O projeto para a Igreja de Santa Maria do Marco de Canaveses foi encomendado em 1990 ao arquiteto Álvaro Siza Vieira pela diocese e acompanhado pelo ex-padre da paróquia Nuno Higino.
O programa para este núcleo incluía, para além da igreja e capela funerária anexa, um auditório, uma escola de catequese e uma habitação para o pároco.
Siza implantou estes edifícios em torno de um espaço central de carácter cerimonial, um adro no sentido tradicional.
A composição volumétrica, extremamente atenta aos valores dissonantes e aos alinhamentos apontados pelas construções envolventes, procura consolidar e equilibrar o tecido urbano e em simultâneo criar uma presença física e visual bastante forte no contexto do aglomerado.
Recorrendo a um dos seus temas arquitetónicos favoritos, Siza criou um percurso de acesso ao adro que reúne alguns momentos de especial significado estético onde se reforça o reencontro com a paisagem distante.
O grande volume da igreja, dotado de superfícies lisas, brancas e brilhantes, afirma-se sobre as construções vizinhas.
Voltando-se para o adro, a fachada principal apresenta uma composição tripartida, dinamizada por dois volumes de sentido ascendente que avançam em relação ao plano onde se abre a grande porta e, no interior dos anais estão contidos respetivamente o batistério e a torre sineira.
A igreja apresenta planta aproximadamente retangular, com uma nave de trinta metros de profundidade e um presbitério mais elevado onde se localiza o altar marcado pela eliminação das arestas através da definição de duas superfícies curvas convexas.
A entrada no templo localiza-se a eixo, na fachada voltada a sudoeste.
Um dos acontecimentos plásticos mais fortes do espaço interior é conseguido pela utilização de uma parede curva que forma uma superfície côncava que avança sobre a nave, criando uma tensão inusitada. Esta parede é rasgada superiormente por três janelas profundas que constituem a principal fonte de iluminação do interior.
Atrás do altar existe um lanternim que introduz uma luz ténue que também ilumina a capela funerária situada no piso inferior.
Na parede sudeste um corte horizontal baixo permite a criação de uma fuga visual sobre a paisagem envolvente e incrementa a complexidade do espaço da nave.
Uma escada interior permite ligar o templo à capela funerária que se volta para o pátio que confronta com a cabeceira da igreja. Esta ligação possibilita a criação de um percurso ritual entre estes dois espaços sagrados.
A cuidada atenção ao pormenor e a vontade de caracterização global dos espaços levou o arquiteto a desenhar todos os elementos de mobiliário assim como os objetos litúrgicos (cruz, altar, sacrário, ambão, etc.), através dos quais reinventa criativamente os símbolos religiosos tradicionais.
É uma catedral de silêncio. Alta. Ampla. Nua. Onde, até o correr da água da pia batismal afirma o silêncio e a nudez límpidos do local.