O Paul da Madriz
O Concelho de Soure possui um oásis de biodiversidade, o Paul da Madriz. Situado num vale cada vez mais uniformizado mas que ainda possui áreas agrícolas e florestais de elevado interesse para a avifauna, esta área surge-nos como uma ilha de esplendorosa natureza e vida selvagem. É um espaço pouco significativo em termos de área ocupada, mas pleno de diversidade, de beleza, de valor, de importância na sobrevivência das espécies. É também um espaço que continua a ser muito ignorado, ou menosprezado na sua importância por quem lhe passa ao lado sem o procurar ver, conhecer e perceber.
O Paul da Madriz localiza-se na Região Centro, Distrito de Coimbra, Concelho de Soure, imediatamente a Sul da povoação do Casal do Redinho, na baixa do Rio Arunca
O Paul abrange uma área de cerca de 40 hectares, de forma trapezoidal e alongada de SE para NO, alargando-se para a zona ocidental, com cerca de 2 km de comprimento e uma largura média de 300 m, sendo drenado pela Vala do Moinho que o atravessa e se liga à Vala do Canal.
A área do Paul foi ocupada principalmente pelo cultivo intensivo de arroz, tendo essa prática sido abandonada a partir do início da década de 60, subsistindo actualmente algumas áreas de cultivo agrícola a montante e a jusante, para além da via-férrea. Este abandono foi originado pela repartição da área agrícola em pequenas parcelas associada às condições físicas do Paul que não possibilitava a utilização de maquinaria, tornando impraticável a agricultura sustentável. Assim, presentemente somos contemplados com um santuário para a fauna e flora.
Nesta zona húmida podem ser encontrados os seguintes habitat's:
Arrozais - A área ocupada pela orizicultura começou a diminuir no início da década de sessenta, deixando de ser cultivada no interior do paul em 1988. Os únicos terrenos ainda ocupados pela orizicultura encontram-se localizados na parcela de terreno situada entre a Linha do Norte e a Vala do Canal. Nestes terrenos, antes da sementeira, surgem ranúnculos-aquáticos, milhãs e sagitárias. O facto de os arrozais serem um meio semi-aquático confere-lhe uma importância redobrada em termos de área de alimentação para a avifauna Os arrozais partilham a importância dos lagos e charcos relativamente às limícolas, quer na época de migração, quer no Inverno nomeadamente por espécies como o Combatente, Milherango, Abibe e Maçarico-galego.
Caniçal - Biótopo geralmente considerado como um dos mais ricos e diversificados, de grande importância em termos ornitológicos (tanto para nidificação como para abrigo e alimentação).Além do caniço e do bunho, este biótopo é composto também por tabúas, juncos e junças. Regista-se a ocorrência de inúmeras espécies de aves nidificantes, entre as quais o Rouxinol-bravo, Garçote, Garça-vermelha, Águia-sapeira e Rouxinol-dos-caniços. Este biótopo desempenha um papel primordial na migração outonal de passeriformes trans-saarianos sendo possível observar os bandos pré-migratórios de andorinhas que utilizam o caniçal como dormitório. No período de Inverno, é possível observar aqui importantes concentrações de Marrequinha que utiliza este meio como refúgio.
Floresta e matos - Constituem um biótopo relevante na área envolvente do paul. São quase sempre povoamentos mistos de pinheiros e eucaliptos de densidade variável, e cujo sub-bosque bastante rico é por vezes utilizado pelas populações. Coexistem os pinheiros-bravos e manso, carvalho-cerquinho, sobreiro, espinheiro-alvar e diversas espécies de tojos, urzes, giestas e estevas. A sua localização sobranceira ao paul torna-o importante como local de repouso e de reprodução de diversas aves de rapina, como são os casos da Águia-d’asa-redonda, Milhafre-preto, Ógea, Peneireiro, Açor e Gavião que aqui nidificam. Outros predadores, nomeadamente mamíferos, utilizam-no como biótopo de caça.
Lagos e valas - Fruto das obras de regularização hidráulica ao longo de séculos, as valas foram abertas com o objectivo de drenar o paul e recebem as águas provenientes da Ribeira da Mata, das escorrências das vertentes e das exsurgências do paul (lagos e charcos) conduzindo-as para o Vale do Rio Arunca. Na sua vegetação predominam a espadana, agrião, erva-pinheirinha, nenúfares, lentilhas-de-água e lírio-amarelo-dos-pântanos. Este meio é fundamental para a existência de peixes e anfíbios, quer como habitat permanente, quer como área de reprodução. O Paul da Madriz possui importantes concentrações de Pato-real a nidificar, quer neste biótopo, quer no caniçal/bunhal, bem como outras espécies de anatídeos durante o período de Inverno.
Zonas agrícolas - Na área envolvente do Paul da Madriz existem pequenas extensões de terrenos agricultados, muito parcelados e de áreas muito pequenas ocupados por olival, vinha, hortas, pomares e culturas arvenses. Este mosaico diversificado oferece um leque variado de condições de alimentação ao longo do ano, sendo utilizado por um grande número de espécies faunísticas, o que atesta a sua importância. Verifica-se a sua utilização como terreno de caça pela Coruja-do-nabal, bem como a presença no Inverno de bandos de passeriformes, constituídos principalmente por Petinha-dos-prados e Tentilhão. São também de referir espécies como a Petinha-dos-campos, a Cotovia-pequena, a Ferreirinha-comum e, na migração, o Papa-moscas-preto.
Formações aluvionares - Não só constituem um biótopo rico, como a sua existência enriquece os biótopos circundantes, nomeadamente os caniçais. Estendem-se ao longo das valas e linhas de água, ocupam os solos do fundo das vertentes e surgem ainda em pequenos maciços em ilhas flutuantes de tabúa. São constituídos por diversos salgueiros, amieiros, freixos-de-folha-estreita, sanguinhos-de-água e ulmeiros.
Constitui um bom pouso de vigia para Rapinas, nomeadamente a Águia-sapeira, o Gavião e o Açor. É também utilizado como habitat de nidificação pela Coruja-do-mato e por diversos passeriformes, tais como Felosa-poliglota, Rouxinol-bravo e Chapim-rabilongo. No Inverno é ainda utilizado por espécies como a Estrelinha-real e o Lugre. É numa destas formações aluvionares que foi instalada esta cache, precisamente no Bosque dos Fetos.
O Bosque dos Fetos
Este bosque ripícola de pequena dimensão ocupa solo permanentemente encharcado ou muito húmido numa das margens do Paul da Madriz, num local que é periodicamente inundado durante o período de Inverno e de forte precipitação. É uma área florestal bastante densa em que as copas das árvores e arbustos se entrelaçam. Destaca-se de todos os outros bosques ripícolas existentes no Baixo Mondego pela concentração de Feto-real, cuja altura chega a ultrapassar dois metros. Vale a pena a visita a este local durante o período de Março a Outubro.
O Paul da Madriz está classificado como Zona de Protecção Especial ao abrigo da Directiva Aves - Rede Natura 2000, existindo algumas restrições ao uso e frequência de um local como este. O solo deste bosque é encharcado e obviamente que fica marcada a passagem de todos os que aqui entram. Esta cache foi colocada num local que serve de acesso aos funcionários do ICNB - www.icnb.pt que prestam serviço neste local e que desenvolvem aqui alguns estudos de investigação, caso da Biologia da Reprodução de Chapins. O trilho usado para atingir a cache é utilizado semanalmente pelos funcionários no acesso às diversas caixas-ninho espalhadas por este e outros locais desta zona húmida, entre os quais o owner.
Todo este sistema florestal é bastante dinâmico e recupera facilmente do impacto da entrada de pessoas neste local, bastando que todos os que percorrerem este espaço, limitem-se ao pequeno trilho traçado e abstenham-se de pisar ou partir os fetos-reais - Osmunda regalis. A cache foi colocada no local onde foi entendido que a perturbação era mínima e não provocava significativo impacto no restante sistema ripícola existente.
A cache
Para atingirem esta cache devem ter em contas as condições do terreno. Se leram bem o texto, deduzem logo como devem ir preparados para a atingir.