Freguesia do
Montenegro
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Montenegro #1 - Rotunda do Montenegro
História
Nos anos subsequentes à
“Revolução dos Cravos” assistiu-se a uma espécie de
ressurgimento do movimento foraleiro, ou seja, à emergência do
independentismo e do orgulho localista, não já com base na Carta de
Foral, mas antes com base na adopção da simbologia heráldica do
escudo de armas do concelho ou da freguesia. Na maioria dos casos
reflectiam a criação de novos concelhos, para os quais havia que
idealizar um brasão municipal. Aliás a noção ou o espírito de
identificação das populações com algo que simbolizasse a sua
comunidade não é sintoma recente, mas antes uma atitude que remonta
à formação da nacionalidade.
A freguesia de Montenegro é a mais
recente na história do concelho de Faro. Criada em 20-6-1997, a
verdade é que desde há muito justificava essa classificação
administrativa, não só pelos seus quase 10 mil habitantes, como
ainda pelo próspero desenvolvimento operado desde a década de
sessenta com a construção do Aeroporto Internacional de Faro e,
sobretudo, desde a década de noventa com a fixação no sítio das
Gambelas da Universidade do Algarve. Embora distando da cidade
cerca de cinco quilómetros pode considerar-se como freguesia
suburbana, sendo quase certo que na próxima década não haverá
estradas de acesso, mas antes ruas de ligação a Faro. Em termos
comparativas deverá ser a freguesia que nos últimos vinte anos mais
evoluiu em todo o Algarve, não só do ponto de vista do demográfico,
mas também no processo de crescimento económico, cultural, urbano e
turístico. Socialmente pode dizer-se que no Montenegro reside uma
larga franja da elite terciária, pois que uma parte significativa
dos quadros superiores do comércio, da banca, da aeronáutica, do
ensino e dos serviços mudou-se para as novas urbanizações
construídas entre as Gambelas e a zona do Ludo.
Curiosamente os equipamentos
sociais de maior importância urbana, à excepção do Hospital
Distrital, encontram-se na freguesia de Montenegro, que apenas
sente a carência de estruturas destinadas ao apoio social e
principalmente de escolas do ensino pré-primário. De resto possui
tudo. Senão vejamos. No apoio ao turismo, além do aeroporto, possui
ainda vários hotéis e restaurantes, uma pousada, parque de
campismo, residenciais e colónias de férias para crianças. Em
termos ambientais possui a única praia acessível aos farenses e uma
vasta zona lagunar que compõe o Parque Natural da Ria Formosa, no
qual nidificam dezenas de espécies de aves migratórios. A flora
silvestre é muito rica e diversificada, podendo vir a ser melhor
explorada para fins turísticos. O comércio cresceu de forma
exponencial e reparte-se por diversas actividades, desde a moda,
passando pelas livrarias, equipamentos informáticos, supermercados,
sapatarias, drogaria, cabeleireiros e culminando nas lojas de
transacção imobiliária. Na área da Saúde possui um Centro de Saúde,
Posto Médico, laboratório, farmácia e consultórios privados. No
sector do ensino preenchem-se todos os níveis, à excepção do
pré-primário. A agricultura resume-se à produção hortícola e
citrícola, em estufas e pomares de média dimensão. A indústria
limita-se à construção civil de prédios e bonitas vivendas nas
novas urbanizações. Possui na área do desporto um pavilhão, campo
de jogos, courts de ténis, centro de equitação e ginásio de
musculação. Nos domínios do associativismo destacam-se o Clube
Desportivo Montenegro, a Associação dos Jornalistas e Escritores do
Algarve, a Tuna Académica da Universidade do Algarve, e outras
colectividades ligadas à música e ao folclore. Ao sector terciário
pertencem também várias instituições bancárias, caixa agrícola,
delegações de seguros, escritórios de profissões liberais e a
Fundação Montalvão Marques.
Pela conjugação e dinamização de todas estas estruturas suscitou-se
em torno do lugar de Montenegro uma onda de progresso, que
culminaria na criação da freguesia. Quatro anos volvidos a
população escolheu o dia de São João para comemorar o orgulho
montenegrino, simbolicamente materializado no seu recém-criado
escudo de armas. Não tendo um passado histórico que lhe
proporcionasse a outorga de maiores pergaminhos, o povo da
freguesia de Montenegro recebeu o seu novo brasão como uma espécie
de carta de foral do terceiro milénio.
Para os menos acostumados na matéria convirá acrescentar alguns
informes acerca do conhecimento heráldico, da sua arte e
simbologia.
Identidade e municipalização heráldica
No seio da nobreza o brasão, com o entrosamento dos símbolos
heráldicos familiares, transmitia uma coesão histórica no tempo e
no espaço, que com o advento do Liberalismo se estendeu a outros
sectores menos aristocráticos, mas nem por isso menos
representativos da nobreza de sentimentos, da filantropia e da
solidariedade com que se identificavam os seus membros. Foi o caso
dos emblemas heráldicos adoptados pelas universidades, pelas
associações socioprofissionais, pelas ordens laborais, pelos
sindicatos, etc. A colectivização de interesses, sentimentos e
bens, tornou-se bastante comum na última centúria, passando por
razões de funcionalidade identificadora a adoptar um escudo de
armas, mercê do qual fosse possível transmitir união, força,
progresso e prosperidade. Digamos que a heráldica após o seu
período áureo – marcado pelo processo de elitização social do
Antigo Regime – perdeu os seus pergaminhos de exclusividade
para se democratizar em benefício dum projecto nacional de
identidade e unificação das pessoas em colectividades e em
comunidades. Por isso se assistiu ao aparecimento da
“heráldica de domínio” – mais propriamente uma
heráldica municipalista – que depois de brasonar todos os
concelhos estendeu-se muito recentemente às freguesias, numa onda
de fobia heráldica sem precedentes, quiçá ameaçadora do rigor e
credibilidade da velha tradição armorial.
Origens, arte e conhecimento da Heráldica
Para os menos esclarecidos nestas matérias, devemos elucidar que a
Heráldica é, em síntese, o estudo e interpretação do significado
social e simbólico da representação icónica da Nobreza, ou seja,
dos seus escudos de armas, vulgo Brasão ou Pedra
d’Armas.
As origens da Heráldica remontam à Idade Média, sensivelmente por
volta do séc. XII, talvez por acção do cavaleiro Rui de Beaumont,
que ostentava nos torneios de armas um escudo com um emblema
pintado, pretendendo com esse ícone identificar a sua família e o
poder político-militar da sua casa feudal. No campo de batalha o
uso do escudo armoriado tornou-se bastante funcional, pois permitia
destrinçar o inimigo e coordenar estratégias de combate entre as
diversas “casas feudais” presentes na refrega.
Rapidamente a “moda” heráldica estendeu-se da França à
Inglaterra, onde teve – e ainda tem – grande aceitação,
acabando por cobrir toda a Europa. Curiosamente, mil anos antes de
nós já os “senhores da guerra” (Shoguns) no Japão
usavam emblemas e sinais ideográficos como símbolos do poder
político e da força militar das suas famílias. Em boa verdade a
heráldica deve as suas origens ao Feudalismo, visto que como regime
político-socioeconómico estribou-se no poder militar das primeiras
e principais famílias europeias.
Tomando como exemplo o nosso país, podemos dizer que a nossa
heráldica remonta à época da formação do Estado e ao período da
chamada Reconquista Cristã. No tecto da denominada «Sala dos
Veados», no Paço Real de Sintra, estão patentes ao público os
cinquenta brasões mais antigos de Portugal, representando os
apelidos das principais famílias da nobreza lusitana. Podem ainda
hoje ser observados e até do ponto de vista artístico merecem uma
apreciação atenta e demorada.
Os primeiros brasões – régios, nobiliárquicos e eclesiásticos
– vieram a público nas moedas (numismática) e nos selos
medievais (esfragística) que pendiam dos documentos oficiais,
nomeadamente forais, diplomas régios, cartas de mercê, bulas etc.
As famílias nobres usavam os seus brasões ou escudo de armas como
símbolo de posse, encontrando-se ainda hoje visíveis por todo o
país, sobretudo na frontaria dos solares, nos portões dos palácios,
nas capelas das igrejas, nas sepulturas, etc. É, como se
compreende, na região Norte que têm a sua principal
concentração.
Conforme o fim a que se destina a heráldica pode dividir-se em
vários tipos. Assim, pode ser de Família, que é a mais clássica,
por dizer respeito à Nobreza. Pode ser Eclesiástica quando se
refere à Igreja e ás Ordens Religiosas; de Domínio, quando se
reporta à Divisão Administrativa do Território, podendo ser do
género estadual, municipal e paroquial, quando diga respeito às
armas da cidade, vila ou freguesia. Existe também a heráldica
Corporativa relativa às colectividades, associações profissionais,
sindicatos, etc.
Um outro aspecto importante é o da “função social” da
Heráldica, que consiste na identificação da família, do grupo ou da
comunidade com determinados símbolos que traduzam factos
históricos, honras e factores de independência, que identifiquem e
unam aqueles que usam essas pedras de armas. No fundo a heráldica
serve para estabelecer relações de proximidade e orgulho entre a
simbologia e o sentimento.
Quanto à “forma” existem diferentes tipologias de
escudos heráldicos. Não os vamos aqui enunciar. Apenas
acrescentaremos que a forma Nacional é arredondada no pé,
contrastando com a clássica boleada de bico que é afrancesada e
medieval. A origem dos vários formatos prende-se logicamente com os
escudos guerreiros.
O Campo do escudo divide-se em “chefe”,
“flancos” e “pé” ou
“contra-chefe”. As figuras que ilustram os brasões
podem ser: naturais, artificias e quiméricas. As naturais englobam
animais, plantas, árvores, astros, figuras humanas, etc. As
artificias inspiram-se na guerra, arquitectura militar, armaria,
cavalaria, marinha, caça, etc. As quiméricas englobam figuras
míticas como dragões, sereias, tritões, etc. As figuras animais
representam-se sempre de perfil e em atitudes próprias.
As cores heráldicas definem-se pela sua natureza e representação
gráfica e correspondem a metais nobres ou a esmaltes. Os metais são
o ouro e a prata. Os esmaltes são vermelho, azul, verde, preto e
púrpura. As cores, metais ou esmaltes, relacionam-se com pedras
preciosas e astros. Por exemplo: ouro – topázio – Sol;
vermelho – rubi – Marte.
O brasão possui ainda a Coroa, que servia para distinguir os
títulos de Duque, Conde, assim como as ordens religiosas e
militares. No caso das armas de domínio é comum a coroa mural,
geralmente constituída por três torres.
Opcionalmente pode ostentar um Listel, que é uma tarja, de metal ou
de esmalte, com uma legenda em português, latim ou outra língua. Se
o “listel” figura na parte inferior diz-se que está em
tensão.
Elementos constitutivos do brasão de
Montenegro
Quanto à forma é em Escudo do tipo Nacional. Apresenta uma Coroa
mural com três torres. No Campo o metal predominante é o Ouro, que
simboliza a riqueza, a fidelidade e a força, mas também se associa
ao Sol, que, no caso presente, é o astro mais identificativo do
Algarve.
Ostenta em “chefe” uma árvore de verde e arrancada,
isto é, que tem as raízes visíveis. A árvore é o símbolo da vida em
perpétua evolução, e quando ascende em direcção ao céu evoca todo o
simbolismo da verticalidade. Por outro lado, a árvore também
simboliza a regeneração da vida e a comunicação com o sagrado,
através do seus ramos mais elevados. As árvores tiveram desde
tempos imemoriais um sentido mítico havendo até rituais de
adoração, sobretudo sobre as árvores mais altas e mais raras. O
carvalho celta, a tília germânica, o freixo escandinavo, a oliveira
islâmica, a bétula siberiana, etc, estão associadas a cultos
ancestrais.
Neste caso está representado um Pinheiro, que simboliza a
imortalidade, por causa da persistência da folha e da
incorruptibilidade da resina. Por vezes também é utilizado para
exprimir a longevidade. Além disso o Pinheiro está aqui
identificado com as origens toponímica da freguesia. Com efeito,
reza a tradição que a designação de Montenegro está relacionada com
a densa mancha florestal que cobria quase toda a freguesia, a qual
observada à distância desde a cidade de Faro parecia assemelhar-se
com um Monte Negro.
Nos “flancos” apresenta duas Cegonhas de vermelho,
sancadas de negro (sancadas quer dizer apoiadas, em pernas de outra
cor). Em heráldica representa-se firmada no pé direito, com a perna
esquerda encolhida, por ser considerada essa a sua posição mais
natural e identificativa.
A Cegonha é um símbolo sagrado do cristianismo, pelo facto de fazer
parte da sua dieta o extermínio de répteis, que identificam o mal,
nomeadamente as serpentes. Mas também simboliza a ressurreição
porque retorna todos os anos das suas viagens migratórias. Por
outro lado, a Cegonha exprime a longevidade, a felicidade e a
piedade filial. Pelo facto de em repouso se sustentar num pé só
simboliza a meditação ou a contemplação filosófica. Neste caso, a
sua representação em cor vermelha significa a fecundidade e o amor
filial.
O “Pé” do escudo apresenta-se ondado de verde e prata.
As ondas verdes significam a Ria Formosa e as prateadas o Oceano,
simbolizando a força, a agitação e a vivacidade.
O “Listel” figura em branco com a legenda a negro:
Montenegro – Faro.
Além do escudo de armas foi concedida à Junta de Freguesia do
Montenegro a permissão de uso de Bandeira. Apresenta ao centro o
brasão sobre fundo esmaltado de Vermelho, o que significa valor e
intrepidez, ou seja o ânimo decidido na defesa dos oprimidos.
*texto integral da palestra de apresentação do brasão de
Montenegro, proferida em 24-6-2001.
A cache
É uma micro tradicional camuflada. Pedimos aos geocachers para não
tirarem fotografias à cache nem ao seu local de esconderijo e
também que tenham cuidado para que os muggles não vos vejam a
retirá-la ou a escondê-la.
Recomenda-se que deixem o cachemobile junto ao ponto referido, no
entanto podem optar por levá-lo até perto da cache (o local é de
terra batida).