PATRÃO JOAQUIM LOPES
Herói entre
Heróis
Embora não seja um daqueles
heróis mundialmente conhecido, não deixa de ser um grande herói, um
dos maiores que Portugal já teve. A sua coragem no salvamento de
náufragos levou ao reconhecimento nacional e internacional daquele
que foi o grande salvador de muitas vidas na barra do
Tejo.
Nasceu a 19 de Agosto de
1798, no Algarve. Desde muito novo teve de conhecer as suas
amarguras da vida. Em 1808 rumou à carreira do mar sob a orientação
de seu pai. Com apenas 10 anos já o nosso herói saltava do barco,
ferrava as velas, trepava os mastros, estendia as redes, quando os
seus amigos ainda brincavam na rua, sob o olhar atento das
mães.
Com 22 anos, estando a
residir em Paço de Arcos, porque a pesca no Algarve era pouco
lucrativa, Joaquim Lopes desde cedo se notabilizou. Foi-lhe
proposto, em sinal de reconhecimento pelo mérito profissional, o
lugar de remador da falua do Bugio. Tinha tanto de simplicidade
como de habilidade. Cedo se mostrou como o mais conhecedor dos
cachopos da foz do Tejo. Estava sempre disposto a mergulhar na água
a as vezes que fossem necessárias até trazer para terra firme todos
os que necessitavam do seu auxílio. E quando se via aflito, não
hesitava em pedir ajuda a Santo António a quem era muito devoto e,
caso o Santo não lhe fizesse as vontades, castigava-o,
mergulhando-o no rio. E esta determinação foi necessária na altura
do seu primeiro salvamento. Decorria o ano de 1823 e um camponês
com o seu filho aos ombros, resolveu atravessar no vau, o rio que
ainda vinha forte. De repente o desgraçado camponês perde o pé e,
na aflição abandona a criança e ambos rumaram rio abaixo agitando
os braços numa verdadeira agonia. A multidão gritava mas, não se
atrevia a dar-lhes auxílio, pois temia o rio feroz. No meio da
confusão que, sempre surge nestas alturas, um homem lança-se à água
e mergulhando várias vezes sem conta salva a criança; levando-a
para a praia e voltando às águas, salva a segunda vítima que
entretanto, já perdera os sentidos. O homem salvador, assim que
chega a terra é levado em ombros ouvindo o seu nome sair da boca da
multidão com apreço: “Joaquim Lopes, Joaquim Lopes, Joaquim Lopes,
Joaquim Lopes...”. É o início de uma vida cheia de sucesso na arte
em que ele é supremo - resgatando náufragos. Entretanto morre o
antigo patrão da falua do Bugio e o lugar cabia, como era costume,
ao mais antigo dos remadores mas, desfazendo um acordo de anos,
todos de comum acordo resolveram ceder o lugar ao mais hábil e mais
digno e, como tal, escolheram o Joaquim Lopes apesar de ser o mais
novo. Assim, de Joaquim Lopes passou a Patrão Lopes, nunca perdendo
a simpatia e a humildade que lhe era
característica.
A 16 de Fevereiro de 1856, a
escuna inglesa “Howard Primrose”, abalada por um terrível temporal,
encalha. Joaquim Lopes efectua um salvamento arrojado e temerário
da tripulação do navio. Com este feito, recebe a primeira
condecoração, a medalha de prata da Rainha Vitória concedida pelo
governo inglês. E foi a primeira de onze condecorações que teve ao
longo da sua vida. E nunca o peito de medalhas o tornará menos
humilde. O brilho que dele emanava não era do ouro ou prata
pendurada mas, sim do seu olhar atento e isento de vaidade. Com uma
vivência difícil, onde tinha muitas bocas para alimentar, Patrão
Lopes quando recebia dinheiro pelos seus salvamentos, nunca ficava
com ele, fazendo-o repartir pelos seus camaradas mais pobres. As
surpresas na sua vida eram uma constante. Quando, em Fevereiro de
1862, Patrão Lopes e seus companheiros salvam toda a tripulação do
iate “Almirante” que ficara, com o temporal, completamente
despedaçado, o rei D. Luís foi à sua humilde casa, felicitá-lo pelo
salvamento. Demorou-se uma tarde inteira. El-rei ficou encantado
com a conversa tida e convida o nosso herói a visitá-lo no seu Paço
de Caxias. Na despedida, o rei D. Luís ofereceu o colar da “Torre e
Espada, de Valor, Lealdade e Mérito”.
Uma
vida a salvar pessoas. Quando um dia, lhe perguntaram quantas
pessoas tinha salvado, a resposta não poderia surgir mais incisiva:
“Até trezentas contei mas, depois não fiz mais caso de seguir a
contagem!...”
A idade
não perdoou e, a doença foi-lhe entrando pelas pernas, deixando-o
cheio de dificuldades. Andar já lhe era custoso e, andar sobre as
ondas era um verdadeiro sacrifício físico. Mas continuou a dirigir
tudo quanto respeitava à actividade do seu salva-vidas. E assim
ficava dias inteiros em frente à sua casa, de óculo em punho,
observando o mar para que ninguém passasse despercebido em caso de
perigo.
E numa
madrugada como outra qualquer, o mar enfureceu-se, a lua
escondeu-se e à uma e meia faleceu Patrão Lopes. Estávamos em 21 de
Dezembro de 1890. Paço de Arcos ficou de luto, o comércio fechou e
as lágrimas aumentaram o leito do rio. Foram muitos os que
prestaram última homenagem ao homem que se deitou ao mar pequenino
e só de lá saiu em grande.
In “O
Patrão Lopes...” de Rogério de Oliveira Gonçalves.
You
have all you need to find this cache: coordinates and the
hint.
English version about the history of this heroe will be available
soon (translation in progress).