Estação de Comboios
O Comboio pisou pela primeira vez as terras de Guimarães no ano de
1884, 1 de Janeiro.
Seguidamente fica um pequeno texto redigido por um dos tripulantes
dessa primeira expedição do comboio:
Cerca das 7 e meia horas
da manhã, partia da estação do Pinheiro o comboio do Minho; numa
carruagem salão, que o digníssimo engenheiro sr. Justino Teixeira
obsequiosamente pusera à disposição da imprensa, iam, além dos
representantes desta, os outros indivíduos convidados pela direcção
do caminho-de-ferro de Guimarães, e vários membros da mesma
direcção.
O comboio seguia, açodado, extenso, como uma enorme serpente
em fuga. Atingida a estação da Trofa, chegava se ao ponto de
partida da linha de Guimarães. Lá estava em longa fila o comboio
destinado à inauguração. O aspecto dos wagons impressionou-nos de
um modo agradabilíssimo. São pequenos, – pouco maiores que os
da linha da Póvoa, – graciosos, cheios de elegância e de
conforto, e sólidos. Apresentam algumas inovações, – nos
fechos das portinholas, por exemplo, que, por um engenhoso
maquinismo, não se não abrem do lado interno, mas ainda, conforme
se ache ou não colhida a lingueta, descobrem nas duas faces a
respectiva inscrição indicadora. Deste modo se obsta aos sinistros,
que não raro sucedem nos outros comboios em consequência do
inesperado escancaro abrupto das portinholas.
A locomotiva deste comboio ia também, como a do anterior,
garridamente enfeitada. E o apeadeiro de Lousado, aonde se chegou
às 9 horas, o primeiro ponto de pousio. Dali em breve abalou o
comboio para ir parar na estação imediata – Santo
Tirso
Estava em festa a vila de Santo Tirso. Foguetes estalavam,
rompendo, violentamente os acordes da música do Visconde de S.
Bento. Era grande a concorrência e povo, que, tanto à chegada como
à saída do Comboio, prorrompeu em vivas saudações. A filarmónica
entrou para um dos wagons, e o comboio, aos sons da música, seguiu
a sua rota. Cerca das 9 e meia quedava-se na estação de
Negrelos.
Foi perto das 10 horas que se entrou em Vizela, cuja estação,
da mesma forma que as outras, se não acha ainda concluída.
Havia ali duas filarmónicas tocando, havia arcos, bandeiras,
alas de festões do que pendiam balões venezianos, destinados à
festa que ia à noite celebrar a inauguração da linha. Os foguetes e
as aclamações eram imensos.
Toda a Vizela irradiava em festa. No hotel Cruzeiro do Sul
foi oferecido aos convidados um magnífico lunch, em que reinou
cordialidade mais completa, o qual foi de 42 talheres, principiando
11 e meia horas e terminando perto das 2 e meia. Durante ele, locou
junto do hotel uma banda de música.
Até aqui a “Actualidade”. Agora, o mais que
podemos saber.
Desta cidade foi a Vizela uma espantosíssima concorrência de
gente de todas as classes e condições, incluindo muitas senhoras,
assistir à brilhante festa com que aquela povoação saudou o advento
de tamanho melhoramento.
À noite houve ali uma brilhante iluminação, com numerosíssimo
fogo do ar e música, durando esta simpática festa até cerca das 11
horas.
Fonte: Religião e Pátria, n.º 3, 35.ª série, Guimarães,
quarta-feira, 2 de Janeiro de 1884.