A 4ª CACHE NA ROTA DO ROMÂNICO, a 2ª CACHE DO CAMINHO DE SANTIAGO.
Os Peregrinos de Santiago
A Igreja de Valadares desempenhou uma função importante no Caminho de Santiago, albergando os peregrinos que ali chegavam.
É sobretudo durante a Idade Média que Valadares ganha importância como lugar obrigatório de passagem de peregrinos vindos da região centro do país, que atravessavam o Douro em Mirão, Aregos e Ermida, convergindo, por três caminhos diferentes para a Igreja de Valadares, onde eram acolhidos para descansarem, dormirem ou serem tratados, seguindo depois para Compostela, por S. Gonçalo de Amarante.
Esta relevância dada à freguesia como lugar de passagem de muitos milhares de peregrinos ao longo de séculos explica o facto de igreja paroquial ter São Tiago como padroeiro.
O seguimento deste percurso, tanto se fazia depois, continuando por Bruzende, Viariz, Quintela, como pelo caminho que se dirigia a Campelo, passando por Amarelhe e Várzea, uma via muito frequentada na altura, cheia de lendas e belezas naturais.
Esta importância da freguesia, favorecida pela geografia e pela história levou mesmo a que no século XVI para aqui fosse transferida a cabeça do concelho, onde se administrava a Justiça, com o pelourinho (picota) e a forca, no lugar de Torna-o-Rego, bem como a cadeia no lugar de Paçô e ainda a casa das audiências no lugar de Cuvelães.
A Igreja Românica de Valadares
Principal monumento da freguesia tem três grandes motivos de atração:
A Antiguidade
Em primeiro lugar a sua antiguidade, pois a construção exterior atual de estilo românico remonta, pelo menos, ao século XIII.
Alguns especialistas falam de um templo anterior e de uma reedificação no século XII, invocando a inscrição existente no interior da fachada norte da capela-mor e que se encontra hoje em posição invertida. Esta inscrição, realizada em pedra siglada, tem a seguinte leitura: E(ra) M(ilésima) CC(ducentésima) XX (vigésima) VI (sexta), o que, transposto para o calendário cristão, corresponde a 1178.
A Arquitectura
Em segundo lugar, pelas suas características arquitetónicas, “desde o seu pórtico principal até à cachorrada de tipo românico que circunda a capela-mor”. Duas arquivoltas caracterizam o portal, sendo a interior decorada com semi-esferas. Por sua vez, “a fresta da parede testeira da capela-mor é também quebrada, o que revela uma relativa permeabilidade dos construtores às fórmulas incipientes do Gótico logo no primeiro momento de construção”. Mas a cachorrada que sustenta o telhado é ainda vincadamente românica. Apesar de se conservar apenas parcialmente, evidencia um vocabulário artístico onde dominam as formas geométricas e vegetalistas, despontando alguns elementos antropomórficos.
Os Frescos
Os frescos são de elevado interesse, pela sua raridade em toda a região e redondezas, as pinturas a fresco, do séc. XV. Trata-se de uma sequência de pinturas murais sobre as paredes interiores da capela-mor
O artista desenhou uma espécie de tríptico, com Nossa Senhora da Piedade ao centro, ladeada pelas santas Catarina e Bárbara, estas devidamente identificadas por cartela com os seguintes letreiros: qterin e barbor. Superiormente, desenvolve-se um friso que tem a particularidade de integrar máscaras de anjos “de tufada cabeleira quatrocentista, de asas altas e abertas e mãos postas, ressaltando sobre um fundo salpicado de cravos espalmados”. Nas paredes laterais o conjunto está menos preservado, mas foi ainda possível identificar da “banda da esquerda, um grupo de animais apocalípticos, entre os quais figura um tosco unicórnio; e da direita um apostolado, possivelmente S. Paulo, de livro sobraçado e espada empunhada”.
O abade João Camelo, “natural da vizinha aldeia de Brosende” e futuro bispo de Silves e da vizinha cidade de Lamego, cuja memória ficou perpetuada numa truncada inscrição que acompanha o revestimento mural: ESTA OBRA MANDOU FAZER JUAN CAMELO DE (BORO?) / SENDE ABADE DESTA YGREJA : ERA DE MIL E CCCCtos E”.
Fontes: IGESPAR
Baião Através dos Tempos, José Alberto Gonçalves, 2009
Revista Bayam, nº2, 1991