Quando
seguimos pela estrada que vai de Alferrarede Velha para Mouriscas,
logo à saída da Barca do Pego, encontramos, do nosso lado esquerdo,
uma placa com indicação de Valhascos. Cortando por ai e percorrendo
a curta distância de apenas um ou dois quilómetros, deparamo-nos
com uma imponente torre quadrangular, com mais de treze metros de
altura, com grossas paredes de pedra e algumas janelas abertas
sobre a paisagem circundante.
O
telhado é de quatro águas e do lado nascente vemos o que resta do
que teria sido a pequena torre sineira. No piso térreo desta torre,
encontra-se o espaço que foi em tempos ocupado pela Igreja das
Necessidades, hoje profanado, vandalizado e completamente votado ao
abandono. A porta principal, virada a sul, aberta e parcialmente
destruída, permite-nos entrar, facilmente, no que foi outrora um
lugar sagrado, muito frequentado pelo povo da região, que ali
acorria com grande devoção. O que encontrámos é verdadeiramente
confrangedor: ruínas, cheiro a humidade e apenas uma pintura mural,
na parede virada a poente, permite a identificação fácil do local,
com o que teria sido um templo. As figuras são de grandes
dimensões, conservam restos de cor e facilmente se descobre que
representam uma Natividade: S. José, a Virgem e o Menino deitado
numa manjedoura e de um lado e do outro pastores e pastoras com as
suas ofertas a Jesus.
Das
outras pinturas nada resta, destruídas pelo tempo e pela humidade
que fez cair no chão grade parte do seu suporte. E esta Natividade,
se não lhe acodem, terá em breve o mesmo destino.
A imagem da Senhoras da Necessidades encontra-se hoje,
felizmente, a salvo na igreja de Casais de Revelhos. Que foi
objecto de grande devoção sabemo-lo, entre outros, por Frei
Agostinho de Santa Maria que, no inicio do século XVIII, no seu
“Santuário Mariano”, refere: “Com esta Senhora, têm todos os
moradores de Abrantes muito grande devoção e assim a vão visitar
muitas vezes, e que ela lhes aumenta com muitas maravilhas e
milagres que obra a favor de todos. É também muito grande o
concurso de romeiros e peregrinos, que de todas as partes concorrem
e que vão visitar a Senhora, uns a cumprir os seus votos e outros a
pedir-lhe remédio de suas necessidades; muitos lhe mandam lá
celebrar missa em acção de graças pelos favores que por meio da
Senhora alcançaram de seu Santíssimo Filho. Naquele santuário se
vêem pender muitas memórias dos seus milagres e maravilhas, como
são quadros, mortalhas, braços e pernas de cera e outros sinais
desta qualidade.”
Os dois
pisos da torre, que se sobrepõem à capela, serviriam para albergar
os romeiros que de longe se deslocavam até aqui, por altura das
festas. Esta capela encontra-se coberta por uma abobada de aresta,
que teria os seus quatro panos totalmente cobertos com pinturas,
cujos elementos, de cunho vegetalista, ainda se podem descortinar
nas extremidades. A uma distância de cerca de duzentos metros,
encontrava-se um cruzeiro, de que hoje só resta a base e que seria
datado de 1653. Aqui costumavam os romeiros iniciar as suas
devoções, seguindo de joelhos até ao Santuário.
Segundo investigação feita pelo Doutor J. Candeias da
Silva, a Igreja das Necessidades teria sido edificada na década de
trinta do século XVII, por João Pereira de Betencourt , fidalgo
abrantino que, em 1624 participou na defesa da praça da Baia no
Brasil, que se encontrava ameaçada pelos Holandeses. De regresso,
fundaria neste aprazível local “Um morgado em uma quinta de regalo e
rendimento”, onde estava integrada esta “casa da
Senhora”
Com efeito,
se observarmos bem, afogados pela vegetação que agora ali cresce,
podemos divisar restos do que teria sido um lagar e várias casas de
habitação.
Esta
“casa da
Senhora”, de um lugar de culto particular, ter-se-ia
tornado em breve, graças à devoção popular e à fama dos milagres
operados pela Virgem, num importante santuário mariano.
Bibliografia
Candeias Silva, Joaquim, “Dois importantes
santuários antigos da freguesia de Alferrarede”, in Jornal de Alferrarede, nº 217,
Novembro de 2003. Santos, Bruno, “Pintura mural seiscentista
nos concelhos de Abrantes a Sardoal”, in revista Zahara, nº 7, Junho de
2006.
Texto de
Aparício, Teresa, in Jornal de Abrantes, nº 5471, Abril de
2010.
A CACHE
Com esta cache pretendemos mostrar o que
resta do Santuário da Senhora das Necessidades.
ATENÇÃO
O CONTAINER ENCONTRA-SE UM POUCO AFASTADO DAS
RUÍNAS, PARA EVITAR QUE ESTAS SE DEGRADEM MAIS DO QUE JÁ
ESTÃO.
TAMBÉM NÃO
ESTÁ NOS MUROS, POR ISSO NÃO SERÁ NECESSÁRIO MEXER NAS PEDRAS DO
MURO NEM DAS RUINAS.
NAS
IMEDIAÇÕES DO GZ EXISTE UM POÇO, RECOMENDA-SE POR ISSO, ALGUMA
ATENÇÃO.
NÃO
ACONSELHAMOS QUE SEJA FEITA DE NOITE.
LEVEM
MATERIAL DE ESCRITA
O
CONTAINER NÃO TEM ESPAÇO PARA TROCAS E CONTÉM APENAS LOGBOOK COM
STASHNOTE
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