Esta
cache pretende ser didáctica e fornecer informação sobre o processo
de formação das dunas. Tem como finalidade ensinar o que é uma
duna, como se forma e os perigos da sua destruição. A informação
foi integralmente cedida por um grupo de especialistas da
Universidade do Minho nesta área científica (ver www.geira.pt).
Recomenda-se a publicação dos mesmos autores:
dunares 2002.pdf
As dunas
são
sistemas temporários que fazem
a transição
entre o ambiente marinho e o meio
terrestre. Caracterizam-se fundamentalmente pela grande mobilidade
do substrato, pela existência
de um
gradiente de salinidade e por diferenças muito marcadas entre a
zona frontal, delimitada pelo topo da duna, e as regiões por esta
protegidas.
Basicamente, podemos definir o
ambiente frontal como húmido salino, em que o risco de enterramento
e arrastamento é elevado, enquanto que as zonas situadas para o
interior das dunas frontais constituem ambientes basicamente secos
e de temperaturas elevadas.
Como ambiente
transitório que é, a sua integridade e
evolução
depende fundamentalmente do transporte
de areia pelo vento e pelo mar. Em situações de grande abundância
de areia, o sistema aumenta de tamanho, quer na vertical quer
horizontalmente, enquanto que situações de
carência
implicam,
quase sempre, a sua degradação. Observa-se então a génese de
microformas a que as associações vegetais não são
estranhas.
Origem e evoluçao de um sistema
dunar
A
evolução
de uma
praia para um sistema dunar desenvolve-se em várias fases,
repartidas no tempo. O processo inicia-se pela colonização da praia
alta pela gramínea
Elymus
farctus, que se
estabelece a partir do limite superior do nível de maré alta de
águas vivas.
Sujeita a
frequentes inundações
de água do mar (galgamentos marinhos)
é uma zona em que se dão
grandes
acumulações
de
detritos orgânicos que favorecem a colonização periódica por parte
de plantas anuais como
Cakile
maritima, que resiste
bem à submersão temporária pelo mar, e
Salsola
kali. Embora
temporariamente estas plantas acumulem bastante areia, o seu efeito
apenas se faz sentir durante o período de crescimento activo. Após
o seu desaparecimento, a areia acumulada é novamente movimentada
pelo vento.
O substrato nesta
zona apresenta uma grande mobilidade, o que leva a que apenas E.
farctus, de crescimento vertical muito rápido aí consiga viver
em permanência
. Tomando como referência a linha
onde surgem as primeiras plantas, é geralmente possível encontrar
povoamentos puros desta gramínea numa faixa com 10 a 15 m de
largura.
O estabelecimento
desta espécie vai funcionar como obstáculo ao vento que, na
passagem, é travado e a sua carga de areia é aí depositada.
Forma-se assim gradualmente uma elevação, cujo crescimento em
altura vai depender unicamente do desenvolvimento de
E farctus e que chega a ultrapassar 1 m de altura. Esta
fase pode durar vários anos.
Efeito da presença
de E. farctus no crescimento de uma pequena duna:
Atingida uma certa
estabilidade, o que acontece ao fim de 3-4 anos, desenvolvem-se no
topo desta pequena duna pequenos povoamentos de
Otanthus
maritimus e de
Calystegia
soldanella , que
levam ao aumento do seu crescimento vertical. A duna vai continuar
a crescer em altura, formando O. maritimus e C.
soldanella povoamentos densos e contínuos, sendo
então
possível
distinguir nitidamente duas zonas:
I. Zona frontal,
correspondente à vertente virada ao mar, com povoamentos puros de
E. farctus;
II. Topo da duna, com uma mancha
contínua de O. maritimus e C. soldanella. No meio
desta segunda faixa surgem alguns tufos de
Ammophila
arenaria.
No seu conjunto,
estas duas zonas formam aquilo que se designa por duna
embrionária. Este tipo de duna só ocorre em praias onde o
fornecimento de areia é constante, em que o mar não se encontra
em progressão
para o
interior. Constitui a primeira defesa activa da costa, uma vez que
constitui o início do processo de
formação
e
crescimento dunar. É também a zona mais frágil da duna. Sujeita à
influencia constante do mar, quer através do efeito directo das
ondas nas marés altas, quer da humidade salgada ou salsugem, quer
do perigo de enterramento constante,
não é um
local fácil para se viver, traduzido no número reduzido de espécies
vegetais que aí vive em
permanência
. Em equilíbrio delicado com as
condições
do meio, a sua integridade é o garante
da estabilidade do sistema dunar que se estende para o interior. É
também a zona da duna em que os efeitos do Homem mais se fazem
sentir. O pisoteio pelos banhistas, o trânsito de veículos
agrícolas e de lazer levam
à
destruição
da vegetação
e contribuem para pôr as areias em movimento, eliminando assim o
primeiro obstáculo que o mar encontra pela
frente.
Os tufos de
Ammophila
arenaria que surgiram
na parte final da duna embrionária
vão
dar
origem a pequenos montículos de areia ou nebkas, que se
salientam no perfil suave da praia. Ao abrigo destes montículos vao
surgir pequenos povoamentos de outras espécies, como é o caso
de Leontodon
taraxacoides ,
Crucianella
maritima, e novos pés
de A. arenaria.
As nebkas
mais afastadas do mar continuam a desenvolver-se em altura e
eventualmente acabam por se unir. Forma-se
então
uma faixa contínua dominada por A. arenaria que inclui
um número variado de outras espécies.
Esta faixa
corresponde ao cordão dunar frontal, também conhecido por duna
branca, e pode estender-se por vários quilómetros ao longo da
costa. Além das plantas acima referidas podemos ainda encontrar
aqui espécies como
Silene
littorea,
Euphorbia
paralias,
Eryngium
maritimum e
Pancratium
maritimum
.
Para lá do topo da
duna frontal, forma-se um ambiente mais seco e abrigado do vento,
onde se desenvolve uma comunidade vegetal bastante mais complexa.
Esta zona é dominada por
Artemisia
crithmifolia, que é
acompanhada por
Helichrysum
picardii,
Vulpia
alopecurus,
Corynephorus canescens (L) Beauv.,
Medicago
marina,
Malcomia
littorea e
Anagalis
Monelli,
mais a
Norte
e por Sedum
sediforme ,
Iberis
procumbens ,
Corema
album e Halimnium
halimifolium (L.) Willk. nas regioes a Sul. Caracteriza-se pela
maior estabilidade do substrato, o que permite o desenvolvimento de
uma comunidade mais complexa, composta por plantas anuais e
arbustivas.
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Atingindo esta fase, a
forma dunar está perfeitamente definida, apresentando a praia um
perfil suave. Este perfil corresponde
à
passagem gradual de um ambiente marinho para um ambiente terrestre,
representando as várias manchas vegetais fases de um gradiente
nítido. Mantendo-se as
condições
que
levaram à sua origem, este
sistema irá evoluir no sentido da
estabilização
das zonas mais recuadas, com um aumento
gradual da diversidade e da biomassa vegetal, caso os factores da
dinâmica das águas costeiras
não
perturbem
a evolução (tempestades, subida
do nível do mar, défice de areia na
alimentação
das praias por
interrupção
da deriva litoral, como por exemplo
nas situações
criadas pelos
esporões
).
Degradaçao de um
sistema dunar
Dependente do volume
de areias transportado pela deriva litoral para o fornecimento de
areia que alimenta o processo de
evolução
dunar, este
sistema é muito sensível a
qualquer modificação
nos
mecanismos de transporte de sedimentos das zonas que lhe são
adjacentes.
Alterações
profundas
na dinâmica destes processos levam inevitavelmente a
alterações nos sistemas dunares. Da
mesma forma, a sua estabilidade está intimamente
ligada à
conservação
do coberto vegetal.
A destruição
da vegetação,
ou a sua ausência,
levam a uma movimentação
das areias para o interior, sobretudo
sob acção
do vento e dos galgamentos pelo mar.
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Em
situações
em que se verifica um avanço do mar, o
processo inverso ao da formação
das dunas irá verificar-se. Em
primeiro lugar, irão
desaparecer as duas primeiras faixas
da duna embrionária. Situadas a uma cota mais baixa,
são
efectivamente as zonas mais frágeis e
que
irã
o sentir mais depressa as acções
destrutivas do jacto
da rebentação
das ondas.
Praias nesta
situação
apresentam um perfil truncado que da
vegetaçãooriginal apenas
mantêm
alguns tufos de O. maritimus e
nebkas isoladas de A. arenaria. Numa fase mais
avançada, todo o sistema dunar frontal irá ser atingido, podendo
mesmo levar à
destruição
total da duna mais próxima do mar,
começando por nela se modular uma arriba que vai recuando
gradualmente.
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