CAPELA DE NOSSA SENHORA DA NATIVIDADE -------------------------------------------------------------------------------- A história da sua construção No limiar dos anos trinta, MEM MARTINS era, tal como as localidades circunvizinhas, uma pequena aldeia onde viviam e laboravam os seus habitantes, cerca de 20 famílias, dedicando-se ao amanho das terras, pobres de fecundidade e ainda a duas actividades industriais – passe o pretensiosismo do termo – à exploração do mármore e ao fabrico de queijadas. No mármore havia só um industrial, o Zé d’Outeiro, de seu nome JOSÉ PEDRO DE OUTEIRO, que explorava a sua pedreira de mármore preto, único no País e talvez no mundo, pena sendo que as características desta pedra a tornassem, com o evoluir do comércio, bastante onerosa, estando actualmente estagnada a sua exploração. Sendo MEM MARTINS um localidade servida de fácil transporte para Lisboa – o “pouca terra” levava hora e picos com direito a chamusco! – dotado de boas águas e óptimos ares indicados para a cura de vários males, incluindo o “mal d’amor”, começou a ser frequentada por veraneantes, os quais, senão todos a grande maioria, graças aos predicados atrás referidos , por cá se foram radicando. Entre outras as famílias: Fontes, Roy, Alvarez, Mourinho, Anjos Teixeira, Caminha, Guilhermina Silva, Álvaro de Sousa, Cortês, Salvação Barreto, Namorado de Aguiar, Sasseti, Queirós de Barros, Henrique Pereira, Tomaz de Lima, João Silva Marques, etc., etc … Em meados de 1930 e depois da experiência da construção da Escola Guerra Junqueiro, construída só com a carolice e bairrismo do povo de MEM MARTINS, em colaboração com alguns dos citados veraneantes, aproveitando o entusiasmo do êxito alcançado, a mesma gente de bem meteu mãos à obra e arcou com a responsabilidade de levar por diante a construção de uma Capela, coisa rara nas redondezas, já que a mais próxima era a Igreja Matriz de S. Pedro de Penaferrim. Formada a Comissão aos vinte dias do mês de Agosto de mil novecentos e trinta – chamada COMISSÃO DE MELHORAMENTOS DE MEM MARTINS – encabeçada por esse bairrista nato que se chamou Artur Soares Ribeiro o qual foi também o impulsionador da construção da Escola, esta Comissão era composta, além do atrás já mencionado, pelos Senhores: - Dr. Joaquim Moreira Fontes - António Lopes Alvarez - Henrique Conceição Pereira e pelas Senhoras: - D.ª Antónia Gomes da Costa Fontes - M.me Marie Claire Roy - D.ª Maria de Deus Lopes. Esta Comissão foi mais tarde, conforme deliberação tomada por unanimidade – Acta n.º 3 de 4 de Novembro de 1930 - , reforçada com a adesão dos Senhores: - José Vicente - Manuel João Morais - Joaquim Henriques - José Pedro d’ Outeiro - Manuel Hilário - António Dionísio e - Vicente Regalo. Para a construção da dita Capela foi adquirido um terreno desanexado do baldio então chamado “Rocio da Fonte”, à Câmara Municipal de Sintra, em hasta pública efectuada nos Paços do Concelho em 23 de Outubro de 1930, pelos Srs. Artur Soares Ribeiro e Henrique Pereira, por Esc. 288$00, incluindo as despesas da sisa e da escritura! Posteriormente, os citados adquirentes, membros da Comissão, ofereceram a esta o terreno arrematado – Acta n.º 2 de 23 de Outubro de 1930. Baseado no projecto do Arquitecto Félix Alves Pereira e sob a responsabilidade de José Máximo dos Reis iniciaram-se as obras com o lançamento da primeira pedra, cerimónia que teve lugar no dia 29 de Março de 1931. Festa rija, prelúdio do que mais tarde viria a ser a NOSSA FESTA, com divertimentos e “atracções”, estas e aqueles orientados para atrair as “massas”, tão necessárias ao arranque do empreendimento. Deram solenidade ao acto, com a sua presença, além de todos os elementos da Comissão, os senhores: Abílio Cardoso em representação da C. M. de Sintra, Padre Carlos Azevedo, Escultor Anjos Teixeira, Dr. Guilherme Pinheiro, Jorge Soares, etc., tendo até sido filmado o acontecimento. Deste filme nada se sabe; perdeu-se-lhe o rasto. Sabe-se sim, e apenas, o que ficou registado no livro de contas da Comissão: “Verba 32 – Filmagem do lançamento da primeira pedra – 73$80”. Não teriam decorrido as obras no ritmo desejado, não devendo ser estranho a tal morosidade a falta daquilo que faz andar as obras: - o capital. No entanto, pedincha daqui, ajuda dali, cravanço dacolá, alicerçados na boa vontade da população que, muito embora não tivesse posses para grandes ajudas financeiras, correspondia com dádivas substanciais no sector da mão-de-obra, esses HOMENS vêem a obra concluída em 1933. Citar nomes de pessoas que colaboram com a Comissão, além de fastidioso seria desaconselhável, porque se correria o risco de qualquer omissão, há no entanto que referir o nome de Sua Majestade a Rainha Dona Amélia que, do exílio, enviou o seu donativo destinado à compra da imagem de Nossa Senhora da Natividade, a Padroeira escolhida, provando com essa sua atitude filantrópica o quanto gostava de Portugal e dos Portugueses. Também pela obra que legou à Capela merece referência o nome de Alfredo Carreiras. Foi ele, escriturário de profissão, marceneiro/entalhador por sacerdócio, que durante anos ocupou todos os seus tempos livres na feitura dos andores destinados às imagens existentes na Capela. Fazia-os ao ritmo de um por ano. Ali se podem apreciar os andores destinados a Sto. António, Sta. Tertesinha, Rainha Sta. Isabel e Sagrado Coração de Jesus, cada um com motivos alegóricos à imagem a que se destina. Autênticas obras de arte, pena sendo que, por razões desconhecidas, tenha deixado o mundo dos vivos sem ter conseguido o seu sonho: Dotar a Capela com tantos andores quantos as imagens que tradicionalmente desfilam na procissão. No verão daquele ano, com o pretexto de assinalar o acontecimento, organizam-se as Festas em honra da Padroeira, nos dias 3 e 8 Setembro, as quais tiveram a presença de destacadas entidades civis e religiosas. Dentre outras, o Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Sintra, Major CRAVEIRO LOPES – mais tarde Presidente da Republica – e Sua Eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa D. MANUEL GONÇALVES CEREJEIRA. Muito público e segundo o “DIÁRIO DE NOTICIAS” de 4 de Setembro: “ … assistiram às cerimónias pessoas em evidência na colónia de verão de Mem Martins e Sintra, com os Srs. Afonso Dornelos, Dr. Tomas Gambôa, Coronel Correia dos Santos, senhoras e entidades oficiais”. A atestar pelas individualidades presentes, fácil será deduzir que a Festa foi um êxito quer no aspecto social, cívico e religioso, quer também no financeiro pois, segundo consta do Balancete de 30 de Novembro de 1933, o saldo positivo foi de Esc. 665$10 a favor da Comissão e Esc. 221$70 a favor do Hospital. Não foi por acaso que as Festas de Mem Martins tiveram continuidade e chegara os nossos dias. Estava na mente dos organizadores que assim fosse pois as noticias inseridas no “DIÁRIO DE NOTICIAS” de 17 de Agosto de 1933 e no “SECULO” de 20 de Agosto de 1933 o deixavam antever. Rezam assim: “Esta Festa é o início duma romaria anual, que este ano deve ser muito concorrida, devido à forma como está organizada, havendo já muitos lugares marcados para barracas de negócio e divertimento”. A vontade dos HOMENS foi cumprida, as Festas, passado por algumas vicissitudes, chegaram aos nossos dias prosseguirão pelos tempos fora, graças à vontade de outros HOMENS. Os despretensiosos apontamentos que aqui ficam têm como objectivo: - Registar sucintamente, para a posteridade, como, quando põe quem foi erigida a Capela de Mem Martins, bem como tradição das FESTAS EM HONRA DE NOSSA SENHORA DA NATIVIDADE. - Prestar uma singela homenagem às pessoas que, com grande entusiasmo, enorme esforço e inabalável persistência, levaram a efeito aquela iniciativa, demonstrando o seu estranhado amor à sua terra natal ou onde se radicaram até aos últimos anos da sua vida. - E, finalmente, incentivar as gerações actuais, no sentido de manterem as tradições dos seus antepassados, procurando suplantá-los no amor e dedicação ao progresso da sua Terra.
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