UM POETA JUNTO AO MAR
Um poeta foi-se sentar à beira-mar,
E entregou-se à emoção de uma ilusão que acalentava…
Queria falar com a sereia que vinha brincar na areia.
Sabia que só ela, tão pura e singela,
Ouviria seus ais e tudo o mais
Sobre o seu cais de ser pessoa
E andar à toa, sem destino, desde menino.
Chegou de manhãzinha.
Abriu uma sombrinha,
Mas para ser aurora, esperou mais de uma hora.
Porém, o Sol aparecer, não quis e ele sentiu-se infeliz
Porque a chuva veio e ele teve receio
Que a sereia, com medo, não viesse pró seu rochedo.
Olhou tudo à sua volta e sentiu uma revolta sangrenta.
A manhã surgia lenta, sem que no seu horizonte,
Houvesse uma ponte que o levasse,
Que o guiasse, até à margem dessa miragem,
Do Sol que esconde, ninguém sabe onde,
Uma sereia que se penteia.
E o poeta fica doente e reza igual a humilde crente.
(Poeta não mente, apenas tem anseios
E desconhece os meios para se purificar da mística lunar.
Poeta não é caso insólito.
Ele tem fé no oculto e desejos de amor
Na dor que esconde, nos recônditos de sua mente!)
Em delírio, colhe uma alga e vê um lírio, branco de
espuma…
Vem uma onda...outra...mais uma
Em simples variações doutras tantas ilusões…
O dia sobe. O Sol desce ao seu coração,
Onde acontece a sua paixão.
Beija, o poeta, a sereia, sem ser noite de lua-cheia
E deixa-se encantar para ela o levar
No seu abraço, pró seu regaço
Uma cena de amor. Mil pétalas, uma só flor,
Num sonho a girar, junto ao mar.
O dia anoitece no beijo. A noite aparece e vejo
Um poeta velhinho a caminhar plos caminhos da infância.
Com a ânsia de quem adormeceu e não sabe o que aconteceu.
Um poeta...Essência humana!
Um poeta...Consciência desumana!
Ênfase! Êxtase!
Um poeta a oscular
Junto ao mar!
Maria da Conceição P. Dzebic
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