suas obras.
Entre elas está "A Morgadinha dos Canaviais", cujo enredo se desenvolve tendo por base de inspiração a Quinta dos Canaviais, em Grijó, e as pessoas que a frequentavam ou que desenvolviam relações com a mesma.
Vários elementos da família do Morgado dos Canaviais, bem como algumas das suas propriedades, são retratados nos romances de Júlio Dinis, que tinha ascendência famíliar comum à família do morgadio. Foi, aliás, numa das quintas que era propriedade do morgadio, a Quinta de Alvapenha, que Júlio Dinis ficou alojado durante a sua permanência em Grijó.
A obra "A Morgadinha dos Canaviais" ilustra a tese do efeito regenerador da vida rústica, que acaba por ter contornos muito semelhantes aos vividos pelo autor durante a sua permanência em Grijó.
'A história inicia-se com a personagem principal, Henrique de Souselas, órfão e rico , que se encontrava doente devido ao diletantismo e à sensação de inutilidade da vida urbana.
Por esse motivo resolve instalar-se em casa da sua tia Doroteia, a conselho de seu médico. Aí se restabelece e conhece Madalena, a elegante, inteligente e enérgica morgadinha, e apaixona-se por ela. No entanto, este amor não é correspondido e torna-se incómodo tanto para Madalena, que não gosta de Henrique, como para Augusto, que vê em Henrique um rival. Augusto é um professor primário pobre e honesto e que vive com Vicente, o herbanário de Nogueira de Regedoura, que veria a sua casa destruída pela construção de uma estrada. Augusto nutre, desde criança, um amor secreto por Madalena, a Morgadinha dos Canaviais. Augusto e Madalena correspondem-se secretamente por cartas e entre eles cresce um amor intenso que longo do romance o autor vai desvendando. Certo dia, Henrique, na taberna, ridiculariza o morgado das Perdizes sendo agredido por ele e pelos sujeitos que a frequentavam. Combalido pela valente surra, Henrique conhece Cristina, uma rapariga pura e inocente, amiga de Madalena, que o tratou com paixão e carinho durante 2 semanas e por quem acabaria por se apaixonar. Henrique pede a sua mão e casa com a Cristina. Por outro lado o amor secreto de Madalena e Augusto é revelado e acabam por namorar.'
Este romance é uma das obras mais conhecidas de Júlio Dinis que, tendo já sido adaptada a peça de teatro como muitas das obras do autor, já deu também origem à realização de um filme, em 1949, por Caetano Bonucci. Mais recentemente, em 1990, foi também adaptada a minissérie da RTP.
Actualmente pouco resta de toda a extensa área que em tempos formava a Quinta dos Canaviais. Por aqui apenas é possível apreciar a antiga casa da quinta, restaurada e aumentada, e o portal de entrada para as terras da quinta, que foi preservado no local original. Toda a restante área foi ao longo dos anos urbanizada, tendo sido implantados lotes de moradias no "último reduto" da já praticamente desaparecida Quinta dos Canaviais.
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