Para os aveirenses mais enraizados, a tradição pesa no seu
bairrismo, manifestando-se por diferenças comportamentais que
radicam na vida de séculos. Para esses, Aveiro mantém na sua
essência duas grandes áreas de desenvolvimento, conhecidas por
designações populares com seu quê de galhardia mas, por vezes,
usada depreciativamente: os ceboleiros e os
cagaréus.
Para melhor compreender o porquê destas designações, torna-se
necessário retroceder no tempo, à época em que a vila de Aveiro se
encontrava muralhada. Na sequência de um enorme incêndio que
destruiu o burgo no início do séc. XV, o infante D. Pedro mandou
construir uma magnífica muralha, sabendo-se que em Agosto de 1413 a
sua construção estava a processar-se e se prolongou por dezenas de
anos. Composta por uma estrutura irregular, tinha quatro postigos,
vários torreões e oito portas com a seguinte designação: da vila (a
sul, dando entrada na rua direita), do Sol (para oriente), do
Campo, do Cojo (ou cais), da Ribeira (situada junto à costeira), do
Alboi (mais para sul), de Rabães e de Vagos (junto ao convento de
St. António).
Estas muralhas vieram dar à vila robustez, segurança e grandeza,
num período particularmente favorável, sendo visível o seu
crescimento em população e riqueza, tornando-a numa verdadeira vila
burguesa.
Face a este desenvolvimento, a vila, composta até aí por uma
única freguesia – a de S. Miguel – passou em 1572 a
estar dividida em quatro: além da de S. Miguel (parte nobre da
vila, quase toda muralhada), foi criada a do Espírito Santo (a sul
do canal central, mas fora das muralhas), a da Vera-Cruz e a de N.
Sra. da Apresentação, ambas na designada Vila Nova, zona de
pescadores e marnotos, já a norte do canal central.
Na antiga freguesia de S. Miguel e junto à igreja matriz que lhe
deu o nome – Igreja de S. Miguel, efectuava-se a Feira das
Cebolas. Por essa razão, os habitantes e naturais do canal central
para sul, zona mais nobre da vila, por aí residirem os descendentes
dos mais antigos povoadores da urbe, passaram a ser designados de
ceboleiros. De uma maneira geral, assumem-se como gente mais
fidalga, identificada com formas e estatuto das famílias da
nobreza, mesmo que dessas tivessem sido apenas servidores.
Lamentavelmente, em 1835, o governador civil José Joaquim Lopes
de Lima manda demolir o histórico e emblemático templo de S. Miguel
(testemunhos antigos, localizam esta igreja precisamente no local
onde hoje se encontra a estátua de José Estêvão, frente ao edifício
dos Paços do Conselho), alegando razões de higiene pública, devido
ao mau estado de conservação do mesmo, além de evocar a necessidade
de se proceder ao embelezamento do local. Ainda no século XIX a
muralha terá sido demolida e a sua pedra aproveitada para a
construção da actual Barra.
Por alvará publicado em 11 de Outubro do mesmo ano, o referido
governador civil reduz a duas as quatro freguesias da cidade,
passando Aveiro a ter as freguesias da Vera cruz (para norte do
canal) e a de N. Sra. da Glória (para sul do canal), divisão esta
que se mantém até aos nosso dias.
Foi após a demolição da igreja matriz de S. Miguel que o Mercado
das Cebolas passou a efectuar-se do outro lado do canal (já em
terreno cagaréu), mais precisamente ao longo da margem esquerda do
Canal Central, à entrada do Rossio. De há uns anos para cá, a
tradição desta feira tem sido recreada, tendo ocorrida a última
ainda em Setembro de 2009.
A dicotomia, que se manteve e acentuou quando as freguesias
passaram a ser apenas duas, começou a ser quebrada com a abertura
da Avenida Lourenço Peixinho, na segunda década do século XX,
persistindo no entanto traços globais desses comportamentos que,
com a vinda de dezenas de milhar de novos habitantes do interior,
pouco sentido fazem hoje na vida da cidade, mas são ainda
relembradas pelas gentes mais antigas.
Fontes:
http://aveirana.doc.ua.pt/urbe.htm
http://esgueirando-me.blogspot.com/2007/03/curiosidades-em-alcunhas-tpicas.html
http://jn.sapo.pt/blogs/carlos_braga_da_cruz/archive/2008/12/21/cagar-233-us-e-ceboleiros-citando-ana-clara-correia.aspx
http://www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/boletim19/page014.htm
http://www.prof2000.pt/users/Secjeste/Arkidigi/Aveiro02.htm
http://www.emaveiro.com/scid/emaveiro/defaultArticleViewOne.asp?categoryID=717&articleID=5630
A CACHE
Trata-se de uma simples multi urbana, localizada na freguesia da
Glória, onde habitam os ceboleiros. Está numa zona movimentada
durante o dia, pelo que pedimos que sejam discretos.
Conteúdo inicial: stashnote, logbook, lápis e patinho amarelo
estica-braços. É um pequeno tupperware, envolto num saco preto, que
permite que sejam trocados objectos.
A cache não se encontra nas coordenadas indicadas. Aqui deverá
responder às perguntas abaixo para chegar à coordenada final.
A – Qual o número de estrelas no brasão da
freguesia?
B – Qual o número de janelas na fachada da junta?
C – Quantos mastros existem no jardim?
Coordenada Final: N40º37.[Bx(Cx2+A)-C]C W8º39.00(C-A)
Para verificar se todas respostas estão certas: A+B+C=17