LENDA DO PEGO ESCURO
Nos princípios do século passado morava nas proximidades do Pego Escuro um lavrador, que possuía muito gado, e tinha por isso criadores ao seu serviço. Um deles estava especialmente encarregado de guardar as vacas. Em certa noite foi o guardador em procura de uma vaca que se safara da Alpendurada, e viu que, horas depois, a vaca entrara no estábulo muito farta. O guardador preveniu o patrão e ambos a espreitaram nas noites seguintes. Em certa noite repetiu-se a cena: a vaca desprendeu-se da manjedoura, saiu, e voltou horas depois muito farta. Então resolveu-se o lavrador seguir a vaca, quando novamente a cena se repetisse. Uma noite, a vaca saiu, e o amo e o criador, acompanhando-a de longe viram que o animal se dirigia ao Pego Escuro; e logo, viram também que a água do pego se abrira, dando assim fácil entrada à vaca. Ficaram pasmados, e na noite seguinte, porque o criador tinha medo, foi a vaca somente vigiada pelo lavrador. Esperou o lavrador que a vaca saísse do pego, e nesse momento, uma voz dizia:
- Aí tens a tua vaca pesada. Daqui a pouco tempo parirá dois bezerrinhos: um estrelado e outro mourato. No fim de um ano junte-os ao arado e trá-los a este pego. É preciso que ninguém veja o leite da vaca enquanto criar os bezerrinhos.
O lavrador ouviu tudo perfeitamente e resolveu cumprir os desejos da voz oculta.
Tempos depois, a vaca pariu dois bezerrinhos, e o lavrador proibiu que alguém tratasse da vaca. Era ele que tratava a fim de que ninguém visse o leite. Pareceu estranho à mulher do lavrador o preceito imposto pelo marido ao criado. Na primeira ocasião azada aproximou-se da vaca e pôs-se a ordenha-la.
Com a presa caiu algum leite sobre as mãos da lavradeira, que logo as limpou no pêlo do bezerro mourato, que era o que lhe ficava mais próximo.
Logo que os bezerrinhos fizeram um ano, o lavrador lançou-lhes a canga e conduziu-os, jungidos ao arado, para o Pego Escuro. Chegou, a água abriu-se, e os animais entraram, ficando o lavrador de fora a espreitar. Viu ele os bezerros, no fundo do pego, darem uma volta, e a chapa do arado encravar-se numa grande caixa, cheia de dinheiro em ouro. Ao mesmo tempo ouviu a voz, que gritava:
- Força mourato, força mourato!
O bezerro mourato fraquejou.
Então ouviu a mesma voz:
- Ai, ladrão, que me dobraste o encanto! Perdeste o dinheiro. Alguém viu o leite da vaca!
Os bezerros não puderam sair do pego. O lavrador retirou-se para casa, triste e apoquentado. Soube pela mulher que ela fora a causa de não ficarem riquíssimos.
fonte: Oliveira , Ataíde. Monografia de São Bartolomeu de Messines. Algarve em Foco Editora, 1909. |