A Capela de Nossa Senhora
da Consolação, nos
Forcalhos, é uma das mais antigas do concelho do Sabugal, situada
quase em cima da raia de Espanha, encontra-se uma capela
fascinante. Tão em cima, que se dizia que “ficando o corpo
dela em Portugal, fica a Capela-mor nas terras de
Espanha".
Encanta e surpreende, desde
logo, pela sua localização, no meio de um descampado, como que
perdida, de tal forma que é difícil imaginar que ali se possa
encontrar um templo. Depois, porque ao olharmos para aquela velha
igreja envolta em mistério e solidão, nos sentimos presos, não por
aquilo que as suas paredes nos mostram mas por aquilo que nos fazem
imaginar e sonhar. Rodeado de giestas e carvalhos majestosos, na
companhia de algumas ovelhas que por ali vão pastando, é um templo
de proporções relativamente grandes e que mais fazem lembrar uma
igreja.
A
ORIGEM
Não se sabe, com rigor, quando
teria sido construída, mas foi seguramente um pouco antes de1500,
durante o reinado de D. Manuel I. Foi mandada edificar por Maria
Fernandes e seu filho Simão Gonçalves, naturais de Aldeia da Ponte,
em resultado de uma promessa feita à Virgem da Consolação. Tudo
teria acontecido numa altura em que João Calvo e sua mulher Maria
Fernandes se dirigiam com o seu filho para Aldeia da Ponte e este
adoeceu com grande gravidade. Aflita, sem encontrar remédio nem
água para lhe mitigar a sede, implorou à Virgem da Consolação ajuda
para tão grande mal. Condoída, Nossa Senhora apareceu-lhe,
consolou-a e indicou-lhe uma pedra onde encontraria a água tão
desejada. Saciada a sede do filho, a Senhora ordenou-lhe que
naquele mesmo local mandasse construir uma ermida. Maria Fernandes
não hesitou e ao mesmo tempo que a construção ia andando mandou
fazer também uma imagem da Senhora que colocou na ermida e a que
deu o nome Nossa Senhora da Consolação.
Quando morreu, em 1532, já a
simples ermida começava a parecer um santuário e sua fama tinha
passado além dos Forcalhos. Eram tantos e tão encantadores os
milagres que se dizia que a Senhora fazia, que vinha gente de
Aldeia do Bispo, Lageosa, Aldeia da Ponte, Fóios, Alfaiates, Aldeia
Velha, Rebolosa, Aldeia da Ponte, Malhada Sorda, Nave de Haver,
Alpedrinha e de muitas terras da Beira Baixa e de Espanha
render-lhe homenagem e implorar a sua protecção.
Como a fama e riqueza do
santuário, proveniente das muitas esmolas e generosidade dos
romeiros, fosse grande, começou a ser objecto de cobiça entre os
herdeiros e capelães, e até entre os povos dos Forcalhos e de
Aldeia da Ponte, que também reclamava, a propriedade da
capela.
A
RUÍNA
Certo, é que depois de séculos
de grande prosperidade as romarias foram diminuindo, o culto foi
afrouxando, e até o próprio povo dos Forcalhos, que tanta devoção
tinha com a Senhora, se foi esquecendo de a visitar. As pinturas
foram desbotando e as paredes foram caindo pouco a pouco, depois,
foram os belos arcos e por fim o telhado. As sepulturas, incluindo
a da fundadora, foram vandalizadas, talvez mais que uma vez, e o
templo passou a acolher, em vez dos fieis, as cabras e ovelhas de
algum pastor. Mas o que é que se teria passado para tão rápida
degradação e definhamento? Dizem que teria sido em consequência de
uma Pastoral do bispo da Guarda, D. Tomáz Gomes de Almeida. De
facto, nos finais do século XIX, eram tantos os exageros e a
confusão entre as manifestações religiosas e profanas, que D.
Tomáz, ajuizadamente, decidiu pôr cobro a todas aquelas em que era
habitual haver desacatos.
E o que é que teria sido feito
dos muitos Ex Votos, lembrando promessas cumpridas e que cobriam
boa parte das paredes? E a imagem da Senhora da Consolação? As
imagens de Santa Ana e as de S. Marcos ou S. Lourenço (não se sabe
com rigor qual deles seria) foram piedosamente guardadas pela Ti
Margarida e a Ti Purificação dos Forcalhos, e encontram-se hoje
guardadas na igreja matriz e na capela de S.
Brás.