O Convento de São Francisco, em Santarém, constitui um dos
melhores exemplares da arte gótica mendicante em Portugal. O
convento foi fundado em 1242 por D. Sancho II, aquando do
estabelecimento dos franciscanos na cidade. A extinção das ordens
religiosas masculinas, em 1834, e o incêndio de 1940 acabaram por
levar ao estado de degradação em que o conjunto se encontra
actualmente, apesar de decorrer desde há alguns anos uma profunda
intervenção de restauro. O edifício foi classificado pelo IPPAR
como Monumento Nacional em 1917.
História
Instalados em Santarém em 1240, num local privilegiado da
cidade, os franciscanos deram início à construção do seu convento
dois anos depois, durante o reinado de D. Sancho II. Ainda que a
data exacta seja desconhecida, a igreja estaria concluída apenas na
segunda metade do século, por volta de 1282. Ao longo dos primeiros
séculos da sua existência, o convento acolheu numerosos
enterramentos, dos quais o mais emblemático foi o do próprio rei D.
Fernando, em 1383. Este mesmo monarca patrocinou, na segunda metade
do século XIV, diversas obras de ampliação e de reconstrução,
nomeadamente a construção do coro-alto, nos três tramos médios da
nave central, no qual seria posteriormente sepultado, e o início da
construção do claustro. A elevação do convento a panteão régio
denotava a recusa evidente do Mosteiro de Alcobaça pelo rei,
panteão de D. Pedro I, seu pai. Em 1376, D. Fernando ordena mesmo a
transladação das ossadas da sua mãe, D. Constança Manuel, para o
coro-alto. Ao longo dos séculos, o convento foi sendo
sucessivamente engrandecido por campanhas artísticas. No século XV,
sob o patrocínio de D. Duarte de Menezes, é levada a cabo a segunda
etapa da construção do claustro. Em 1464, morre D. Duarte de
Menezes em Alcácer Seguer, tendo D. Isabel de Castro, a sua viúva,
ordenado a edificação da sua capela sepulcral, que constitui a
actual Capela das Almas. Em 1477, D. João II presta juramento como
rei debaixo do alpendre anexo à entrada principal da igreja. Nos
séculos XVI e XVII, são executadas várias obras de reconstrução,
nas quais foram incorporados elementos decorativos característicos
dos estilos renascentista e maneirista. Destas intervenções, as
mais significativas foram a construção do arco renascentista da
Capela de Santa Ana e a reconstrução da Capela das Almas, que lhe
conferiu um traçado maneirista. Esta última obra é atribuída ao
arquitecto Pedro Nunes Tinoco. Já no século XIX, após a extinção do
convento, é instalado na igreja e no claustro o Regimento de
Cavalaria nº 4, que aqui permanecerá até meados do século XX. O
antigo edifício conventual entra então num ciclo de degradação que
o levaria até ao seu desolador estado actual. Esta situação,
agravada por um incêndio em 1940, determinou a transladação dos
túmulos de D. Fernando e de sua mãe, para o Museu Arqueológico do
Convento do Carmo, e de D. Duarte de Menezes, para a Igreja de São
João de Alporão, este último em 1928. Após várias décadas fechado
ao público, a Câmara Municipal de Santarém (com iniciativa do
Presidente Francisco Moita Flores), decide efectuar recuperações no
monumento e abri-lo ao público em 24 de Julho de 2009, integrando-o
no estatuto dos restantes monumentos da cidade.
Arquitectura e Arte
O templo mendicante, profanado e parcialmente em ruínas,
encontra-se há vários anos em vias de restauro. O pórtico, que se
rompe na fachada, tem quatro arquivoltas rendilhadas de arcos
ogivais pouco apontados, sobre colunas capitelizadas, rematando num
gablete liso. Este pórtico dá acesso a um alpendre abobadado,
apoiado sob fustes curtos. O grande vão que rasga a frontaria
destina-se a receber a rosácea. O interior da igreja, trecentista,
é de três naves, sendo as laterais mais baixas, com cinco arcos
ogivais de cada lado a preencher os tramos, sobre delicadas colunas
capitelizadas. A abóbada nervada, de soberbo efeito, ostenta nos
fechos as armas régias de D. Fernando. Para além disso, inclui
ainda longo transepto saliente e uma cabeceira escalonada de cinco
capelas, o que constitui um feito raro nas igrejas portuguesas do
século XIII, apenas repetido nos Conventos de Santa Clara e de São
Domingos, em Santarém, e no Convento de São Francisco, em Lisboa.
Do lado da epístola e do lado do evangelho, respectivamente,
abrem-se as capelas de Santa Ana e das Almas, ambas com acesso por
arco porticado – renascentista, no caso da Capela de Santa
Ana, e maneirista, no caso da Capela das Almas. O claustro,
quadrangular e de dois pisos, é corrido por uma arcaria ogival
lanceolada emergindo de colunelos agrupados, com os capitéis
decorados com ornatos vegetalistas. Da ampliação mandada executar
por D. Duarte de Menezes no século XV subsistem os dois lanços
cobertos de abóbada nervada, cujos bocetes rematam em escudos de
armas. A ornamentação escultórica dos capitéis inclui cabeças
barbadas, cachos de uvas, maçarocas, distinguindo-se ainda uma rara
representação de uma das fábulas de Esopo, A Raposa e as Uvas. A
capela que se abre no claustro mantém, nos parietais, vestígios de
um silhar de azulejos setecentistas, incluindo dois embutidos
cerâmicos alusivos à Apanha do Maná e à Última Ceia. Sobre o arco
que dá acesso ao piso superior do claustro, local onde esteve o
mausoléu de D. Francisco de Almeida, vê-se um silhar de azulejos
azuis e brancos, numa representação de Santo António, acompanhado
de dísticos em castelhano. Existem ainda restos de outro núcleo,
este do tipo corda seca, talvez do século XVI, que ornava os lanços
da crasta. No recinto ainda se vêem três portas embutidas, duas das
quais manuelinas e a terceira renascentista.
Horário de funcionamento:
De quarta-feira a domingo, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às
17h30. O Monumento encerra aos feriados.