O Eremita
Ele era um homem singular cuja presença junto a sua casa em plena serra coabitava com a Natureza numa beleza magnífica e um cenário envolvente.
Seu nome: Francisco Maria Pombo, natural de Sassoeiros, Carcavelos, o qual teve várias alcunhas, o “Chico Coradinho” como era conhecido na terra natal, ou “Chico de Carcavelos” e o “Chico das Saias” como lhe chamavam as gentes locais.
O Chico casou-se a 12 de Dezembro de 1944 o qual foi morar em Aldeia de Oleiros em Azeitão, mas foi um casamento falhado. Foi então que decidiu por uma vida solitária onde veio a construir a sua primeira cabana entre duas rochas, na base da falésia que dá acesso ao Formosinho afastado de tudo e de todos, ele lá tinha as suas convicções pelo que se distinguia dos demais, por isso lhe puseram a alcunha do "Chico das saias.
Lembro-me de ter passado a porta dele uma ou duas vezes eu era um jovem já lá vão muitos anos ele era uma pessoa conversadora, trabalhadora e respeitado pelas gentes locais, sabia ler e escrever e um grande contador de anedotas. Contava ele que quando era novo, tirou a carta de tractorista e até chegou a conduzir os autocarros lá na terra em Sassoeiros.
Começou por fazer carvão onde depois o vendia em Azeitão e assim ia sobrevivendo, anos mais tarde é que veio para o lugar que hoje conhecemos construindo aí sua nova cabana com um pedaço de chão em volta onde semeava e plantava os legumes para seu sustento. Também ia arranjando uns trabalhitos ali pelas quintas de Casais da Serra, Calhariz e outras que necessitavam de uma pessoa para trabalhar na agricultura, mas sempre vestido com seus trajes habituais.
Um dia pensou em comprar uma motorizada para se deslocar para o trabalho e assim o fez, mas algum tempo depois teve um acidente na motorizada ali nos Brejos de Azeitão, o vento levantou-lhe as saias que eram plissadas e tapou-lhe a visibilidade, ele atrapalhou-se e caiu partindo uma perna, como ja tinha uma certa idade desde esse dia a sua vida nunca mais foi a mesma.
Alguns anos depois, já com idade avançada foi para um lar perto do alto das Necessidades mas por pouco tempo, dizia que não gostava de lá estar porque os outros gozavam com ele e voltou para casa de um casal amigo no Vale da Rasca, onde permaneceu durante algum tempo. Meses depois, já muito debilitado e doente deu entrada num lar em Azeitão, onde ali passou o resto dos seus dias falecendo a 6 de Janeiro de 2007, com 94 anos.
Estas são algumas passagens da vida do Chico, contadas na primeira pessoa de quem com ele conviveu ao longo de muitos anos. Fernando Vicente e Maria Odete que sempre o apoiaram e acolheram em sua casa nos momentos que mais precisava, por isso aqui fica esta pequena homenagem a uma pessoa que também conheci e que hoje é um ponto de referência a quem lá passa á casa do "Chico das saias".
O conteiner é uma réplica da casa de madeira onde viveu o personagem desta história aqui ao lado deste local, o qual se pede algum cuidado ao retirar assim como ao colocar para não cair e se estragar com a intempérie.
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Boas cachadas