Localizada a 1 km ao
Norte da vila de Tentúgal. Construção de dimensões razoáveis,
conserva, no seu interior, a traça da sua reconstrução quinhentista
(tecto de pedra abobadado, com caixotões simples, altares e
retábulos também de pedra. Na frontaria, uma reconstrução pouco
adequada realizada no século XIX, retirou-lhe o aspecto antigo,
conservando as colunas que pertenciam ao alpendre.
Nota
Histórica:
Foi edificada inicialmente com
o orago de Nossa Senhora da Encarnação, na 2ª metade do século XVI.
Por volta de 1550, Nossa Senhora dos Olivais passou a ser a sua
padroeira. Sofreu algumas reformas nos séculos seguintes, sendo a
mais visível a do século XIX. Aqui se faziam várias
romarias.
Observações:
Algumas das informações desta
ficha foram cedidas pelo Sr. Joaquim Mendes, de
Tentúgal.
Descrição
Pormenorizada:
Exteriormente, o pequeno templo
tem, na frente, um corpo saliente assente sobre quatro colunas de
pedra onde está o coro, formando uma espécie de alpendre à entrada
principal. Nesta parte da frente existem cinco nichos com imagens
de pedra, sendo a do centro Jesus Crucificado. Sobre os nichos, um
janelão ilumina e Capela e o coro. O corpo saliente da frontaria
está revestido com azulejos brancos, decerto obra do século XIX. Do
lado direito da Ermida vê-se o pequeno campanário com o sino e uma
varanda de ferro, bem curiosa, que servia talvez para algum sermão
ao povo. Interior, de meados do século XVII, da Renascença.
Altar-mor: trabalho de pedra também Renascença, provavelmente de
meados do século XVII, 1655, com as imagens de Nossa Senhora da
Encarnação e de Nossa Senhora da Anunciação. Tanto nas Memórias
Paroquiais de 1721 como nas de 1755/58 faz-se referência à imagem
de Nossa Senhora dos Olivais (realmente a do lado direito tem junto
a si uma árvore que pode ser uma oliveira). No século XVII,
rodearam este altar com um rico trabalho de talha com dois nichos
que albergam dois Santos ainda não identificados. O tecto da
capela-mor é de caixotões de pedra e as paredes revestidas com
azulejos do século XVI. No corpo da capela há mais dois altares, na
parede do fundo, também de pedra e estilo Renascença. O do lado do
Evangelho tem as imagens de Santo Amaro e Santa Joana Princesa.
Esta última é mais moderna, uma vez que nas Memórias de 1721 consta
que ali estava um S. José. No altar do lado da Epístola estão as
imagens de S. João Baptista e Santa Apolónia. Na parede do lado
esquerdo do corpo da Capela, está outro altar no mesmo estilo,
também de pedra, com as imagens de S. Caetano, Nossa Senhora da
Tocha e S. José. O S. José deve ser o que colocaram no altar do
Evangelho em substituição de Santa Joana Princesa. Neste altar,
durante alguns anos esteve um presépio de cartão com várias figuras
de barro, que depois foi mandado para a Igreja Matriz pelo antigo
Prior António Gouveia Rodrigues. Actualmente, só se vê o arco da
Capela, muito bem lançado e trabalhado. O tecto do corpo principal
da Ermida é todo de pedra em caixotões, idêntico ao da Igreja de
Nossa Senhora do Carmo (decerto feito ou dirigido pelos mesmos
artistas) e também ao da Capela de Jesus na Igreja Matriz (hoje
Senhor dos Passos). No rebordo tem os seguintes dizeres que nos dão
o ano provável de uma das reconstruções da Ermida: "Estas obras fez
o Padre João Tavares sendo juiz dessa Santa Confraria com esmolas
dos devotos de Nossa Senhora, sendo mais Mordomos Manuel Roiz Bello
anno 1655 e Manuel de Sequeira Coutinho". Púlpito de pedra, estilo
Renascença simples (ou talvez mais antigo), com colunas delgadas
(muitas desaparecidas), hoje salitrado e ameaçando ruína. O chão é
de lages grandes, tem três túmulos com os dizeres gastos. De um
deles, situado à esquerda, junto ao altar que foi de S. Caetano,
vem a descrição do letreiro na Memoria Paroquial de 1721
("Sepultura de Antonio do Couto e Vasconcellos e de sua mulher
Maria Viegas Ferraz"). Por baixo dos dizeres estava um brasão com
as armas dos Coutos e Vasconcellos, partido em pala. Do brasão,
actualmente, só se vê o recorte e dos dizeres apenas a palavra
Couto, tudo o resto desapareceu. Do outro túmulo, no centro da
Capela, junto aos degraus do altar-mor decifram-se palavras que
nada identificam. Do terceiro, já nada resta. Junto a ela estava
uma casa de hospedarias, que servia para recolher os romeiros que
aqui vinham nas festas da padroeira.
Nota Histórica
Pormenorizada:
O motivo da substituição de
orago foi apresentado por Frei Agostinho de Santa Maria em 1712:
por volta de 1550 andava certa pastorinha, um dia, por aqueles
olivais, que davam fraco pasto, a apascentar as suas ovelhas.
Aparece-lhe Nossa Senhora a ordenar-lhe que fosse à vila e dissesse
aos moradores que a Mãe de Deus lhe aparecera e que a fossem
buscar. A pastorinha cumpriu a missão e trouxe muito povo, que viu
a imagem da Virgem, mas não lhe tocou, por medo e respeito. Foram
de seguida dar parte à gente grada e ao pároco, que com eles
vieram, substituindo Nossa Senhora da Encarnação pela nova imagem
que, como a ermida, passou a ser designada por Nossa Senhora dos
Olivais. Mas parece que a nova padroeira não terá ficado satisfeita
com a resolução, porque fugiu três vezes, sendo outras tantas
conduzida para a Capela. Da última vez trouxeram-na com um bocado
de terra dos olivais e a Virgem, condoída do bom povo, manteve-se
ali, onde tem sido pródiga de milagres. A esta Ermida faz-se
anualmente uma romaria: "Senhora dos Olivais / tem olival em poisio
/ se este ano está de relva / para o ano dará trigo". A Festa da
Senhora celebra-se no último domingo de Abril com grande
solenidade. No mesmo dia realiza-se (?) uma feira franca no largo
ao pé da capela. Esta Ermida teve uma Confraria em que o juiz era
sempre um eclesiástico. Foram seus confrades grandes personagens do
Reino, como os Senhores da Casa de Ferreira, o Conde de Cantanhede
com toda a sua família. A Confraria de Nossa Senhora da Anunciação
foi fundada por mancebos solteiros, clérigos e mais gente isenta da
obrigação do matrimónio. A Confraria de S. João Baptista foi
incorporada nesta para juntar os parcos rendimentos de ambas.
Inicialmente, pensava-se que a Confraria de N. Sª da Anunciação
tinha sido instituída em 1583, nesta Capela, na última oitava da
Páscoa e confirmada pelo Sumo Pontífice Gregória XIII pela Bula
Gratiae, que foi publicada na Igreja Matriz no último domingo de
Setembro de 1584. Os Estatutos foram confirmados pelo Dr. Antonio
Velho a 20 de Dezembro do mesmo ano e decretavam que a Confraria
não podia ser administrada por homem casado. Referiam ainda um
costume antigo: na última oitava da Páscoa o povo ia em procissão à
Ermida onde se realizava uma missa; no entanto como esta festa não
se podia realizar com solenidade por ser altura da Quaresma, a
festa passava para o domingo a seguir à Páscoa. A 22 de Abril de
1585, os Mordomos constituíram e decretaram novos Estatutos. No
entanto, um documento entretanto encontrado prova que esta
Confraria foi fundada em 1555 e a de S. João Baptista é que foi
instituída em 1584. As obrigações na forma do Compromisso eram:
festa de N. Sª da Anunciação no último domingo de Abril de cada
ano, com missa cantada, sermão e procissão solene da Matriz para a
Capela, realizada no sábado antecedente. O mesmo deveria acontecer
na véspera de S. João, com o compromisso de não se gastar dinheiro
da confraria em comida. No dia de S. José, missa solene, com sermão
na Ermida; o mesmo em dia de Santo Amaro; uma missa rezada todos os
sábados de cada ano por intenção dos confrades vivos e defuntos e
um aniversário depois da festa principal de Abril, logo na 2ª feira
seguinte, pelos irmãos defuntos. O Príncipe Regente D. João, a 20
de Setembro de 1804, mandou anexar estas duas confrarias à do
Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz, para que se pudesse
conservar o culto, uma vez que os bens destas confrarias tinham
sido há muitos anos, por lei, aforados a diversos, o que ocasionava
uma diminuição de rendimento, impossibilitando a vida autónoma de
cada uma delas.