Vindo de Loriga para Alvoco, pela EN 231, algumas centenas de metros antes de chegar à povoação alvocense, encontramos uma placa à esquerda indicando a «Cama da Moura». Paremos aí a viatura e comecemos a caminhar. Vai valer a pena…
Logo que encontremos o primeiro entroncamento, viremos à esquerda e comecemos a subir em direcção ao cimo do monte.
O ar puro da montanha leva-nos à cumeada onde se localiza o peculiar conjunto de monólitos, tendo na parte de cima de um deles, a famosa «Cama da Moura», ao que parece, uma inscultura natural.
A mil metros de altitude, estamos num autêntico lugar mágico, facilmente entramos num outro espaço-tempo, daqueles que nos faz viajar a alma.
Diz a lenda que uma linda princesa moura vivia feliz, despreocupada, regando os seus rios de felicidade com a magia do seu canto. Mas o amor, sempre imprevisível, enviou-lhe uma seta e o seu coração ficou louco de paixão por um pobre e elegante pastor. Escusado será dizer que o rei, seu pai, não aceitou esse belo tálamo serrano e, exasperado, lançou um encantamento à sua própria filha: ficou «presa» a uma rocha e só seria libertada dessa mágica prisão, quando um dia crescesse centeio na pedra do sortilégio. O pastor, também loucamente enamorado, via sangrar a sua alma pedindo ajuda ao amplo céu estrelado para desencantar a sua princesa. E a ajuda veio. Lembrou-se de colocar terra em cima da rocha e semear centeio. Assim o fez e, depois de muito esperar, o cereal cresceu, cortou-o e assim quebrou o encanto. Livres, a princesa e o pastor viveram muito felizes.
É esta a lenda que vive no lugar mágico da Cama da Moura.
Sabe-se hoje que estas lendas não estão necessariamente relacionadas com os muçulmanos, em grande parte Berberes, que dominaram o território português do século VIII ao XII (no Sul estendeu-se até meados do século XIII). Para a tradição popular, sobretudo a centro e norte do país, os «mouros» são os antigos ou os espíritos, como as fadas dos irlandeses ou as korrigane dos bretões. Note-se que, muitas vezes, estes mouros ou mouras, aparecem e têm o poder de causar prodígios na noite de S. João. Amiúde, estas mouras estão associadas a lendas em que frutos se transmutam em ouro, como é o caso do homem que recebeu um figo de uma mulher, na Malhada da Sernada, e esse mesmo figo se transformou em ouro. Soube depois que essa mulher era uma moura encantada.
O ouro, símbolo da perfeição, do fogo solar materializado na terra, do que é incorruptível, está muito presente nas lendas serranas.
A cache está junto à «Cama da Moura», na montanha mágica da Estrela…
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