As Fontes
As fontes povoam os lugares e o imaginário colectivo. A água que
brota da terra, para além de uma riqueza natural, é sempre um
espectáculo agradável ao olhar. Muitas fontes são investidas de
poderes quase mágicos, acreditando-se que as suas águas são
benfazejas para diversos males do corpo ou da alma...
... Da fonte de telha e da fonte de cortiço até às grandes
construções que enquadram outras nascentes, a variedade não poderia
ser maior. Fontes, fontanários, chafarizes e lavadouros são marcas
que ponteiam os espaços públicos e a vida comunitária. Fazem parte
da nossa vida, mesmo quando nos parece que já não precisamos
deles.
A Fonte
A fonte é quase um lugar mágico, um espaço mítico. Todas as
fontes e mais ainda a fonte inserida no tecido urbano da
aldeia.
A fonte mantém na aldeia, um lugar de centralidade, de
referência, de prestígio. Fica no adro, fica no largo que não
raramente se torna o Lugar da Fonte.
É um lugar de retorno obrigatório em cada dia. De manhã e ao fim
da tarde. Cada terra capricha na ornamentação da sua fonte que é
uma espécie de "sala de visitas" pública onde as mulheres, enquanto
as bilhas enchem, desenferrujam a língua, os namorados têm desculpa
para um rápido encontro “ocasional”. É um lugar de um tempo medido
pelo cair da água que por sua vez a estação governa. É lugar de
confidência. Lugar de notícia.
Os lavadouros são outro local de bisbilhotice por onde passam as
novidades de tudo o que acontece. As lavadeiras fazem a barrela,
batendo a roupa branca na pedra, torcendo-a à mão peça por peça e
estendendo-a até corar!
O bebedouro dos animais
No tanque para onde a água se despeja bebem os animais que
passam para o trabalho. O gado da aldeia inteira. E as águas que
sobram pertencem ainda à comunidade mesmo que se percam num rego de
Inverno. É também lugar proibido na noite…
Morfologicamente as primeiras fontes começaram por ser o tanque
que se enchia com a água da nascente, protegido por uma parede e um
chão de lages para manter a limpidez foi mais tarde coberto de
abóbada mais ingénua ou mais elaborada. Existem algumas destas
fontes, ditas de mergulho ou de chafurdo, cuja gramática
construtiva se situa num tempo longo que irá da idade média ao
século XVIII.
Muitas continuam abundantes de águas que se perdem nos campos, e
nem todas mereceram hoje a atenção que deve dar-se aos velhos
monumentos que documentam o modo de viver dos homens das gerações
precedentes.
Há um outro grupo de fontes mais recentes, dos séculos XVIII e
XIX, menos obedientes a uma gramática construtiva e fontes erguidas
no século XX. Os anos 80 marcam um último interesse pela construção
de fontanários de limitadas dimensões quando se generalizava já o
abastecimento domiciliário de águas a toda a comunidade.
Vista Geral
Nas proximidades deste local pode também observar-se um sector
do Aqueduto da Granja do Marquês. Este aqueduto tem origem no local
de Morelena e abastece a Quinta da Granja do Marquês, actual Base
Aérea n° 1. Desenvolve-se no sentido NE/SO numa extensão total de
1900 metros (1500 m à superfície e 400 m em subterrâneo). O troço
mais extenso é composto por arcos em asa de cesto assentes sobre
pilares de secção rectangular. A edificação desta estrutura
hidráulica encontra-se associada à campanha de melhoramentos
realizada, em 1770, na Quinta da Granja do Marquês, pelo Marquês de
Pombal que herda a propriedade por falecimento de Paulo de Carvalho
e Mendonça, inquisidor geral, secretário e vedor da Fazenda da Casa
e do estado da rainha D. Mariana Vitória.