O encalhe do cargueiro “Merle”
Escolhi o dia de hoje para ir ver o navio encalhado. Podia ter ido ontem, mas o tempo ainda não se apresentava agradável para percorrer a estrada oeste da ria de Aveiro e depois já imaginava, por ser Domingo, que iria ser dia de São Navio. Acho que acertei no dia e na hora, meio da tarde, pois não havia muito transito, mas mesmo assim não consegui evitar a inconveniência de um ou outro aguaceiro.
Seguindo o caminho para S. Jacinto, alguns quilómetros depois da Torreira, revelou-se fácil encontrar a entrada que dava acesso à praia na zona do Muranzel, em virtude da quantidade de carros estacionados na berma da estrada. Percorrido o carreiro de terra e areia, com água e lama à mistura, durante uma boa meia hora, lá estava o navio solidamente plantado na areia, levemente acossado pelo mar e apresentando uma ligeira inclinação sobre a proa, enterrada cerca de 1,30 metros, conforme verificação através da escala do calado. Ambas as âncoras e respectivas correntes estão também enterradas na areia e os orifícios onde operam as hélices de proa, estão igualmente quase cobertas, certamente deixando de serem vistos nos próximos dias, face à natural acumulação de areia trazida pelo mar.
Depois de circundar o casco do navio, que se encontra em bom estado, não se revela perceptível entender por onde possa ter entrado água na casa da máquina, provocando a avaria da mesma, segundo explicação dada como causa do naufrágio, até porque o navio navegava vazio, mas lastrado, com uma altura de bordos consideravelmente superiores ao habitual quando completamente carregado. O que também não entendo é o motivo do cargueiro estar a navegar numa linha paralela à costa na ordem das seis milhas, quando as condições atmosféricas aconselhariam uma navegação mais ao largo, onde provavelmente encontraria uma ondulação significativamente inferior. Enfim…
Analisado o histórico comercial do “Merle”, constato ser um navio que conheci muito bem, enquanto batizado com o nome “Freya”, durante os meus anos ligados à actividade portuária. Com efeito, houve um período durante os anos 90, que recebia a visita praticamente quinzenal deste navio em Leixões, num tráfego direto estabelecido com o porto de Roterdão. E fazia escalas igualmente em Lisboa e em Aveiro. Transportava para Portugal diversos tipos e embalagens com chapa de aço, de origem francesa, belga e alemã, carregados em Vlaardingen, regressando ao mesmo porto completamente carregado de granito e madeira. Esta mercadoria era depois transferida para barcaças, que por sua vez seguiam Reno acima com destino a vários portos e entrepostos na Alemanha.
Navio-motor “Merle”
2007-? (em serviço)
Nacionalidade: Ilhas Cook
Nº Imo: 8918306 - Iic.: E5U2648 - Registo: Avatiu
Construtor: Werf Vervako, Heusden, Holanda, Jan/1991
ex 'Freya', Pistoor Schiffahrts KG., Leer, 1991/1996
Arqueação: Tab 1.548 tons - Peso morto 2.412 tons
Dimensões: Ff 79,60 mt - Pp 74,90 mt - Boca 11,30 mt
Propulsão: Deutz - 1:Di - 6:Ci - 816 Bhp - 10 m/h
Equipagem: 6 tripulantes
A Cache:
Trata-se de um conteiner pequeno com Stashenote, e logbook, nao tem material de escrita, o que aconselho a levar algo pra escrever. Se possivel tirem fotos vossas e coloquem no log.
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