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ntre 1871 e 1875,
o Chalet, como é conhecido na Golegã, foi edificado por iniciativa
do abastado lavrador Carlos Relvas.
A
Casa-Estúdio apresenta características únicas a nível
mundial, como singular é o facto de ter sido construída de
raiz, como monumento aos precursores da fotografia e com o
objectivo exclusivo de acolher um laboratório e estúdio
dedicados especificamente ao desenvolvimento de uma arte e
que propiciaram a Relvas um local de excelência para a
revelação dos seus negativos e ensaio dos novos métodos
daquela disciplina simultaneamente científica e
tecnológica.
No
meio de um jardim romântico, com algumas interessantes
espécies arbóreas e arbustivas, a Casa-Estúdio é um monumento
expressivo da arquitectura do ferro (33 toneladas!) e do
revivalismo de estilos, como o gótico e o mourisco, que
marcaram a época, como é evidenciado pelo preciosismo
decorativo e simbólico, emprestado à construção.
O
conjunto parece ter sido inspirado no modelo de um templo
cristão. A fachada principal virada a poente, ladeada de
dois
“baptistérios”,
ostenta um pórtico decorado com um baixo relevo representando
um cavalo marinho, tendo por cima um janelão-varanda rodeado
pelos bustos de Niépce e Daguerre, encimado por um
interessante óculo-rosácea, onde se juntam as alas laterais
que exaltam anjos segurando câmaras fotográficas.
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Na nave
superior, de cobertura e paredes envidraçadas, entre ferros
trabalhados de forma exímia, encontra-se o esplendoroso Estúdio
onde a entrada de luz natural se regula através de panos brancos
controladas por mecanismos de fios e
roldanas.
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Inserida na
lezíria ribatejana, no coração de Portugal, a Golegã remonta aos
princípios da nacionalidade, estabelecendo-se os primórdios do seu
desenvolvimento na Idade Média. Relvas imortalizou, a Golegã
tornou-se também notável pela criação cavalar que motivou desde o
séc. XVI um acontecimento anual, a Feira de S. Martinho, hoje
também Feira Nacional do Cavalo, evento reconhecido a nível
internacional.
A
Vila com uma topologia de burgo medieval, no seu centro, donde
irradiam ruas, vielas e travessas, viu ser erigida nos finais do
séc. XV, inícios do séc. XVI, a Igreja de Nossa
Senhora da
Conceição, templo majestoso, monumento nacional , ex-libris
do manuelino rural, característico do período áureo
dos
Descobrimentos
Portugueses.
Do seu
Estúdio, o anfitrião Carlos Relvas e os seus convidados podiam
avistar a monumental matriz, bem como a vasta e emblemática
planície agrícola, rasgada pela então Estrada Real que unia Lisboa
ao Porto e que constituiu um dos factores de
desenvolvimento
e progresso da Golegã do séc. XIX.
Com o
lavrador, cavaleiro e criador de cavalos, músico e inventor Carlos
Relvas, uma das personalidades, incontestavelmente mais ilustre e
multifacetada da sua época,
em Portugal e
na Europa, a Golegã, onde veio a falecer em 1894, passou também a
figurar na história da fotografia, pela arte e pelo engenho daquele
ilustre e cosmopolita filho, seu “príncipe” e
embaixador.
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Nesta
galeria, diante de mecanismos e acessórios fotográficos do séc.
XIX, tendo como cenário telões pintados de paisagens
virtuais,
posaram reis e outras figuras ilustres, assim como rurais e
mendigos, cujas imagens registadas por Relvas, de grande valor estético, social e
etnográfico, mereceram grandes prémios internacionais e nos
permitem hoje conhecer melhor a vida quotidiana das comunidades
portuguesa e europeia, assim como as suas paisagens naturais, os
animais, os monumentos e objectos artísticos.
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