Reza a história que às primeiras horas da manhã do dia 25 de
Março de 1783 nascia a feira da Malveira. Foi a pedido de algumas
famílias (naquele tempo não passavam de umas meras dezenas,
habitantes da parte alta do lugar) que a Rainha Dona Maria I
concedeu foral para a sua realização. Dizia o povo que era útil
para o culto da imagem da Nossa Senhora dos Remédios que ali tinha
uma ermida em sua honra. Sensível aos argumentos populares, a
rainha promulgou decreto e deu permissa que ali se fizesse
anualmente uma feira “livre de direitos” no dia da Nossa
Senhora.
E assim começou, por ser anual, a feira que agora perfaz 226 anos
de existência. A sua história é rica e movimentada, não fosse ela
antiga e até conturbada. Durante muitos anos foi a principal fonte
de abastecimento de gado da grande Lisboa, mas também, e porque
estamos em terra fértil, de frutas, legumes e sementes. Por aqui
também se vendeu muita louça de barro da região, artigos de
tanoaria e latoaria da pequena indústria local.
O caminho-de-ferro foi muitas vezes seu aliado, trazia e levava a
gentes de fora, mas no verão também haviam as touradas às
quintas-feiras, os saltimbancos, os bailaricos saloios em plena
rua, no Inverno as castanhas assadas, água-pé de mão em mão, o jogo
do pau e até inevitáveis bebedeiras ao som do fandango. Das Casas
de Pasto circundantes lhe chegavam cheiros e sabores de petiscos ao
lume desde os primeiros raios de sol. Para adoçar a boca
parrameiros saloios, para salgar o paladar pevides, tremoços e até
sardinha assada. De tudo um pouco, e já todas as semanas, por aqui
se via, por aqui se vendiam. E assim ganhou título e fama de ser
uma das mais autênticas e regionalistas feiras do país.
Cresceu bastante e nela já pode encontrar todo o tipo de artigos,
também mudou alguma coisa na sua tipicidade (para o bem e para o
mal), mas continua cheia vida e a ser um ponto de visita
obrigatório para quem por cá vive e para quem por cá
passa. |