Miguel Torga foi um homem de grande cultura e de fina sensibilidade à beleza e harmonia, física e espiritual – quer se tratasse de pessoas, de lugares, das coisas, de monumentos ou arte – manifesta-se bem ao longo da sua obra.
BIOGRAFIA
Adolfo Correia da Rocha nasceu em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa (Vila Real), a 12 de Agosto de 1907 e faleceu em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995.
Adota o pseudónimo de MIGUEL TORGA porque eu sou quem sou. Torga é uma planta transmontana, urze campestre, cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras, rígidas, Miguel é um nome ibérico, característico da nossa península. Pesou também na escolha do pseudónimo a influência de dois grandes escritores espanhóis: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno.
Depois de ter concluído a 4ª classe “com distinção”, o pai disse-lhe: tens de escolher ... aqui não te quero. Por isso resolve: ou o seminário de Lamego ou Brasil.
"Daí a pouco tempo lá ia o rapaz rumo a Lamego: ia na frente, de fato preto, montado, a segurar o baú de roupa que levava diante de mim. Meu pai e minha mãe vinham atrás, a pé, ele com os ferros da cama às costas e ela de colchão e cobertores à cabeça", contará mais tarde em A Criação do Mundo. Aí permanece um ano. Durante as férias, e para grande satisfação da mãe, apoia a realização de eucaristias. Mas a sua decisão era outra. O Brasil passa a ser a única saída e para lá parte em 1920. Ficou em casa de uma tia que lhe impôs como obrigação, em todos os dias, carregar o moinho, mungir as vacas que davam leite para a casa, tratar dos porcos, prender as crias das vacas, curar bicheiros e procurar pelos matagais as porcas e as reses paridas. Um ano depois estava de regresso a Portugal.
O tio do Brasil prontificara-se a fazer dele um médico, custeando-lhe os estudos em Coimbra. Licencia-se em Medicina, aos 24 anos, especializando-se em Otorrinolaringologia. Começa por exercer clínica geral na sua aldeia mas a experiência foi negativa. Segue-se Leiria, uma cidade que gostava, mas, por causa das tipografias, optou por voltar a Coimbra.
O material que manda para a tipografia leva vários remendos colados uns sobre os outros. Chegam a ter umas sete e oito colagens. Por causa de uma vírgula é capaz de passar uma noite sem dormir...
Casou com a belga André Cabrée, professora universitária em Coimbra: vou tentar ser bom marido, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso, confessará, em A Criação do Mundo V.
Foi na cidade de Coimbra, onde viveu e exerceu, durante largos anos, a sua atividade clínica – situação em que usava sempre o mesmo ritual: uma bata branca – a par de uma intensa e contínua produção literária, que o escritor se afirmou, quer em Portugal, quer no estrangeiro, como um dos grandes cultores da língua portuguesa.
Chega a ser preso pela PIDE, tendo algumas vezes vontade de sair do país: Mas abandonar a Pátria com um saco às costas? Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, o Mondego, a luz de Coimbra, a biblioteca e as vogais da língua. Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles, seria um cadáver a respirar.
Nunca se filiou em partido algum: "o meu partido é o mapa de Portugal".
BIBLIGRAFIA
Considerado uma das mais marcantes figuras da literatura portuguesa do século XX, a vasta produção literária de Miguel Torga abarca géneros como a poesia, o romance, o conto, o ensaio, as conferências e, sobretudo, o memorialismo e a diarística, assumindo, de forma superior, um papel relevante na cultura portuguesa.
O escritor esteve ligado à Revista Presença e fundou as revistas Sinal e Manifesto. Recebeu vários prémios nacionais e internacionais e foi proposto, por três vezes –1960, 1978 e 1994 – para atribuição do Nobel da Literatura. Publicou, inicialmente, as suas obras com o nome de batismo, mas cedo se afirmou com o pseudónimo que o tornou famoso aquém e além fronteiras.
Com a entrada para a Universidade, em 1928, iniciou a criação literária, publicando dois livros: Ansiedade, que volta a ser mencionado na Antologia Poética (1981). Ambos os livros saíram com nome próprio.
Em 1934 aparece, pela primeira vez, com o seu pseudónimo em A Terceira Voz. Desde aí, até fins de 1994, escreve uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro. Alguns dos seus livros, como Bichos, contam já mais de vinte edições. Deixa 16 volumes dos seus Diários, quatro de Teatro, 15 de Poesia e 20 de Prosa.
Diversas obras de Torga foram traduzidas nas principais línguas de todo o mundo, incluindo o chinês.
Foram-lhe atribuídos diversos Prémios, de entre os quais se destacam o Prémio Literário Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional de Poesia das Bienais de Knokke-Heist (1976), que recebe em Bruxelas no ano seguinte, o Prémio Morgado de Mateus (1980), o Prémio Montagne (1981), o Prémio Camões (1990), o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio Écureuil de Literatura (1982, em Bordéus) e, finalmente, o Prémio Crítica 1993 do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários.
Região Duriense por Miguel Torga