Doca das Fontainhas
O Bairro das
Fontainhas era uma referência da cidade de Setúbal, dos pescadores,
das varinas, das conserveiras, dos estivadores, dos homens
honestos, trabalhadores e simples. No verão o ambiente em redor da
Doca das Fontainhas era diferente. Vivia-se pela manhã o cheiro a
maresia. O Descarregador da Sardinha, correndo a passerelle da
desgraça, ia deixando cair propositadamente alguns peixes do seu
chapéu de abas largas para os catraios apanharem, ganhando assim
comida para casa. Na estacada do gasóleo a prancha maravilha fazia
as delícias dos rapazes. Faziam-se saltos acrobáticos para tentar
escolher o melhor exibicionista, faziam-se provas de natação de uma
ponta a outra da Doca. Apanhava-se caranguejos da anilha no Pé-ré
das escadas de serviço de acesso às barcas. Os gaiatos saltavam de
barca em barca brincando à apanhada sob o olhar complacente dos
donos. Na estacada do Ároles os miúdos nadavam na sua maioria nus o
que provocava a indignação do cabo-de-mar, que tentava descobrir
debaixo das caixas dos pescadores a roupa dos artistas. Os miúdos
gostavam deste ambiente do Gato e do Rato, o desafiar a autoridade.
Outros catraios pescavam aos alcabozes nas traineiras da sardinha
estacionadas na Doca, alguns mergulhavam em apostas para tentar
obter as estrelas-do-mar. Os barcos da ostra navegavam como Galeões
no Estuário do Sado. A toninha navegava junto ao barco chorando a
perda do seu companheiro. Juntavam-se dezenas de pessoas na
caldeira da Tróia na apanha do berbigão pela manhã. Foram tempos
diferentes dos actuais, que permanecem em
recordação.
Texto de:
Joaquim Branco Coelho, Poeta Setubalense.
A cache leva a conhecer a Doca
das Fontainhas de hoje. Por favor deixe tudo como encontrou e não
publique fotos do container e respectivo logbook.
Obrigado.