Mariano encostou o carro, saiu e olhou em volta.
Sim, era ali. Ao seu lado esquerdo lá estava, bem em cima do monte, o velho moinho.
Soube que ainda lá estava por uma internauta com quem se cruzara na net e que lhe disse que morava perto, a Maria Ana, e que sabia a lenda desse moinho.
Aquele moinho estava encantado desde que ali vivera um rapaz muito jovem com a sua amada. Ali desfrutaram de um pedaço do paraíso que só o amor dos jovens sabe construir a partir do nada exterior.
Um dia chegou ao moinho e não a encontrou. Depois disso também ele nunca mais foi visto por ali.
Dizem que à noite se ouvem passos em volta do moinho. E que enquanto estes jovens ali não voltarem o encanto não será quebrado.
Agora o moinho ali estava na sua frente! Pegou no cabaz e subiu vagarosamente pelo carreiro que tão bem conhecia.
O sol estava a declinar rapidamente e o ar estava seco e frio. Já perto parou e pousou o cabaz para descansar. Olhou fixamente a entrada do moinho. Do lado direito parecia-lhe ver uma árvore, sim era uma árvore!
Os seus pés continuaram a andar e a bobine da sua memória passava-lhe um filme do passado. Fixou a cena daquele fim de tarde em que abrira uma cova funda e plantara uma árvore que Maria Ana regara com carinho.
Quantos sonhos! Quantas esperanças de eternizar a felicidade! Apressou-se a chegar lá. Pousou o cabaz e olhou em volta. Sentiu-se outra vez, como antigamente, dono do espaço, dono do tempo, dono do amor, dono de toda a sua vida. Saboreou esta sensação de liberdade total de olhos fechados e com o pensamento parado, só concentrado naquele idílio antigo.
Enquanto deixava correr as lágrimas fez as pazes consigo e com o universo. Viveria este momento presente apenas. Devagar aproximou-se da porta do moinho e olhou para dentro.
Uma grande estrela verde e dourada brilhava na parede frontal. Três vultos sentados ao redor do lume que a semi-obscuridade mal deixava decifrar. Eram três mulheres. Permaneceu imóvel observando. Não falavam. Adiantou-se um pouco. Uma delas levantou-se e foi ao seu encontro. - Sabia que virias. Deu-lhe a mão, levou-o até ao berço que uma das mulheres embalava e disse: - O nosso menino! Nosso menino três vezes.
Comiam ainda a ceia da consoada quando os sinos quebraram o silêncio a chamar para a missa do galo.
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