Joaquim Gonçalves Ledo nasceu em 1781 e, assim como muitos de sua geração, logo aos 14 anos rumou para Portugal, a fim de cursar direito na Universidade de Coimbra. No velho continente, fascinou-se com os ideais revolucionários da República francesa e se aproximou do universo da maçonaria – que, naquele período, representava um importante centro de formação e difusão do espírito público. De volta ao Brasil às pressas por conta morte do pai, em 1808, não teve condições de concluir o curso em Coimbra. Contudo, trouxe uma bagagem abarrotada de concepções renovadas sobre o bem comum e uma dose de inquietação política.
Tido como um “liberal exaltado”, no campo da causa brasileira da Independência, Joaquim Gonçalves Ledo representava uma elite “brasílica”, da terra, patriótica e separatista, em contraposição a uma elite mais alinhada aos interesses de um império luso-brasileiro, que de certa forma mantinha relações com as Cortes de Portugal.
Foi dessa condição que Gonçalves Ledo se tornou a principal liderança intelectual de uma corrente política de oposição ao projeto centralizador de José Bonifácio. A disputa ganhou contornos definidos, a partir da fundação de lojas maçônicas para cada um dos grupos rivais – “Grande Oriente do Brasil” e “Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”– e terminou escancarada de forma trágica quando, em novembro de 1822, Gonçalves Ledo foi acusado por José Bonifácio de conspiração e republicanismo. Teve fechados seu jornal e loja maçônica, foi ameaçado de morte e acabou tendo que fugir para Buenos Aires – numa operação arriscada, em que teve que se disfarçar de mulher e, depois, de frade. O episódio estremeceu ainda mais as relações entre D. Pedro I e Bonifácio. Mas o fato é que Gonçalves Ledo só retornou ao Brasil em novembro de 1823, após ser absolvido pelo Tribunal de Relações do Rio de Janeiro.